uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Podemos beber água da torneira à vontade nos concelhos de Tomar e Santarém

Maior problema das entidades gestoras é a grande percentagem de água não facturada

O MIRANTE assinalou o Dia da Monitorização da Água falando com os responsáveis por dois dos sistemas de distribuição de água para consumo humano da região. A sua maior preocupação é descobrirem onde é gasta a água que entra na rede e não é facturada. Para ilustrar a dificuldade em fazê-lo, a administradora da Águas de Santarém, Teresa, Ferreira, lembra que o seu sistema tem mais de mil quilómetros de condutas e trinta e três mil contadores instalados. A maior satisfação dos dois é saberem que a água que chega a casa dos cidadãos é de tão boa qualidade que o director dos Serviços Municipalizados de Tomar (SMAS) se atreve a dizer que até é mais segura que muita água engarrafada.

Tomar gasta mais de quatro milhões de metros cúbicos de água por ano

Francisco Marques é o director técnico, administrativo e financeiro dos SMAS de Tomar

Por ano entram no sistema de abastecimento de água dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Tomar mais de quatro milhões de metros cúbicos de água, provenientes de três captações, Mendacha, Rio Fundeiro e Castelo de Bode, todas responsabilidade da EPAL.
Desses quatro milhões, quase metade representa água não facturada, resultante, ora de perdas de água relativas a rupturas nas condutas ou ligações ilegais, ora de consumo autorizado mas não facturado, como a água utilizada pelos bombeiros; a água que alimenta vários edifícios públicos e a água utilizada em regas de jardins públicos ou para alimentar fontes e fontanários.
Segundo Francisco Marques, director técnico, administrativo e financeiro dos SMAS (Serviço Municipalizados de Águas e Saneamento), da totalidade de água que entra no sistema, só cerca de 52% é facturada. Questionado sobre a possibilidade de se chegar a uma situação de zero perdas, refere que isso nunca será possível.
“As perdas rondam sempre mais de 20%, há trabalhos necessários ao bom funcionamento do sistema, como a limpeza das condutas, que têm sempre que ser feitos e que conduzem a perdas reais, por exemplo”, refere.
Quanto às perdas aparentes, isto é, aquelas que resultam de furtos ou de erros de medição, estão, segundo ele explica, a ser minoradas através de medidas como a substituição de contadores e uma maior e melhor monitorização, com um sistema SIG (Sistema de Informação Geográfica) em implementação que irá ajudar a detectar com maior rapidez problemas, a partir da análise de dados como a pressão ou o caudal, reduzindo também o tempo que medeia a ruptura e a sua reparação.
No entanto, refere, a falta de recursos humanos dos serviços não permite detectar todas as situações de incumprimento.
Aquele responsável diz que um dos maiores contributos para as perdas reais de água no concelho de Tomar é provocada por frequentes rebentamentos de condutas na freguesia da Sabacheira por causa do excesso de calcário, o que fez com que as condutas que tinham sido foram substituídas o ano passado tivessem voltado a ser substituídas este ano no mesmo troço. Por esse motivo a captação da Mendacha, de onde vem aquela água e que é composta por quatro poços, deverá no futuro servir apenas para recurso, em caso de avaria, passando a Sabacheira a ser abastecida pela Estação de Castelo de Bode, ETA da Asseisseira.

Fiscalização da qualidade da água detectou anomalias pontuais
Francisco Marques diz que os SMAS registaram zero incumprimentos, em termos de qualidade da água, em 2015 e em 2016. Contudo, no ano passado houve registo de sete incumprimentos, todos eles devidos a bactérias coliformes. Para o responsável dos serviços esta situação teve a ver com a anormalidade do ano de 2017, com registos fora do comum em termos pluviométricos, com seca extrema e com muitos incêndios.
Já em 2018, os SMAS tiveram até ao momento duas análises que registaram incumprimentos, não a nível bacteriológico mas químico, embora num deles se tenha verificado tratar-se de um erro de amostragem uma vez que foi utilizado como ponto de recolha uma casa-de-banho com muito pouco uso. O outro caso registava excesso de alumínio mas a situação foi normalizada.
A recolha de água para análise acontece, por norma, num ponto de utilização do cliente e deve ser escolhido até 30 de Setembro do ano anterior. O plano é feito pelos SMAS e sujeito a aprovação pela ERSAR e os resultados das análises são publicados no site dos serviços municipalizados e na imprensa local.

“Fazemos mais de oitocentas análises por ano à água da rede”

Teresa Ferreira é administradora executiva da Águas de Santarém

Qual é a percentagem de perdas de água no concelho? Neste momento a percentagem de perdas de água no concelho de Santarém é de 33 por cento. Tínhamos o objectivo de, em 2018, chegar aos 30 por cento mas tem sido difícil. Temos as perdas reais provocadas por rupturas em condutas, fugas nos reservatórios e roubos de água e depois temos as perdas aparentes que são constituídas pela água que não é facturada. Temos também alguns contadores em fim de vida e que não estão a contar bem e estamos a substituí-los.
O que está a ser feito para resolver esses problemas? Criámos uma equipa de fiscalização e adquirimos uma câmara de videoscopia que é inserida na conduta e já detectámos no último mês de Agosto seis ligações ilegais que estão debaixo da rede e que se não houvesse nenhum factor de suspeita nunca iriam ser investigadas. Estamos muito mais atentos a nível de fiscalização. Essas ligações já foram tamponadas e vamos chamar as pessoas. Se não houver acordo podemos avançar para um processo-crime.
Onde há mais problemas devido a rupturas? Temos uma equipa especializada na detecção de fugas. Temos mil quilómetros de rede de água que é muito antiga. Temos vindo a substituir gradualmente. Sempre que detectamos uma fuga tentamos ser rápidos a actuar.
É possível ter uma percentagem zero de perdas de água? Não. Não conheço nenhuma entidade gestora que o tenha. Há sempre perdas de água. No concelho de Santarém, por exemplo, temos 33 mil contadores. É fácil perceber que não estão todos a funcionar a 100 por cento e por isso há sempre perdas aparentes. A perda de água é a diferença entre a água que aduzimos à rede e aquela que é facturada. Por exemplo aos bombeiros não facturamos a água. Essa é uma perda autorizada. Algumas entidades têm contadores instalados nos bombeiros mas nós não.
O que seria óptimo em termos de perdas? Há um estudo que indica que a percentagem óptima das perdas andará em 15 por cento, porque chega a uma altura em que o investimento que se faz para reduzir não é compensatório. Mas esta é a grande preocupação do sector e é o maior desafio. No caso da Águas de Santarém não é tão grave porque a água é nossa, não a compramos a ninguém. Não é tão penalizador como para as entidades que compram água em alta.
Como fazem a monitorização da água? Fazemos a análise a mais de 800 amostras por ano, em vários pontos de recolha. Temos uma percentagem de cumprimento de 99,8 por cento. Neste momento recorremos a um laboratório externo. Mandamos trimestralmente os resultados e os editais para a câmara, para a APA (Agência Portuguesa do Ambiente) e para a autoridade de saúde. E se houver incumprimento temos 24 horas para desencadear uma série de acções. Felizmente isso nunca aconteceu. Só tivemos problemas pontuais ao nível do PH e isso tem a ver com dosagem de cloro na rede. Não causa problemas a nível de saúde pública.
Quantas captações têm? Já tiveram que fechar alguma por causa da má qualidade da água? Nunca aconteceu esse problema. Temos 38 captações em funcionamento e neste momento estamos a fazer mais duas, uma na Ribeira de Santarém e outra na Moçarria. Mas a nossa água na origem continua a ser de excelente qualidade.
Porque é que às vezes sai água muito branca ou castanha das torneiras? Na nossa rede não é normal vir castanha e quando acontece é pontualmente, nomeadamente após a reparação de uma ruptura, quando se fazem as purgas de rede. Nessa altura pode sair alguma areia mas nem isso costuma acontecer porque fazemos as purgas em bocas de incêndio e não em casa das pessoas. Quanto à água muito branca isso tem a ver com o excesso de pressão da rede. Enchemos o copo e a água vem branca mas se deixarmos a água em repouso durante uns instantes ela fica normal. Não tem a ver com a composição da água.
No concelho todas as regas estão a ser feitas com a água da rede? Um dos maiores clientes da Águas de Santarém é o município. Há ainda alguns jardins no concelho que são responsabilidade do município, que são regados com água da rede e isso é contabilizado. Há contadores instalados.

Mais Notícias

    A carregar...