Vila Franca de Xira acaba com calçada à portuguesa fora dos centros históricos
Novos materiais no mercado permitem melhor conforto e segurança aos peões. As típicas calçadas à portuguesa vão ficar reservadas apenas para os núcleos históricos e centrais das localidades do concelho de Vila Franca de Xira. As novas obras vão incluir outro tipo de pavimentos, menos derrapantes, mais fáceis de limpar, construir e manter.
O piso em calçada à portuguesa no concelho de Vila Franca de Xira tem os dias contados, à excepção das zonas históricas ou núcleos centrais das localidades onde ela já exista. A ideia foi avançada na última semana em reunião pública pelo presidente do município, Alberto Mesquita (PS).
O autarca diz gostar da calçada à portuguesa mas reconhece-lhe “um conjunto de problemas” que tornam a sua implantação e manutenção uma dor de cabeça. Já para não falar dos transtornos que causa à mobilidade dos cidadãos. Por isso, nos próximos tempos, as calçadas que venham a ser reparadas fora dos núcleos históricos serão provavelmente substituídas de forma gradual por outros pavimentos.
“Vamos com o tempo acabar com a calçada à portuguesa, ela ficará reservada apenas para as zonas nobres das cidades. Vamos tentar encontrar outros pisos antiderrapantes e mais seguros para as pessoas. As calçadas são muito bonitas mas são um grande problema, com pedras que se levantam e que facilmente geram buracos”, lamenta. A falta de calceteiros que as consigam manter é outro dos problemas para as câmaras e juntas de freguesia (ver caixa).
A maioria das juntas de freguesia do concelho vilafranquense recorre aos serviços de empresas para reparar problemas nas calçadas. João Santos, presidente da Junta de Vila Franca de Xira, admite que o problema da calçada “é sério” e merece um olhar e discussão. “Do ponto de vista funcional a calçada tem vantagens muito significativas, nomeadamente a drenagem e a infiltração das águas”, explica.
João Santos concorda com a ideia de Alberto Mesquita. “Temos muitas quedas em calçada, pessoas que escorregam, ela suja-se com muita facilidade e é difícil limpá-la. Mas é preciso que o material que se aplique em substituição da calçada possa garantir também bons níveis de infiltração”, avisa. Acima de tudo, diz o autarca, é preciso encontrar “um equilíbrio” entre os vários pavimentos.
Benavente muda e em Santarém nem pensar nisso
Carlos Coutinho (CDU), presidente da Câmara de Benavente, explica que no seu concelho o assunto é “pacífico” e não gera controvérsia. Mas também ali os novos passeios já não são feitos com calçada. “A calçada tem uma manutenção difícil e não é confortável para quem a usa. Mantemos todos os pisos em calçada que temos mas nas novas obras já estamos a colocar, há muitos anos, novos pavimentos, mais confortáveis e duradouros”, explica.
O autarca diz que a calçada portuguesa “valoriza” a identidade do concelho apesar dos problemas que causa. “É uma reflexão que se tem de fazer. Actualmente a maioria dos promotores de urbanizações quando nos procura já apresenta outras propostas de materiais para os passeios”, afirma.
Em Santarém, a intitulada capital do gótico e de distrito, o presidente do município, Ricardo Gonçalves (PSD), diz que é “absolutamente contra” a ideia de acabar com a calçada portuguesa em alguns locais. Nem nas obras novas nem nas velhas. “Não o vamos fazer porque é uma das nossas imagens de marca, é a nossa tradição, é bonito e além disso a calçada é toda com pedra de Alcanede, pelo que estamos também a potenciar o que é nosso”, defende. O autarca admite “dificuldades” na manutenção daquele piso mas continua a defender que é preferível ter o trabalho e assegurar uma calçada “de grande beleza”.
Calceteiros contam-se pelos dedos das mãos
A contribuir para os problemas de manutenção das calçadas está a falta de calceteiros especializados que consigam fazer um bom trabalho. A maioria das câmaras tem dois ou três ao serviço e quando precisa contrata empresas para realizar esse serviço. “Sem dúvida que se devia apostar na formação de calceteiros. Com essa solução os problemas nas calçadas deixariam de existir”, defende Ricardo Gonçalves. Também Carlos Coutinho diz que “já não há” calceteiros com a experiência de antigamente. “Esse é efectivamente um problema dificil que temos”, constata.