Museu Diocesano de Santarém na rota europeia da Arte Sacra
Referências da iconografia religiosa atraem turistas a Santarém
Esculturas e pinturas dos séculos XV a XVIII têm colocado o espaço na rota da arte sacra. As obras que dão vida às duas salas primam pelo estado de conservação, mas acima de tudo por serem referências da iconografia mundial.
A imagem medieval do Cristo de Mont`Iraz, um trabalho hispânico em madeira policromada e tecido, com a cruz trabalhada em madeira entalhada e dourada, do século XIII, é apontada como a mais icónica de todo o Museu Diocesano de Santarém, sendo também a mais antiga. Esta escultura pertence à Paróquia da Ribeira de Santarém e já esteve presente em várias exposições por todo o país e no estrangeiro. Trata-se de uma antiga escultura de Jesus cucificado com uma expressão dolorosa e numa estranha posição. Devido à forma pouco comum, a religiosidade popular atribuiu a esta peça uma explicação milagrosa, conhecida como o milagre da pastorinha de Santarém.
Ainda no âmbito da escultura, a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, do século XIV, pertencente à Paróquia de Santa Marta de Alcanhões é apontada pelos entendidos como uma das mais icónicas do museu inaugurado em 2014. Trata-se de uma escultura anónima, trabalhada em madeira de carvalho policromada e tecido.
O fragmento da Anunciação, obra que remonta ao século XVI, pertencente à Paróquia de Santa Maria da Serra e São João Batista do Pedrogão, é outra das peças mais admiradas e que foi alvo de uma grande intervenção de restauro.
Outra obra de destaque: o Retábulo da Imaculada Conceição, remonta ao século XVII e pertence à Paróquia de Alpiarça. Trata-se de uma escultura em madeira entalhada e policromada. A Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Conceição é, segundo o dogma católico, a concepção da Virgem Maria sem mancha do pecado original.
A azulejaria marca também presença no Museu da Diocese de Santarém, através da Queda de Jesus a Caminho do Calvário, uma obra atribída a Policarpo de Oliveira Bernardes, trabalhada entre os anos 1695 e 1778. Um painel de azuleijos pintado a azul e branco que pertence à Diocese de Santarém.
O retábulo da Igreja da Misericórdia de Tancos é outra obra notável ali exposta. Datado dos séculos XVI e XVII, é atribuída a Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão. Trata-se de uma pintura a óleo sobre madeira de carvalho do Báltico e madeira entalhada dourada e pintada. A obra divide-se em três temas: o principal retrata a visitação de Santa Maria à sua prima Isabel; o secundário retrata a Paixão de Cristo e, por fim, o tema complementar, que revela a Manifestação do Espírito Santo.
Diocese vai lançar catálogo em 2019
A Diocese de Santarém vai lançar um catálogo da exposição que está patente no seu museu. A ideia é “comemorar o quinto aniversário do Museu, em Setembro de 2019, com o lançamento deste catálogo”, avançou a O MIRANTE o padre Joaquim Ganhão, director do Museu Diocesano de Santarém.
Para a concretização deste catálogo, a Diocese contou com “a preciosa” ajuda dos melhores especialistas da praça, no que respeita a arte religiosa, que acederam “com muita alegria e vontade” ao projecto. Tanto que “cerca de 90% já enviaram o seu trabalho”, adiantou ainda. “Este projecto pode não parecer muito importante, mas é”, explica Joaquim Ganhão. “É uma ferramenta que vai ajudar as pessoas a terem um conhecimento mais aprofundado sobre a obra exposta no Museu”.
No catálogo vai constar uma discrição minunciosa de cada uma das obras expostas, enquadrando-as no seu contexto religioso e histórico.
O museu, com várias salas e espaços de visitação, tem em exposição permanente cerca de 150 peças de um total de 300 que foram alvo de reabilitação desde que se iniciou, em 2005, o processo de inventariação, valorização e restauro do espólio da Diocese. Na exposição permanente encontram-se, além das peças que fazem parte do espólio da Sé, muitas outras pertencentes às paróquias. “Todas as peças estão devidamente protocoladas com as paróquias a que pertencem e quero sublinhar que as paróquias continuam a ser suas legítimas proprietárias”, diz o padre Ganhão.
O espaço, bem como todas as obras expostas, estão devidamente seguradas. “Não temos uma noção do valor do espólio, mas posso indicar que foram investidos cerca de 2 milhões de euros em todo o projecto, que incluiu a recuperação do edifício, a recuperação da fachada e interior da Sé Catedral e o trabalho de restauro das obras expostas”. A intervenção foi financiada a 80% por fundos do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), 10% pelo Estado e os restantes 10% pela Diocese de Santarém.
Três prémios em quatro anos
Ao longo destes quatro anos, o Museu Diocesano de Santarém já recebeu três prémios. Prémio Turismo do Alentejo/Ribatejo - Distinção Iniciativa, em 2014. No mesmo ano foi ainda distinguido com o Prémio Vasco Vilalva para a Recuperação e Valorização do Património - Fundação Calouste Gulbenkian. E, em 2016, recebe o Prémio da União Europeia para o Património Cultural/Prémio Europa Nostra - Categoria Conservação.
Neste momento está patente a exposição temporária A Arte Cristã na Herança de Luiza Andaluz, que pode ser visitada até Abril. Nesta exposição estão em mostra figuras icónicas que reflectem a vida da comunidade scalabitana.
“Santarém precisa de assumir o seu património e as suas potencialidades”
O director do Museu Diocesano de Santarém é crítico no que respeita à política cultural e turística da Câmara de Santarém. “Não pode haver apenas uma política de eventos para as urnas. Tem que haver uma visão de continuidade, uma estratégia de futuro. A cidade de Santarém precisa de assumir o seu património e as suas potencialidades, que são imensas”. E vai mais longe: “Não podemos ficar apenas com um roteiro que inclui ir a Santarém beber um copo na Feira Nacional de Gastronomia”.
Mais de 25 mil já visitaram o Museu
Desde a sua abertura ao público, em Setembro de 2014, até Novembro deste ano, o Museu Diocesano de Santarém foi visitado por mais de 35 mil pessoas. Em 2017 o número de visitas duplicou comparativamente a 2016 e este ano, até Outubro, já teve mais visitas do que o ano inteiro de 2017, destacou o padre Joaquim Ganhão. Cerca de 7 mil visitantes foram contabilizados até Outubro.
Os portugueses estão em maioria, oriundos de várias localidades, seguindo-se os espanhóis, ingleses, brasileiros, filipinos, chineses, polacos e alemães. As opiniões deixadas são “muito estimulantes”, refere o director do Museu.
As parcerias estabelecidas com várias instituições foram, segundo Joaquim Ganhão, um “grande impulso para este sucesso”. De entre estas parcerias, destaca-se o Santuário de Fátima, a Direcção Geral do Património Cultural, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu da Presidência da República, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, entre outros organismos, bem como várias universidades e intitutos politécnicos.
“Somos, além de um Museu, um espaço aberto à comunidade. Já tem havido concertos, palestras e outro tipo de eventos e é isso mesmo que queremos desenvolver: ser um espaço aberto à população”, enquadra Joaquim Ganhão.