Burla no arrendamento de um T3 já fez duas dezenas de vítimas
A PSP já recebeu várias queixas de pessoas que ficaram sem dinheiro e sem apartamento. Uma ex-mediadora imobiliária da REMAX anda a pôr em estado de sítio dezenas de pessoas que moram na Póvoa de Santa Iria. As acusações de burla já deram entrada na PSP.
Pelo menos 15 pessoas dizem-se vítimas de burla com o arrendamento da mesma casa, na Avenida D. Vicente Afonso Valente, na Póvoa de Santa Iria, onde vive a suspeita, que já foi mediadora imobiliária. A maioria das pessoas diz que deu 700 euros (duas rendas) para ficar com o apartamento T3, que por sinal está arrendado à suposta burlona, contra a qual correm já várias queixas na PSP. O MIRANTE conseguiu falar com a visada, que entretanto não tem sido vista, tendo esta dito que está a ser vítima de calúnias e que vai processar toda a gente que anda a dizer mal dela.
As situações começaram em Novembro do ano passado. A suspeita assinou vários contratos de arrendamento com várias pessoas mas não entregou a habitação. Inicialmente dizia que precisava de uns dias para fazer uns arranjos no apartamento. Há mesmo uma pessoa que perdeu já cinco mil euros que tinha dado de sinal para a compra da habitação, que nem sequer é da suspeita. Contactada a PSP, esta veio dizer que não existiam queixas sobre o assunto, mas após ter sido confrontada com a cópia de uma queixa apresentada por uma vítima, a Divisão Policial de Vila Franca de Xira deu o dito por não dito e confirmou que afinal havia quatro processos a decorrer.
A burla começou na rede social Facebook onde algumas pessoas colocavam mensagens a dizer que procuravam casa para arrendar. O preço era bastante acessível, já que nesta zona, às portas de Lisboa, é quase impossível encontrar um T3 a 350 euros por mês. A suspeita, de nome Alexandra, contactava os interessados e em alguns casos identificava-se como vendedora da REMAX. Alexandra chegou a trabalhar para a imobiliária mas, segundo O MIRANTE confirmou junto da empresa, foi dispensada em Outubro de 2016 “por má conduta e falta de ética”. A imobiliária já pôs os seus advogados a tratar do assunto e diz que está solidária com as vítimas do esquema.
Um dos lesados, Paulo Pinhão, que aceitou falar a O MIRANTE, conta que chegou a questionar aquela que pensava ser a sua futura senhoria sobre o preço tão baixo de renda, tendo obtido como resposta que preferia receber menos e ser certo, do que cobrar mais e não receber os pagamentos. Algumas das vítimas transferiram o dinheiro para uma conta bancária e outras, como no caso de Paulo Pinhão, o valor foi pago em dinheiro. Joana Pereira, outra das lesadas, conta a O MIRANTE que está a lutar pela guarda do filho e que precisa de ter uma casa uma vez que vive com avós. “Perdi mais de mil euros, vou ter de procurar outra casa e vejo tudo o que tinha conquistado a desvanecer. É demasiado triste”, desabafa.
Nos vários contratos e recibos que emitiu, Alexandra Santos utilizou números de contribuinte diferentes. A esperança em reaver o dinheiro é mínima mas Paulo Pinhão promete não atirar a toalha ao chão. “Esta luta só irá parar quando ela for condenada. Para quem ganha o ordenado mínimo, estar a tirar-me 370 euros é como estarem a tirar a comida da boca do meu filho”. Ornela Pinto foi quem deu o primeiro “alerta” de burla no Facebook. “Dei-lhe cinco mil euros em mão na casa dela. Quando reparei que tinha sido burlada contactei-a e avisei que se não me desse o dinheiro de volta expunha-a no Facebook. Como deixou de me responder fiz o que tinha prometido. Aproveitou-se de sermos “ciganos” e não sabermos tratar da documentação”, sublinha.
Também há burlas com contratos de televisão
Marta Monteiro, de 42 anos, da Póvoa de Santa Iria, garante a O MIRANTE que também foi enganada pela antiga vendedora imobiliária, com empréstimos de dinheiro. “Comecei por emprestar-lhe dinheiro porque a filha dela era amiga da minha filha. Ela costumava dizer que não tinha o cartão de cidadão e então pedia-me para ir levantar os cheques do marido porque era do BPI e eu tinha conta nesse banco. Todos os meses emprestava-lhe dinheiro e pagava-me sempre, até ser enganada.
Em 2016, Marta foi trabalhar para a Suíça e antes de regressar, pediu à filha para fazer um contrato com a Vodafone para o serviço de televisão por cabo. Nessa altura foi informada pela operadora que tinha uma dívida de 937 euros. A vítima suspeita que a alegada burlona se apoderou do seu cartão do cidadão, que tinha desparecido, e fez os contratos com os dados dela.