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Rapioqueiro Manuel Serra d’Aire

Para quem, como eu, abomina os domingos e vitupera as segundas-feiras, há poucas coisas menos entusiasmantes do que apanhar com uma passagem de ano que envolva esses dois dias. Para mim, o revéillon deste ano teve aquele sabor a frete da visita à tia velhota da nossa infância, que cheirava a naftalina e nos lambuzava de beijos. Foi uma obrigação que teve de se cumprir, emborcando o champanhe e as passas da praxe já a pensar na semana de trabalho que vinha pela frente.
Se este fosse um mundo perfeito, as passagens de ano eram sempre à sexta-feira, como a Sexta-Feira Santa, esse sim um feriado com ideias bem assentes, que não anda a saltitar por todos os dias da semana como uma barata tonta. Celebrar a consoada ou a passagem de ano num domingo à noite, após um fim-de-semana em que não se fez outra coisa do que celebrar por antecipação essas datas com comezainas e bebezainas com familiares e amigos, é uma pena dura para o físico e um desperdício de recursos. Quando um tipo está mortinho para calçar as pantufas e espojar-se no sofá a ver uns filmes na TV aparecem as travessas de bacalhau com couves ou o marisco e as garrafas de champanhe. E tudo isto envolvido pela algazarra própria das grandes ocasiões. É demais!! Venha agora o cinzento Janeiro para ver se há descanso…
O ambientalista e guarda prisional Arlindo Marques, abnegado defensor do Tejo e de outras linhas de água, recebeu como prenda de Natal um processo movido por uma empresa de celulose que lhe pede uns milhares largos de euros de indemnização por, alegadamente, ter sido posto em causa o seu (dela, empresa) bom nome. Embora, na minha opinião, Celtejo não seja propriamente um grande nome. José Augusto ou Manuel António sim, são bons nomes, puros, tradicionais, viris, que dá gosto ostentar na lapela ou na caderneta militar, mas enfim, gostos são gostos…
A empresa diz que as acusações de poluição que lhe são imputadas são falsas e que o guarda ao fazer determinadas considerações na Internet propagou calúnias. Embora, se procurarmos na mesma Internet, é fácil verificar que a empresa na última década foi referenciada e processada pelas autoridades como responsável por descargas poluentes. Mas isso, obviamente, não interessa nada, como diria uma popular apresentadora televisiva. Uma coisa é certa, se a tal papeleira de Vila Velha de Ródão tiver sucesso neste processo pode ter descoberto um novo filão de negócio. É que 250 mil euros de indemnização é muito ‘papel’, mesmo para quem se dedica ao fabrico do mesmo.
Aliás, esta história do bom-nome tem sido argumento para muito boa gente demasiado sensível e que se tem em grande conta, que ajuda a entupir os tribunais com queixinhas hilariantes por alegados atentados ao seu bom-nome. Na maior parte dos casos são figuras públicas, muitas vezes a exercer cargos públicos, pagas pelo erário público, com uma pele muito sensível que fica irritada à primeira crítica. Há gente assim, que até se abespinha com quem escreve sobre a sua indumentária, nomeadamente no que toca ao uso de suspensórios, e faz disso queixa em tribunal. Enfim, imarcescível Manuel Serra d’Aire, há que dar graças pela existência destes nossos semelhantes a quem está destinado por direito divino o reino dos céus. Porque se não fossem eles, íamos escrever sobre quê?
Um abraço e um bom 2018 do
Serafim das Neves

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