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Última página: A Chamusca está entregue à rapaziada

A minha terra está entregue a pessoas que parece que nunca saíram do quintal da casa deles; e comportam-se politicamente como se fizessem parte da malta dos forcados, do rancho, da equipa de basquetebol ou do grupo de caçadores.

A minha terra está entregue à malta. Não há um projecto em candidatura para criar qualidade de vida, atrair pessoas ou segurar as poucas que ainda se vão mantendo. O grande projecto do executivo socialista da Chamusca para os próximos anos é um denominado Parque dos Amores Impossíveis, obra para a pequena aldeia do Arrepiado onde vivem cerca de duas centenas de pessoas. É literalmente uma obra que não tem em conta uma política de desenvolvimento social de uma terra pobre e sem recursos. O nome diz tudo: o concelho da Chamusca é um caso de amores impossíveis entre pessoas mas também entre os interesses maiores da população e de quem a governa. Quando a dupla que governa a Câmara da Chamusca (Paulo Queimado e Cláudia Moreira) for responsabilizada pela falta de jeitinho para governarem o concelho, nos intervalos em que se passeiam de charrete, viajam para Espanha e coçam a micose, já vai ser tarde; o Padre Borga já terá rezado mais umas centenas de missas em funerais, a Terra Branca passará a denominar-se Terra Queimada, e os chamusquenses ficarão conhecidos no mundo pelo investimento cultural, único e exemplar, à volta do Castelo de Almourol. Merecíamos muito melhor.

Na casa dos meus pais guardou-se durante muitos e muitos anos uma garrafa de vinho do Porto oferecida por uma pessoa amiga. Era para ser aberta numa ocasião muito especial. Como nenhuma ocasião foi suficientemente boa durante tantos anos a garrafa de vinho perdeu-se pelo caminho.
Esta história ainda hoje me serve de exemplo para não deixar fugir o momento, para não perder o chão quando faço o caminho. É muito fácil encontrar histórias inusitadas como esta na literatura ou no cinema; mas são as da vida real que nos marcam a pele. Recordo a propósito uma frase que tenho guardada desde a altura em que nem acreditava no que lia: “a beleza é ser-se simples e recto, ter vinte anos e amar”.

Estou em casa, a um domingo, arrumando os papéis e os livros de muitos anos de preguiça: mas sempre desejoso de me dar a veneta e marcar uma nova viagem. Por enquanto fico no remanso da vila, que parece cada vez mais uma aldeia, entre a charneca e a lezíria, recordando o tempo, passado e presente, em que os olhos dos meus filhos eram o álbum da família. “O lugar onde vivemos deixa de ter muita importância a partir da altura em que transportamos o universo na bagagem” (Marguerite Yourcenar).
Tenho um projecto de trabalho, a que vou dando corda cada vez que me sento a arrumar papéis e livros. Quero fazer uma viagem pela região. Conhecer ainda mais pessoas e lugares. Viajar no meu próprio território. Já comprei a passagem e tenho o roteiro gravado na testa. Não marquei encontros para poder encontrar de verdade; não disse ainda a ninguém o que vou fazer para poder fazer à medida dos desafios que encontrar pelo caminho. JAE

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