No Mercado de Salvaterra de Magos acredita-se no futuro do comércio tradicional
Carmina Moço e Tânia Pereira representam gerações diferentes de vendedoras
No Mercado de Salvaterra ainda há esperança de o comércio tradicional não sucumbir à atractividade das grandes superfícies. O espaço onde se encontra o mercado é recente. As paredes estão revestidas de azulejos laranjas e as bancas são feitas de mármore claro, criando um espaço acolhedor, leve e mais actual. Naquele local sente-se a alegria e amizade dos vendedores, que quando olham para o vendedor da banca ao lado não o vêem como um concorrente, mas sim como um amigo. Neste mercado há afectos.
Uma das bancas que está à entrada do mercado é de Carmina Moço, de 75 anos, que expõe orgulhosamente na sua banca todas as frutas e legumes que colheu da sua horta no dia anterior e os ovos que recolheu de manhã na capoeira. Carmina é vendedora há cerca de 40 anos. Natural dos Foros de Salvaterra, começou por vender no antigo mercado municipal e foi uma das primeiras a mudar-se para o novo espaço há quase 12 anos.
Carmina casou aos 20 anos de idade e quando o marido, António Oleiros, foi prestar serviço militar, percebeu que tinha de encontrar uma ocupação que lhe permitisse sustentar a casa e os dois filhos. “Os meus filhos eram pequenos e a minha sogra só podia ficar com eles até ao meio-dia”, explica. Pegou em alguns produtos da sua horta e tentou a sua sorte como vendedora. Quando o marido regressou, continuou a dedicar os seus dias ao mercado municipal, onde vende exclusivamente cinco dias por semana, descansado apenas ao domingo e à segunda-feira.
Adora trabalhar naquele mercado, principalmente por poder conviver com as suas clientes, muita delas de longa data, a quem chama de amigas. A maioria dos seus clientes são idosos. “Os novos preferem as grandes superfícies”, diz, mas acredita que ainda sobrevivem tantas bancas naquele espaço, principalmente de produtos hortícolas e frutas porque os clientes procurarem, procuram cada vez mais os produtos frescos. “Os clientes sabem que os produtos são nossos, sabem de onde vêm, e por isso têm mais confiança naquilo que estão a comprar”. É normal vender fiado e as clientes pagarem quando recebem a reforma. Um benefício que, diz, ajuda a atrair mais pessoas para o comércio tradicional.
Carmina considera que a iniciativa Praça ComVida, da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, tem um papel fundamental na sobrevivência daquele mercado, pois tem atraído cada vez mais pessoas, principalmente os jovens. A iniciativa foi criada em 2014 e é composta por uma grande diversidade de actividades, como demonstrações de dança, apontamentos musicais, showcookings, entre outros“. A vendedora garante que nesses dias a praça fica cheia de pessoas, que depois de assistirem à iniciativa aproveitam para fazer as suas compras.
Duas gerações de vendedoras lado a lado
Ao lado da banca de Carmina Moço está a banca de frutas e legumes de Tânia Pereira, de 30 anos de idade, que também nasceu nos Foros de Salvaterra. Foi em 2013 que Tânia começou a vender por conta própria no Mercado de Salvaterra de Magos. Começou por ajudar a sua sogra com a banca, que já na altura vendia frutas e legumes. Há cerca de dez anos conheceu o seu marido, Luís Romão, de 32 anos. Vive em Benavente onde comprou casa por ser mais barata e diz que compensa fazer a viagem todos os dias para o mercado.
Tânia começou por trabalhar numa grande superfície comercial e quando ficou desempregada começou a ajudar a sogra no mercado e tomou o gosto pela profissão. Tânia vai buscar a fruta que vende ao Mercado da Castanheira, sendo que apenas parte dos produtos hortícolas são de produção própria. Esta vendedora faz questão de marcar presença no mercado todos os dias. “Adoro o que faço”, confessa, realçando que os seus avós paternos também tiveram uma banca de frutas e legumes no mercado vizinho de Benavente. Sempre gostou de criar laços de amizade com os clientes. Tânia acredita na sobrevivência do mercado tradicional, pois já não são só os mais idosos a preferir este tipo de comércio, salientando que alguns dos seus clientes deixaram de comprar nas grandes superfícies e preferem o mercado por saberem que os produtos são frescos e de confiança.