Escultura do Centenário das Aparições continua por pagar
Presidente da Câmara de Ourém reuniu com autor da peça, que continua à espera que lhe paguem pela obra instalada em Fátima em Maio de 2017 com a bênção da autarquia. Município não sabe como resolver a questão e pediu parecer jurídico. Alegado mecenas nunca se chegou à frente.
A Câmara de Ourém pediu um parecer jurídico para tomar uma decisão em relação à escultura, conhecida como “Coração de Fátima”, que foi instalada junto ao Posto de Turismo da cidade aquando da visita do Papa Francisco, em Maio do ano passado, e que ainda não foi paga.
O novo executivo PSD/CDS, que tomou posse em Outubro de 2017, reuniu com o autor da obra, Fernando Crespo, que alegou que o acordo estabelecido com o município não foi cumprido. A informação foi dada pelo actual presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque (PSD/CDS), na última sessão da assembleia municipal.
“É um processo muito complicado e o escultor não recebeu qualquer dinheiro pela obra até hoje. Alguém lhe terá dito que lhe arranjava um mecenas para financiar a escultura. O que é certo é que não há mecenas. Depois de ouvir o escultor, o município decidiu pedir um parecer jurídico porque existe um documento assinado em reunião de câmara em que diz que o escultor oferecia a peça”, afirmou Albuquerque.
Como O MIRANTE publicou na edição 19 Julho 2017, Fernando Crespo nunca imaginou que, quando fez em tempo recorde a escultura do maior coração do mundo, os elogios e o entusiasmo do presidente da Câmara de Ourém de então, Paulo Fonseca (PS), se transformassem numa dor de cabeça. O autor da peça, avaliada em meio milhão de euros, não só não recebeu pelo seu trabalho como está enredado numa teia de indefinições em que ninguém quer assumir os custos do fabrico da obra nem os trabalhos de instalação que rondaram os 25 mil euros.
Na altura, a Câmara de Ourém fez alarde da importância da peça mas depois de inaugurada pelo presidente da autarquia à época, Paulo Fonseca, desvinculou-se da situação mandando o escultor falar com uma empresa que iria financiar a obra, que entretanto passou o assunto para outra entidade. E até agora nem acordo nem dinheiro.
Paulo Fonseca rejeitou responsabilidades
O escultor esclareceu a O MIRANTE
que Paulo Fonseca lhe deu luz verde para avançar com a construção da peça escultórica, o que teve que fazer em praticamente metade do tempo que em circunstâncias normais demoraria.
Com a pressa de cumprir o calendário para a visita do Papa, a única coisa que está passada a escrito é uma proposta de acordo com a câmara, aprovada por unanimidade em reunião do executivo de 3 de Março de 2017. Na altura, o então vereador da oposição, Luís Albuquerque [actual presidente do município], levantou dúvidas quanto ao valor da peça e ao financiamento da mesma. A ideia era a empresa pagar a peça e ficar com os direitos de autor.
“A relação do município é exclusivamente com o escultor e não com essas empresas. O nosso acordo foi apenas com o escultor”, sublinhou então Paulo Fonseca. Mas Fernando Crespo disse a O MIRANTE, em Julho do ano passado, que foi Paulo Fonseca quem lhe apresentou os financiadores numa reunião em Lisboa e que no regresso foi de boleia com o presidente no carro deste.
A situação está a criar complicações a Fernando Crespo, já que tem despesas para liquidar com a empresa metalomecânica com quem costuma trabalhar e onde foi feita a peça, além dos custos de transporte para Fátima.