Retrospectiva 2018 | 14-02-2019 14:49

“Um clube histórico que soube adaptar-se às alterações sociais e económicas de Tomar”

“Um clube histórico que soube adaptar-se às alterações sociais e económicas de Tomar”
União Futebol Comércio e Indústria de Tomar é Personalidade do Ano no Desporto

O União Futebol Comércio e Indústria de Tomar é um dos grandes clubes históricos da região ainda em actividade. Nos tempos em que o comércio e a indústria da cidade eram pujantes e assumiam com meios próprios a promoção de Tomar, o clube chegou a disputar o principal campeonato nacional de futebol. Actualmente mantém o futebol sénior mas notabiliza-se principalmente pela promoção do futebol e do atletismo jovem, contando com centenas de atletas em actividade. Falámos com Abel Bento, presidente da direcção do clube desde 2012.

O nome União Futebol Comércio e Indústria de Tomar, adoptado há mais de uma centena de anos, revelava uma ligação forte do clube ao tecido empresarial da cidade. É uma relação que ainda se mantém?

Infelizmente não sentimos qualquer apoio nem por parte do comércio nem por parte da indústria que praticamente já nem existe em Tomar. O nome é só história. Se fosse só eu a mandar já tinha deixado cair o Comércio e Indústria do nome do clube.

O União de Tomar é mais conhecido pelo futebol, mas também se tem destacado no atletismo nos últimos anos. É uma aposta para manter e reforçar?

Somos um dos clubes de referência do distrito no atletismo. É uma secção que está a trabalhar bem e por isso os resultados estão à vista. Estamos sempre na disputa dos lugares cimeiros. O foco da secção de atletismo é a formação, mas não descuramos a competição sénior. Quando entramos em prova o objectivo é sempre ganhar.

A “casa” do União é o Estádio Municipal de Tomar. Gostariam de ter um espaço inteiramente vosso?

É uma situação para a qual não vejo grande saída. O União de Tomar fez o projecto de construção de um campo, para um terreno que seria cedido pela autarquia, mas a autarquia nunca chegou a ter esse terreno disponível. Ouvi dizer que andam novamente em negociações e como é uma situação que já foi deliberada pela Câmara poderia ser desta vez. A ver vamos.

Conseguir o feito de marcar presença por seis temporadas na primeira divisão (entre 1968 e 1976) é um motivo de orgulho. São tempos que o clube gosta de recordar com saudosismo ou são o exemplo de que tudo é possível?

Isso é a parte dourada da história do União. As presenças na primeira divisão, os títulos de campeão nacional da segunda e da terceira divisões... É uma página importante na história do clube, mas não vale a pena ter ilusões porque a realidade não permite que isso possa voltar a acontecer. A não ser que apareça um mágico com um saco cheio de milhões de euros.

A passagem de Eusébio e de Simões (duas antigas estrelas do Benfica) pelo União de Tomar marcou uma época. Que recordações tem desse tempo?

Passaram também o Manuel José o Raul Águas, Conhé, Barnabé e muitos outros atletas de grande nível do nosso país. Ainda assisti a alguns jogos. Esse tempo era diferente. O facto de existir um quartel em Tomar e de haver muitos jovens futebolistas a fazer o serviço militar obrigatório, que jogavam para não serem mobilizados para as colónias, levou a que muita gente envergasse a camisola unionense. Também temos que dar mérito às direcções do clube da altura, que integravam muitos construtores civis (os chamados patos bravos), que investiam no clube.

Chegou a contactar directamente com esses ídolos dos relvados?

Tive oportunidade de falar com vários deles, mas só agora mais recentemente. Na altura era muito novo. Temos até um livro com o prefácio do Simões. O Manuel José vem muitas vezes a Tomar, tem aqui laços familiares e encontramo-nos com frequência.

Fernando Mendes, presidente do clube na altura, queria mais sócios e mais público nos jogos do União. Continuam em défice?

Os campos por onde o União de Tomar passava enchiam para ver o Eusébio e o Simões, foi um sucesso. Hoje a realidade é diferente, o próprio estádio municipal tem poucas condições para acolher adeptos. Temos a promessa da autarquia para a construção de uma bancada nova em 2020, esperemos que com isso os nossos sócios e adeptos ganhem maior motivação.

O lugar do União, pela sua história e palmarés, devia ser nos campeonatos nacionais ou a actual situação reflecte a realidade do clube?

O lugar do União é no campeonato de Portugal, mas é preciso muito dinheiro, apoios da autarquia e de entidades privadas e uma estrutura que permita que o clube suba um dia e lá se mantenha. Não quero para o União o que acontece com muitos dos nossos clubes vizinhos que sobem mas não conseguem manter o lugar.

Vencer pela primeira vez a Taça Ribatejo deu novo ânimo a adeptos e jogadores?

Todos ficámos orgulhosos. Nunca tínhamos ganho a Taça, mas verdade seja dita poucas vezes participávamos nesta competição porque andávamos sempre nos campeonatos nacionais. Foi uma grande festa, mas infelizmente perdemos uma dúzia de jogadores por causa desse sucesso.

O emblema nabantino é uma referência do distrito de Santarém ao nível de praticantes da secção juvenil. Ainda há espaço para crescer?

Neste momento não temos essa possibilidade. A câmara municipal está, em parceria com o Politécnico de Tomar, a colocar um sintético novo no campo daquele estabelecimento de ensino, o que vai abrir mais espaço e possibilitar a melhoria das condições das nossas equipas. Actualmente não temos nenhuma hora em que as nossas equipas treinem sozinhas, treinam sempre três ou quatro em simultâneo. O trabalho é dificultado, mas mesmo assim os nossos treinadores estão de parabéns.

Os atletas da formação pagam para jogar? Essa receita é fundamental para manter as escolas de futebol?

Pagam uma quota mensal que engloba inscrição, seguros e transporte. É uma receita fundamental para a sobrevivência do clube. Temos muitos encargos, somos um clube pequeno mas deixamos na Associação de Futebol de Santarém cerca de 25 mil euros por época. Trabalhamos muito ao longo do ano para conseguir fundos. Hoje o União é um clube sem dívidas, mas quando a minha direcção chegou a situação era muito grave.

O apoio da Câmara de Tomar é fundamental?

Temos uma boa relação com o executivo actual e o município tem-se esforçado por melhorar as condições. Exemplo disso é a aplicação do novo sintético em parceria com o IPT. Também nos prometeu e tem cumprido equipar a pista de atletismo, para que os atletas possam treinar modalidades técnicas como o salto em altura e salto com vara, coisa que antes só podiam fazer em Leiria.

Jerónimo Capelão, responsável pela secção juvenil, afirmou recentemente que há muitos Ronaldos, referindo-se à dificuldade de gerir vontades e frustrações dos pais que gostariam de ter sempre os filhos em campo. Esta participação dos pais está a tornar-se um problema ou ainda é fácil de controlar?

Há pessoas mais impulsivas que por vezes criam problemas e questionam os treinadores. Isso é compreensível mas o que não podemos aceitar é a violência, seja dentro ou fora do campo. Bocas e coisas do género são normais. Ofensas e agressões é que não. Nunca tivemos problemas graves mas se os houver cá estaremos para os resolver.

Não perde um jogo do União?

Com tantas equipas é difícil (risos). Tenho um filho que joga na Equipa B dos seniores e gosto de assistir. Normalmente opto por estar presente nos jogos em casa. Quando a Equipa A joga em casa vou assistir. Quando joga a Equipa B também tento estar presente. É a única forma de ir acompanhando as duas equipas uma vez que jogam sempre à mesma hora.

Quanto mais condições são criadas mais aumenta o número de praticantes

O União Futebol Comércio e Indústria de Tomar é um clube centenário que nasceu em Tomar, a 4 de Maio de 1914, com uma forte ligação ao tecido empresarial da cidade nabantina. Por ele passaram fugazmente velhas glórias em fim de carreira como Eusébio, Simões, Manuel José ou Raul Águas. Foram tempos dourados que permitiram ao União de Tomar competir por seis temporadas na primeira divisão (entre 1968 e 1976). Mas o palmarés do União não se fica por aqui. Somam-se os títulos de campeão nacional da segunda e da terceira divisões e, em 2018, a conquista da Taça Ribatejo.
Actualmente com mais de 350 atletas e cerca de 18 equipas, duas das quais nos escalões seniores, o emblema de Tomar é uma referência do distrito de Santarém ao nível do futebol. A conquista da Taça Ribatejo teve um sabor agridoce, uma vez que gerou o interesse de outros emblemas pelos jogadores do União e desfalcou o clube que anda agora a reconstruir-se. O União apostou na criação de uma segunda equipa de seniores, Equipa B, para fixar os jovens atletas que fazem a transição de júnior/sénior. Muitos deles vão para a faculdade e assim podem continuar a jogar, uma vez que os treinos são só à sexta-feira.
O União de Tomar é também uma referência na área do atletismo. Em 2018 ganhou a classificação de super clube, atribuída aos clubes com maior participação em provas e, no mesmo ano, recebeu o certificado de prata por parte da Federação Portuguesa de Atletismo, por ter mais de 110 atletas federados. O Clube está sempre na disputa dos lugares cimeiros e quando entra em provas ganhar é o objectivo.
A relação com a autarquia é boa e a promessa de equipar a pista de atletismo, para que os atletas possam treinar em Tomar modalidades técnicas como o salto em altura e salto com vara, foi cumprida. Há uma nova bancada no Estádio Municipal prevista para 2020 e a autarquia está, em parceria com o Instituto Politécnico de Tomar, a colocar um sintético novo no campo do IPT, o que vai abrir mais espaço e possibilitar a melhoria das condições de treino das equipas que actualmente treinam três ou quatro em simultâneo. Fica por resolver a questão da “casa” do União para que adeptos e atletas tenham mais e melhores condições.

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