Trabalhadores do CRIA de Abrantes lançam SOS a autarcas
Instituição atravessa dificuldades financeiras e funcionários publicaram manifesto a pedir intervenção dos poderes públicos
Os trabalhadores do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes (CRIA) consideram que a instituição se encontra numa situação limite em termos financeiros que pode levar ao seu encerramento caso não haja intervenção de organismos públicos.
Após o plenário realizado na tarde de 7 de Novembro, onde foi debatido o futuro na instituição, os trabalhadores publicaram um manifesto intitulado “Unidos pelo CRIA” onde referem que o CRIA “apresenta dívidas de centenas de milhares de euros acumuladas a instituições bancárias, trabalhadores e a fornecedores”. E apontam também problemas estruturais “a nível da gestão das respostas sociais e dos recursos humanos que têm contribuído para a asfixia financeira que a instituição vive”.
Perante esse cenário, os trabalhadores decidiram escrever esse manifesto e remetê-lo a todos os grupos parlamentares com assento na Assembleia Municipal de Abrantes, assim como marcar presença na próxima sessão desse órgão autárquico, que deve realizar-se em Dezembro. “Pela sustentabilidade do CRIA, apelamos profundamente para que vossas excelências, em bom nome do serviço público intervenham salvaguardando o superior interesse de todas estas pessoas (crianças, jovens e adultos com deficiência e/ou incapacidade), das suas famílias e dos seus trabalhadores”, apelam os trabalhadores no manifesto dirigido aos autarcas.
O presidente da direcção da instituição, Nelson de Carvalho, foi ao plenário de 7 de Novembro justificar a falta de financiamento que está a prejudicar a instituição atribuindo a culpa ao Governo por não desbloquear verbas que tem para transferir. Recorde-se que a direcção do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes não conseguiu pagar a totalidade dos salários de Outubro aos funcionários e tem ainda por saldar os subsídios de férias referentes a este ano.
Na reunião de câmara de terça-feira, 13 de Novembro, a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque (PS), disse que no início da próxima semana vai realizar-se uma reunião sobre o tema envolvendo a direcção do CRIA, director distrital da Segurança Social e uma vogal do Instituto da Segurança Social. Acrescentou que as verbas em atraso são pouco significativas e dependem da entrega de documentos por parte do CRIA e adiantou que a instituição candidatou-se a um fundo de emergência, cuja aprovação carece de pareceres prévios de várias entidades.
Tal como escrevemos na anterior edição, a direcção do CRIA emitiu um comunicado dirigido aos trabalhadores onde informava que só seriam pagos 600 euros a cada colaborador referentes ao salário de Outubro. No comunicado lê-se: “A Direcção informa que por constrangimentos de tesouraria não é possível efectuar o pagamento integral dos vencimentos relativos ao mês de Outubro. Assim, e face às disponibilidades existentes, a direcção teve de efectuar opções. Decidiu pagar a todos os trabalhadores, equitativamente, o montante líquido de 600 euros, minimizando assim o impacto negativo junto da maioria dos trabalhadores”.
Dificuldades financeiras recorrentes
O Centro de Recuperação e Integração de Abrantes (CRIA) atravessa graves dificuldades financeiras e teve de recorrer a um empréstimo bancário para conseguir pagar os subsídios de Natal de 2017.
O empréstimo, no valor de 100 mil euros e para ser pago em dois meses, foi aprovado na última assembleia geral da instituição, que decorreu no dia 15 de Dezembro de 2017. O MIRANTE sabe que a instituição também pediu ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social mais 400 mil euros em Dezembro de 2017.
Em declarações a O MIRANTE, Nelson de Carvalho disse ser normal a falta de dinheiro na tesouraria porque a instituição está à espera de algumas transferências do Estado. “Esta não foi a primeira vez que isto aconteceu. Já aconteceu com outras direcções, e em relação aos pagamentos damos prioridade à Segurança Social. Temos igualmente um grande compromisso com a banca (cerca de 900 mil euros) e também damos prioridade aos pagamentos a fornecedores. Assim que recebermos por parte do Estado vamos pagar aos funcionários”, garantiu o presidente do CRIA, que já anunciou que não se vai recandidatar ao cargo.
Opinião
Nelson Carvalho: um ex-autarca e gestor que é uma desilusão
O presidente da direcção do CRIA, Nelson Carvalho, foi o todo poderoso presidente da Câmara de Abrantes durante dezasseis anos, tempo suficiente para marcar a vida do concelho para o melhor e para o pior. Infelizmente para Abrantes foi muito mais para o pior que para o melhor.
Nelson Carvalho é um dirigente arrogante e com sinais muito evidentes de prepotência nas suas acções. Está no seu direito. Ninguém o leva preso por ser teimoso, não saber dialogar, achar que se faz a gestão de uma empresa ou de uma autarquia do alto dos seus ombros sem ter que usar a cabeça e o bom senso.
Esta novela do CRIA é admirável por tudo o que a antecede. Nelson Carvalho pediu a demissão de deputado municipal em 2014 e, consequentemente, de presidente do órgão fiscalizador da câmara municipal. O que ele disse na altura, e foi notícia, era que se demitia da política para se envolver numa nova actividade profissional e cívica.
Quatro anos depois percebe-se o que vale o empenho cívico de Nelson Carvalho e a sua capacidade profissional como gestor. Para ele o falhanço na gestão do CRIA deve-se à anterior direcção e à má gestão dos anteriores directores. É muita falta de vergonha junta atirar com as culpas, quatro anos depois, para os dirigentes que ele foi substituir dizendo alto e bom som que ia fazer serviço cívico.