Retrospectiva 2018 | 14-02-2019 14:49

Promover a inovação cultural sem cedências a nível da qualidade

Promover a inovação cultural sem cedências a nível da qualidade
Centro Cultural Regional de Santarém é Personalidade do Ano na Cultura M.

O Centro Cultural Regional de Santarém foi criado de cima para baixo, há 38 anos, por iniciativa do Governo, que criou outros organismos semelhantes em cada um dos Distritos. Alguns anos mais tarde os centros deixaram de fazer sentido como dinamizadores culturais distritais e o de Santarém reinventou-se. Centrou a sua actividade no concelho e na cidade, atraiu cidadãos amantes da cultura e tornou-se, com uma programação eclética e de qualidade, uma referência. Junto à sua sede tem o Fórum Mário Viegas, personalidade que dá o nome ao prémio de poesia que entrega a cada dois anos.

Na génese da criação do Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS) está a descentralização da cultura. Pensa que isso tem sido conseguido nestes quase 40 anos de existência?

Em 1980 foi iniciativa do Governo de então criar um Centro Cultural em todas as capitais de distrito, tal era reconhecida a falta de oferta de animação cultural. Dez a quinze anos depois a maioria dos concelhos passou a dispor de equipamentos culturais próprios. Santarém manteve o seu Centro Cultural que deixou de ser distrital para se centrar na cidade e no concelho. O objectivo continuou a ser a divulgação e descentralização da cultura.

Sendo a Fundação Calouste Gulbenkian uma das apoiantes do projecto não deveria haver mais interacção, isto é, mais exposições cedidas pela Gulbenkian em Santarém, ou mais concertos?

Aquando da criação do CCRS, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Secretaria de Estado da Cultura e os cooperantes fundadores participaram com partes iguais de 30% do valor para aquisição do edifício-sede, ficando os restantes 10% a cargo do município de Santarém. A partir daí a Gulbenkian não se envolveu mais nas actividades culturais do Centro, então assumidas exclusivamente pelas várias direcções da cooperativa.

A situação alterou-se recentemente.

Sim. No actual mandato houve contactos com a Gulbenkian que manifestou abertura a diversas parcerias. O início dessa relação ficou marcado pela realização em Santarém, em 2017, no Convento de São Francisco, de um concerto pela Orquestra Gulbenkian que teve lotação esgotada, com mais de 400 pessoas na assistência.

A conotação inicial do CCRS com uma certa elite artística de esquerda ainda se justifica?

Se já teve tal conotação, hoje afirmamo-nos abertos a todas as instituições exteriores e públicas sem qualquer tipo de espartilhos ideológicos. Somos uma cooperativa cuja base assenta na liberdade de pensamento e na solidariedade, que é motivada pela dinamização e enriquecimento cultural dos habitantes da cidade, do concelho.

Quais os destaques para a agenda de 2019 do CCRS?

Ao longo de 2019 daremos continuidade à diversidade dos projectos de qualidade comprovada em 2018 e que mereceram a presente distinção na área da Cultura. Destaco as exposições de artes plásticas, a Residência Artística Santarém (RAS) para jovens criativos, noites de fado, eventos de jazz e de música clássica e, claro, o Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas.

Além destes projectos, com realce para o concerto de Música Clássica e o SantarémJazzFest, em Setembro, no Convento de São Francisco, serão novidades para 2019 o recém-criado Núcleo de Fotografia com a exposição e concurso “Serra dos Candeeiros”, a oficina de gravura e serigrafia a instalar, aulas, workshops e cursos de desenho e pintura e uma parceria com o Cine Clube com ciclos temáticos no Fórum Mário Viegas onde se vão relacionar os mundos do cinema e da fotografia. Há também a destacar as actividades que decorrem em Fevereiro, como o Jazz ao Centro com o Trio Vicente Magalhães, dia 22, ou o concerto de canto e órgão pela soprano Hélia Castro na Igreja da Misericórdia, a 23 de Março.

Voltar a entregar em 2018 o Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas foi a concretização de uma ambição antiga. é para continuar em 2019 e anos seguintes?

Este prémio foi instituído como bienal, uma regularidade que a actual direcção pretende repor. Sendo assim, a próxima edição ocorrerá em 2020. A edição de 2018 foi a quarta edição do prémio e, pelo número de candidaturas que recebemos, 243, podemos dizer que foi um sucesso.

Que apoios teve?

Foi apoiado não só pela Câmara Municipal de Santarém, através do Programa de Apoio ao Associativismo e Agentes Culturais (PAAAC), como também por mecenas como a Fundação Millennium BCP e o Fundo de Fomento Cultural, do Ministério da Cultura.

Tem sido dada a devida importância à figura de Mário Viegas, tanto a nível do distrito como a nível nacional? Como pode o CCRS contribuir para que não caia no esquecimento?

Sendo um actor de valor inquestionável a nível nacional, não tem tido o merecido reconhecimento a nível local. A família vem fazendo esforços para criar um núcleo museológico com espólio seu, mas não teve até agora qualquer apoio municipal. Não teve também, até ao momento, um evento ou festival de teatro com o seu nome… mas pela nossa parte não cairá no esquecimento. Tem o seu nome no Fórum e no Prémio Nacional de Poesia. Aquando da entrega do prémio, em Novembro do ano passado, fizemos-lhe uma homenagem com a abertura ao público de uma exposição sobre a sua vida e obra intitulada “O Sonho ao Poder”. Recebemos numerosas mensagens de encenadores e actores que com ele trabalharam.

Quando foi eleita, a nova direcção defendeu um maior envolvimento dos jovens nas actividades do Centro e parcerias com instituições locais e nacionais. Pode dar-nos exemplos concretos?

A Residência Artística Santarém (RAS) com jovens criativos é um caso de sucesso, que virá a ser reforçado com o ateliê, aulas e workshops de artes plásticas. Os concertos de Jazz ao Centro e o Santarém JazzFest, tendo um público específico, atraem os jovens, tal como outros eventos musicais realizados no Fórum. É importante salientar que o desejável envolvimento de jovens deve ser entendido nos dois sentidos, pois além das iniciativas do CCRS estamos abertos a ideias e iniciativas de jovens que dirijam a nós.

O CCRS tem sede num edifício antigo. Está em boas condições?

Fizemos recentemente obras de manutenção que necessitam de ter continuidade. Temos procurado fazer passo a passo. No nosso mandato substituímos todas as janelas e resolvemos as infiltrações no telhado. Há sempre obras a fazer num edifício com mais de 150 anos. Procuramos patrocínios e fazemos uma gestão de prioridades mas fica sempre algo para trás. Em breve gostaríamos de pintar a fachada. Queria aqui fazer uma referência aos responsáveis pelos mandatos anteriores que resolveram grande parte da dívida acumulada durante anos e que nos passaram a casa em ordem.

Uma programação para manter a cidade culturalmente acordada

Para Elias Cachado Rodrigues, director do Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS) desde 2017, falar da Cooperativa é falar de pessoas, nomeadamente dos elementos que com ele compõem a direcção, dos colaboradores mais próximos, dos inúmeros voluntários, dos mecenas e dos jovens que se têm aproximado do Centro e criado novos núcleos de acção cultural.
Criado a 10 de Julho de 1980, na sequência de um projecto de descentralização cultural da Secretaria de Estado da Cultura, com o apoio da Câmara Municipal de Santarém e da Fundação Calouste Gulbenkian, o Centro surgiu com a preocupação da formação de agentes culturais e da divulgação do produto artístico dos núcleos culturais espalhados pelo distrito.
Hoje em dia o CCRS propõe-se acolher e dinamizar manifestações culturais, constituindo um pólo activo de debate da cultura e da cidadania. São exemplo disso os destaques da programação cultural de 2018, como exposições de artes plásticas individuais e colectivas e com parcerias diversas, nomeadamente com a Câmara Municipal de Santarém. Realce também para três exposições em parceria com o Instituto Politécnico de Santarém, através da Escola Superior Agrária (ESA): A Arte e o Vinho; A Arte e o Cavalo; O Espírito da Terra (esta última em comemoração dos 130 anos de aniversário da ESA).
O Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas, instituído como bienal, esteve parado desde 2014, voltando em 2018 para a sua quarta edição. O número de candidaturas recebidas e os apoios conseguidos levam o centro a acreditar que será possível repor e manter a ideia inicial de uma realização bienal.
Segundo o director do CCRS, o mesmo tem uma programação que, culturalmente, acordou e abanou a cidade com eventos culturais diferenciadores, como a vinda da Orquestra Sinfónica e exposições com artistas de craveira nacional. A grande preocupação é a diversidade e a qualidade de forma a atrair diferentes públicos de diferentes idades. Há programas específicos para os mais pequenos, como o “Vem ser Cientista” há residências artísticas para jovens, como o RAS e há programas para toda a família como as exposições, os concertos ou os Passeios com História e Passeios com Ciência.
Com 150 cooperantes, mas uma afluência bastante superior nos seus espectáculos e actividades, o Centro Cultural Regional de Santarém tem como grupos sedeados o Grupo Guitarra e Canto de Coimbra, o TEATRINHO – Teatro para Crianças, um Ateliê de Artes Plásticas e o recém-criado Núcleo de Fotografia.

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