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“A dança em Portugal é um desporto de ricos praticado por pobres”
Kláudya Jesus e Miguel Nabeto são dançarinos federados de danças de salão

“A dança em Portugal é um desporto de ricos praticado por pobres”

Par ribatejano vai participar no campeonato do mundo da dança desportiva nos EUA. Kláudya Jesus e Miguel Nabeto são também namorados. Ela diz com humor que não larga o parceiro porque é difícil arranjar homens para dançar. Ele teve que enfrentar a vontade do pai, que via nele um potencial craque do futebol e considerava a dança um desporto para “maricas”.

Dois dançarinos ribatejanos, que são também namorados, estão em fase de preparação para o Campeonato do Mundo de Dança Desportiva, que decorre no dia 13 de Outubro, em Miami, nos Estados Unidos da América (EUA). Kláudya Jesus, 38 anos, natural de Vila Franca de Xira, entra em competições de danças de salão há 23 anos, depois de as ter descoberto no Ateneu Artístico Vilafranquense. O seu par, Miguel Nabeto, 35 anos, começou por dançar o tango com apenas seis anos, na sua terra natal, Azambuja, onde era conhecido como o “tanguetas”. Estreou-se em competição há 26 anos.
No início a maior dificuldade de Kláudya foi encontrar um par para dançar, pois havia e há “muito poucos homens na dança”. Divertida, diz que é por isso que nunca mais largou Miguel. Para o dançarino, o problema não foram as raparigas mas o seu pai, que considerava a dança um desporto para “maricas”. Na altura treinador e jogador de futebol, o pai queria que Miguel “fosse uma espécie de Figo” e não um dançarino de tango. Tudo águas passadas, pois o seu pai é hoje um dos seus grandes suportes.
Quando se opta pela adrenalina da competição, há outros interesses que ficam para trás. Ambos concordam que a família e os amigos são muitas vezes postos em segundo plano, porque há que treinar e preparar os esquemas para o próximo campeonato. Neste tema, Miguel, notoriamente mais emocionado, refere que há até o receio de “perder os amigos”, que tantas vezes o apoiaram. As viagens para Lisboa são uma constante já que o par treina duas vezes por semana, na Escola de Dança Alunos de Apollo de Lisboa, considerada por ambos como a “catedral da dança em Portugal”.
Falta reconhecimento à dança enquanto desporto
Segundo os dois dançarinos, viver somente da dança em Portugal é impossível. “A dança em Portugal é um desporto de ricos praticado por pobres. Os custos para participar num campeonato fora do país são elevadíssimos”, diz Kláudya. Nesta viagem aos EUA, os dançarinos contam com o apoio financeiro da Câmara Municipal e Junta de Freguesia de Azambuja.
Miguel Nabeto considera que lhe “falta o reconhecimento enquanto desporto”, num país onde o futebol “é o centro das atenções”. “Não se aposta na dança como desporto nas escolas, como acontece, por exemplo, nos países de Leste. Aqui olha-se para a dança como algo secundário”, continua.
Kláudya não se agarrou só à paixão que tem pela dança e investiu num curso superior. É professora do primeiro ciclo e preocupa-a o facto de não saber onde vai ficar colocada. “Se ficar longe, isso atrapalha nos treinos”, refere. Miguel já esteve emigrado em Angola, onde trabalhou como informático, mas a ligação à dança foi mais forte. Conta que foi quando regressou que decidiu fazer da dança a sua vida. Em 2012 funda a filial Alunos de Apolo de Azambuja, na vila de Azambuja e volta a reencontrar Kláudya, com quem já tinha dançado dez anos antes.
Não é a primeira vez que este par viaja até ao outro lado do Atlântico para disputar uma prova internacional de danças de salão. Em 2017 o casal esteve também nos EUA, alcançando o 31º lugar entre cerca de 70 pares. Na vizinha Espanha disputaram pela primeira vez uma final e este ano conquistaram o quarto lugar no Troféu Ibérico de Dança Desportiva, em Cambrils. Por cá são vice-campeões da Taça de Portugal e de dois Open Sénior- uma das mais importantes competições, que se realiza em Portugal.
Para o campeonato que se avizinha ambicionam subir lugares na tabela e para isso já estão “a melhorar as cinco coreografias” de danças latinas, como a rumba, o jive e o cha cha cha e a “ensaiar intensivamente”, sob o olhar do treinador.

“A dança em Portugal é um desporto de ricos praticado por pobres”

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