Nuno não se resigna à doença e continua a querer aproveitar a vida à sua maneira
Vive desde os três anos tolhido por uma doença incapacitante mas isso não o impediu de se licenciar em Ciência Política. Aos 31 anos, Nuno Vicente está a tirar o mestrado e já pensa no doutoramento. O objectivo é ser professor, diz o jovem que não gosta de ser visto como um exemplo.
Nuno Vicente tem 31 anos, é natural da aldeia de Casal de Além, concelho de Azambuja, e sofre de osteogénese imperfeita, também conhecida como doença dos ossos de vidro, que o atirou para um cadeira de rodas. Não sabe o que é viver sem esta doença rara desde os três anos de idade, altura em que se manifestou. As limitações impostas pela doença nunca o privaram de sonhar e apesar de levar à letra a máxima de viver um dia de cada vez, tem vários projectos que gostava de realizar. “Tenho como prioridade defender os mais fracos e as pessoas com limitações”, revela em conversa com O MIRANTE.
Nuno é licenciado em Ciência Política e está prestes a concluir o segundo ano do mestrado, também em Ciência Política, no ISCTE, e não pensa colocar já de lado os estudos. “Devo defender a tese em Julho ou Setembro, mas estou a pensar em tirar um doutoramento”, diz. Em tempos sonhou ser juiz, mas por décimas não conseguiu entrar na licenciatura em Direito e seguiu a área da política. Actualmente o desejo passa por dar aulas. “Gostava muito de ser professor. Gosto de Política e de Direito”, conta, revelando que gosta de cadeiras onde se possa reflectir sobre as desigualdades sociais.
Desde 1999, ano em que entrou para a escola, que assiste às aulas por videoconferência. Agora frequenta a universidade, mas a rotina continua a ser igual. Para escrever no computador, uma das suas paixões, utiliza um rato adaptado, mas admite que consegue “teclar” tão rápido como uma pessoa que utilize o teclado normal. As avaliações são feitas essencialmente através de trabalhos, mas ocasionalmente também faz frequências orais por videochamada. “Ligo o computador e abro dois ou três programas de videoconferência, para o caso do que estou a utilizar falhar. Depois os meus colegas e os professores conseguem ouvir-me e eu a eles. Funciona sempre tudo muito bem”, admite.
O companheirismo da mãe e o amor pelo Sporting
Nuno passa grande parte do dia no quarto, onde para além de estudar gosta de ver os jogos do Sporting e do Barcelona, os dois clubes do coração. “Não sou uma pessoa que estude muito. Adoro o Sporting e tenho o sonho de um dia conhecer o Rui Patrício e o William Carvalho”, revela de sorriso nos lábios.
Sobre o facto de ter seguido carreira académica apesar de ter uma doença rara, rejeita ser visto como um exemplo e prefere guardar os elogios para a mãe. “Não gosto muito de ser exemplo porque às vezes não temos todos as mesmas oportunidades e torna-se um bocadinho ingrato estarmos a falar de exemplos. Estive rodeado de alguns professores que me ajudaram neste caminho e existem pessoas que não têm essa sorte. A minha mãe é que trata de mim desde pequeno e ela, sim, é um verdadeiro exemplo de companheirismo”.
“Vou estar aqui para o apoiar sempre”
Maria Cecília, mãe de Nuno, está sempre presente em todos os momentos da vida do filho. De lágrimas no canto dos olhos, admitiu que o orgulho que sente por ele não lhe cabe dentro do peito. “Estou muito orgulhosa. Nunca pensei que conseguisse avançar e prosseguir desta forma”, afirmou.
Devido à doença, Nuno partia muitas vezes os ossos e passava longas temporadas no hospital. Maria Cecília olha para o filho como um exemplo de uma pessoa lutadora e com vontade de viver. “Acho que é um exemplo e que toda a gente devia ter as mesmas ajudas que ele teve. É inteligente, tem um bom coração e aproveita a vida à maneira dele. No que depender de mim vou estar aqui para o apoiar sempre”, concluiu.