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“Passo mais horas com cavalos do que com pessoas”
Aos 17 anos Maria Prazeres mudou-se para Santo Estêvão para estar mais perto do seu sonho

“Passo mais horas com cavalos do que com pessoas”

Maria Prazeres diz que quer ser o Cristiano Ronaldo da equitação. Aos 21 anos poucos cavaleiros podem dizer que são profissionais e que já participaram em campeonatos internacionais. A jovem residente em Santo Estêvão pode orgulhar-se disso. É campeã nacional sénior de Endurance e foi a melhor da Europa no campeonato Crown Prince Cup, no Dubai.

O sonho de muitos jovens é terminar o secundário e entrar para a faculdade. Este nunca foi o objectivo de Maria Prazeres que tem nos cavalos a sua maior paixão. Natural de Lisboa, a jovem mudou-se aos 17 anos para Santo Estêvão, no concelho de Benavente, para poder estar mais perto do seu sonho: ser cavaleira profissional e conquistar títulos. Hoje é campeã nacional sénior de Endurance - espécie de maratona a cavalo - depois de ter vencido a prova de 160 quilómetros desta disciplina equestre, na Companhia das Lezírias.
Desde a infância que Maria Prazeres tem uma paixão desmedida por cavalos. A primeira vez que montou um ginete tinha ano e meio e aos seis anos começou a ter aulas de equitação na Sociedade Hípica Portuguesa. Aos fins-de-semana e nas férias escolares, Maria acompanhava o seu pai, veterinário de profissão, nas visitas às quintas e coudelarias, no concelho de Benavente, só para poder estar perto dos animais.
Enquanto fala, atrás dela, o Eclipse, um ginete de nove anos, vai dando conta da sua presença. Este cavalo, propriedade de Salvador Oliveira Martins, é cedido a Maria, actual cavaleira da Quinta Sobreda, em Santo Estêvão. É com o Eclipse que realiza as provas de salto de obstáculos, a sua disciplina de eleição, ministrada por António Oliveira Martins, um dos proprietários desta quinta. As provas de Endurance são realizadas com cavalos emprestados, já que Maria ainda não tem condições para ter cavalos próprios.
Maria Prazeres pensou em seguir as pisadas do seu pai e formar-se em veterinária. “Mas ia ter de estudar muito e isso iria tirar-me tempo para me dedicar aos cavalos”, diz. Chegou a candidatar-se ao ensino superior e ficou colocada, mas falhou a data de matrícula. “Foi no dia seguinte a uma prova, estava toda dorida e esqueci-me por completo”, explica.
Difícil foi anunciar à família que não iria seguir os estudos. Hoje, tempo para os cavalos não falta a esta campeã que treina cinco dias por semana. Às segundas e terças-feiras sobe a Serra da Arrábida na sua montada e às quartas-feiras a Serra de Sintra. Na sexta regressa à Arrábida e sábado é dia de treinar a galope. “Passo mais horas com cavalos do que com pessoas. Os meus amigos dizem que se não estou com cavalos estou a falar deles”, diz enquanto deixa escapar uma gargalhada.

Treina e valoriza os cavalos que lhe são cedidos
A jovem cavaleira iniciou a época competindo na Crown Prince Cup, uma prova de 120 quilómetros, que se realizou no Dubai. Sagrou-se campeã nacional sénior de Endurance, depois de fazer 160 quilómetros em oito horas, na Companhia das Lezírias. A 17 de Novembro, Maria teve novamente uma vitória numa prova internacional de 120 quilómetros, na Herdade de Rio Frio.
Gosta de equitação clássica e trabalha muito a postura e regras. Recebe um ordenado por treinar e valorizar os cavalos que lhe são cedidos e ganha uma percentagem quando estes são vendidos. Maria quer ir mais longe. Ter os seus próprios cavalos e conquistar mais títulos estão na mira da cavaleira.
Com 21 anos a jovem gosta de se divertir com os amigos, mas confessa que não tem muito tempo para eles, porque os cavalos vêm em primeiro lugar. “Se tiver um treino ou prova, abdico da minha diversão”. Para Maria, o esforço é o segredo do sucesso. Se tivesse que dar um concelho a um cavaleiro amador que ambiciona profissionalizar-se, a campeã nacional diz que é preciso ser-se exigente e estar focado nos treinos. “A exigência deve atingir o grau de acordar a pensar em cavalos, estar com eles durante o dia e adormecer a pensar neles”, diz.

Maria quer tourear a cavalo

Aficionada pela tauromaquia, Maria nasceu alfacinha, mas foi o Ribatejo que lhe arrebatou o coração. Para a cavaleira, a identidade da região passa pelos toiros e cavalos. Vibra com a festa brava e vai a corridas de toiros. Coragem não lhe faltou no momento de tourear a pé uma “pequena vaca”, mas a experiência não correu bem. “Levei com a vaca em cima, por isso acho que a cavalo me safava melhor. Tenho curiosidade em experimentar”, atira.

Quedas e lesões

Foi o velho Orlando, um cavalo vice-campeão do mundo em idade de reforma, que a acompanhou na primeira queda. “Cavaleiro novo e cavalo velho, não podia dar bom resultado”, brinca Maria. A queda deu-se durante um concurso completo de equitação. Partiu um tornozelo, foi operada e passou seis meses em recuperação. “Tive de voltar a aprender a andar, o que só me deu mais força para continuar e me tornar melhor cavaleira”. Coices na cara, pisadelas de cavalos de 500 quilos e quedas nos treinos já fazem parte da história de Maria.

Manias e confiança no cavalo

“Tem de ter um olhar que me dê confiança e tenho de os sentir comigo”, diz a campeã, que em provas de Endurance aposta em cavalos pequenos (1,55 metros), robustos e de frente larga. “Também têm de ser calmos para aguentar a pressão de correr quilómetros sem saber quando vão parar para descansar”, explica. As manias de Maria passam por ser ela a aparelhar o animal e vestir a mesma roupa em todas as provas.

“Passo mais horas com cavalos do que com pessoas”

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