Da Assembleia da República para gestora do banco Montepio
A deputada do PS Idália Serrão, que começou a sua vida política em Almoster, Santarém, vai deixar o cargo de deputada e de secretária da mesa da Assembleia da Republica, para aceitar um cargo na associação mutualista dona do Banco Montepio.
Idalia Serrão vai saltar de secretária da mesa da Assembleia da República, a casa da democracia, para um lugar de administradora na associação que é dona do banco Montepio. A deputada integrou a lista vencedora de Tomás Correia e já anunciou que vai pedir a renúncia ao mandato de deputada. Tudo indica que a participação da secretária da mesa da Assembleia da República nas listas de Tomás Correia teve o consentimento de António Costa. Não é todos os dias que um deputado de um partido abandona a sua missão de serviço público para ir tratar da vidinha. Ainda por cima para um cargo que poderá ser dez ou vinte vezes melhor remunerado. Mesmo assim a transferência milionária de Idália Serrão passou quase despercebida na comunicação social. Uma das razões poderá dever-se ao facto de a deputada não ajudar a vender jornais uma vez que não é uma figura de proa da vida política nacional.
A transferência não deixa de ser polémica e de envolver gente graúda do partido, inclusive o presidente e primeiro ministro, António Costa, por razões que são fáceis de explicar. O MIRANTE falou com alguns políticos no activo que dizem compreender a atitude da deputada e que responderam “nin” à questão do comportamento ético de Idália Serrão quando questionados sobre se faziam a mesma coisa estando no lugar dela.
Quase todos acham que o mercado de trabalho é que manda. E que a frase recente do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de que “titulares de cargos públicos não podem enriquecer em funções, nem sair para lugares que se prestem a ser pagamento de favores anteriores”, é conversa para aulas na universidade, já que a realidade da vida pública contraria tudo o que diz o Chefe de Estado.
Idália Serrão foi contactada pela redacção de O MIRANTE mas não atendeu o telefone. Por escrito disse de forma muito breve e sem explicações que aceitou o desafio porque vai trabalhar numa área que conhece muito bem.
Perfil de Idália Serrão
Percurso político começou na Junta de Freguesia de Almoster
Idalia Serrão começou a carreira política em Almoster, Santarém, foi vereadora da câmara, depois deputada, secretária de Estado e agora chegou à administração de uma associação dona de um banco. Pelo meio fez jogo político dentro do PS e ganhou na maior parte dos casos.
Quando, no final da década de 1990, Idália Serrão, 54 anos, assumiu os destinos da Junta de Freguesia de Almoster, no concelho de Santarém, após um controverso processo interno, provavelmente só a própria acreditaria que, duas décadas depois, estaria como deputada na Assembleia da República - agora a caminho da administração da Associação Mutualista Montepio Geral -, depois de ter sido vereadora na Câmara de Santarém e passado também pelo Governo como secretária de Estado da Reabilitação, com José Sócrates como primeiro-ministro.
Foi José Miguel Noras, então presidente da Câmara de Santarém, hoje presidente da concelhia socialista de Santarém, quem a ajudou a dar os primeiros passos no PS escalabitano. Em troca, Idália Serrão (na altura Idália Moniz, apelido emprestado do seu marido à época, o cantor e compositor Carlos Alberto Moniz) apoiou Noras na vitória contra Rui Barreiro pela liderança da concelhia socialista, no final do século passado. Mais tarde, Idália Moniz passou para o outro lado da barricada e integrou o grupo de apoiantes de Rui Barreiro, quando este decidiu candidatar-se à câmara afrontando José Miguel Noras. O “prémio” foi a inclusão na lista de Barreiro em lugar elegível, que culminou na eleição para vereadora no final de 2001.
A partir daí foi sempre a subir. Essa ascensão meteórica permitiu-lhe passar a movimentar-se na sede nacional do PS, em Lisboa, como poucos conterrâneos o haviam conseguido até aqui. Basta dizer que foi o primeiro militante do PS escalabitano a fazer parte do secretariado nacional, núcleo restrito de pessoas de confiança do secretário-geral, à época José Sócrates. Chegou ao Governo e à Assembleia da República, esteve na cúpula dirigente do PS, foi líder distrital do Departamento de Mulheres do PS e foi candidata a eurodeputada, não tendo sido eleita.
Em 2013 candidatou-se a presidente da Câmara de Santarém, tentando explorar as brechas existentes no PSD escalabitano e recuperar o município para os socialistas, mas as coisas não correram de feição e foi derrotada por Ricardo Gonçalves (PSD). Renunciaria ao mandato de vereadora três anos depois, quando já era novamente deputada à Assembleia da República. Cargo que agora vai deixar para se dedicar ao Montepio.