Sagaz Serafim das Neves
Há amigos nossos, daqueles que se encanzinam de cada vez que alguém não fecha a torneira quando está a escovar os dentes ou deita um papel de rebuçado para o chão, que ficaram doentes quando leram que a presidente da Associação Empresarial de Santarém, NERSANT, Salomé Rafael, emitiu um comunicado a atacar a Câmara de Torres Novas por esta ter apoiado a solução de encerrar uma empresa que anda há meses e meses a ser acusada de poluir uma ribeirita qualquer daquele concelho.
Já telefonei a alguns para ver se os acalmo e se lhes meto na cabeça, de uma vez por todas, que cada organização tem os seus objectivos e que é preciso saber distinguir e aceitar que uma associação empresarial não foi fundada para defender causas ambientais como o fim da poluição de um curso de água que em certas alturas do ano nem água tem.
Há algumas confusões em Portugal que é preciso esclarecer para evitar azias, paragens de digestão e até úlceras. Como é que há ingénuos que acreditam que os sindicatos dos professores, por exemplo, foram fundados para defender os interesses dos alunos ou dos pais dos alunos ou mesmo o ensino em geral? É incrível!
Como o nome indica esses sindicatos foram formados para defender os professores. E quando digo professores, refiro-me a todos os professores, sem excepção! Se não fosse assim havia os sindicatos dos bons professores, os sindicatos dos maus professores, os sindicatos dos professores que não podem ser professores por estarem no sindicato e os sindicatos dos professores, assim, assim. Quem quer defender alunos forma associações de alunos. Quem quer defender o ensino, forma comissões contra o aumento dos idiotas e dos utilizadores de redes sociais em geral, por exemplo.
A dona Salomé Rafael, ao defender os interesses da tal empresa, provou que é uma excelente presidente da associação empresarial. Se lhe desse para defender o fim da poluição, corria o risco dos associados a despacharem para a QUERCUS, ou para outra organização ambientalista qualquer.
Alguém acredita que os ferroviários quando fazem greve estão preocupados com os milhares de cidadãos que ficam com a vida toda lixada por causa disso? Ou que os enfermeiros que aderem a uma paralisação ficam a pensar nos doentes? Ou se uns e outros se fartam de fazer contas para saber se o Estado tem dinheiro para lhes dar tudo o que eles querem? Espero bem que não, porque se o fizerem arriscam-se a ficar com azia e dores de cabeça e já não podem gozar o feriado prolongado que as greves às sextas-feiras sempre permitem.
Eu, por exemplo, quando vou a uma repartição pública e me calha ser atendido por um burgesso, tento sempre não me irritar e considerar a coisa normal. Primeiro, porque se me irritar o tipo ainda fica mais burgesso e isso é pior para mim e segundo, porque se eu estivesse no lugar dele e soubesse, como ele sabe, que não pode ser despedido por mais merda que faça e que na avaliação de desempenho para a subir na carreira tem sempre a mesma nota dos restantes colegas que não são idiotas, se calhar fazia o mesmo.
Reparei que em Abrantes, depois dos incêndios do Verão passado, a câmara municipal tem votado, ao contrário do que fazia antes, contra a plantação ou replantação de eucaliptos em determinadas áreas do concelho. É verdade que as propostas vêm do Instituto das Florestas com uma indicação de voto e discordar dá muito trabalho mas é sempre interessante constatar estas coisas para sabermos que a tradição ainda é o que era.
Depois de casa roubada, trancas na porta, diz o povo com razão. Depois dos braseiros que houve por aqueles lados nada de permitir eucaliptos a torto e a direito. O antigo vereador da CDU no executivo municipal, Avelino Manata, bem pode vir agora dizer que sempre votou contra os eucaliptos mas isso não lhe dá automaticamente razão. É que, na altura, plantar mais ou menos eucaliptos era indiferente uma vez que não tinha havido fogos de grandes dimensões mas apenas incêndios minorcas. Agora é que não! É a vida, como diria o agora Secretário Geral da ONU na altura em que ainda mandava cá no pântano, como ele gostava de dizer.
Saudações despoluídas
Manuel Serra d’Aire