Os 66 combatentes de Constância na I Guerra Mundial escaparam ao morticínio
Concelho homenageou os militares que lutaram em França contra os alemães e recordou a grande parada de Montalvo.
“Lembro-me de ser muito pequeno e ouvir as histórias do meu avô. Uma vez contou-nos que não morreu por sorte. Os alemães tinham lançado um morteiro que caiu à beira da estrada e não rebentou. Foi uma sorte, senão tinham morrido todos e assim podemos gabar-nos de nenhum ter lá ficado”, conta, a O MIRANTE, António Maria Pedro, neto de Joaquim Manuel, um dos 66 soldados do concelho de Constância que rumaram a França para combater na I Grande Guerra Mundial (1914-1918).
Os combatentes foram recordados na segunda-feira, 12 de Novembro, em Montalvo, a propósito da Evocação do Centenário do Fim da Grande Guerra. Uma organização da Câmara de Constância e do Agrupamento de Escolhas do Concelho. Uma oliveira, símbolo de paz, foi plantada no local onde há mais de 100 anos foi feita a grande parada do contingente português preparado no Campo de Manobras de Tancos para combater na 1ª Guerra Mundial.
Joaquim Manuel foi um desses 66. Faleceu há 44 anos e teria 120 se fosse vivo, diz o neto entre risos. “Ainda tem uma filha viva, uma tia-avó minha que tem 90 anos”, conta. Das memórias da guerra contava ainda que havia sempre muito nevoeiro devido aos gases lançados pelos alemães.
“Paz” foi a palavra mais entoada nessa manhã em Montalvo. Familiares dos soldados, populares e cerca de 300 crianças dos jardins-de-infância e primeiro ciclo das freguesias de Santa Margarida da Coutada, Montalvo e Constância, marcaram presença na homenagem.
A iniciativa teve um duplo objectivo: por um lado, “relembrar o papel da região, em especial Montalvo, na preparação dos soldados portugueses que partiram para a guerra”. E ainda “homenagear os 66 soldados do concelho, concretamente, 33 de Santa Margarida da Coutada, 19 de Montalvo e 14 de Constância”, apontou Sérgio Oliveira, presidente da Câmara de Constância.
O jardim da Zona Industrial de Montalvo foi o local escolhido para o efeito, onde foi colocada uma oliveira, denominada Oliveira da Paz, em honra dos soldados. As crianças colocaram placas nos ramos da oliveira, com os nomes dos 66 combatentes, bem como pedras em seu redor e ainda papoilas de plástico, que simbolizam o sangue derramado durante essa guerra, explicou Anabela Cardoso, presidente da direcção do Museu dos Rios e das Artes Marítimas.
A grande parada de Montalvo
O local escolhido para este memorial é também simbólico. “Foi aqui muito perto que, há mais de 100 anos, concretamente a 22 de Julho de 1916, os 66 soldados fizeram a parada (a Grande Parada de Montalvo) antes de rumarem para França”, enquadrou a presidente da Junta de Freguesia de Montalvo, Ana Luísa Manique. Para a autarca esta homenagem faz todo o sentido, uma vez que o concelho esteve envolvido na preparação do Corpo Expedicionário Português. “A população ainda está marcada por este acontecimento. Ainda há filhos e netos de ex-combatentes que se orgulham destas homenagens feitas aos seus parentes”, realçou.