“Em criança olhava para as outras casas e tentava imaginar o que se passava no seu interior”
Inês Correia, 43 anos, presidente da Junta de Freguesia de Benavente. É natural de Lisboa e foi viver para Benavente há 15 anos. Começou por ser estagiária na Câmara Municipal, em 1997 e depois de terminar a licenciatura em sociologia passou a integrar os serviços de acção social daquela autarquia. Diz-se uma mulher transparente e acredita que nada acontece por acaso. Está no seu segundo mandato como presidente da Junta de Freguesia de Benavente e olha para a experiência como um enriquecimento pessoal e profissional.
Sou mediadora familiar mas nunca exerci porque o tempo nunca mo permitiu. Gostava de ter sido inspectora da polícia judiciária mas achei que nunca passaria nas provas físicas e por isso nunca me aventurei. Em termos de objectivos, ainda não perdi a esperança de integrar uma missão humanitária.
A Inês mulher e a Inês presidente da Junta de Freguesia são a mesma pessoa. Regem-se pelos mesmos valores e sofrem de igual forma. Se construísse barreiras e criasse distanciamento deixava de ser eu própria.
Em criança olhava para as outras casas e tentava imaginar o que se passava no seu interior. As relações familiares sempre me despertaram interesse. Não por acaso, licenciei-me em Sociologia com especialização na área da família e pós-graduação em administração social.
Acredito que na vida nada acontece por acaso e é assim que olho para a minha entrada na política. Devemos agarrar as oportunidades e aceitar os desafios que a vida nos coloca, que penso serem sempre para o nosso crescimento pessoal e profissional. É uma provação constante mas aprendo todos os dias.
Quem está na política tem de ter capacidade de se conseguir colocar no lugar do outro. E saber estabelecer proximidade com as pessoas. Um político deve saber ser humilde e perceber que não sabe e não tem resposta para tudo.
Na política não se constroem amizades quando as pessoas aspiram a cargos mais altos. Foi algo que tive de aprender a gerir internamente comigo própria mas que ainda me faz alguma confusão. O que eu quero e pelo que luto não são ambições de outros cargos políticos. Apenas quero cumprir bem o que me foi confiado pela população.
A igualdade de género ainda não é uma realidade. Para a mulher é mais difícil assumir um cargo de liderança, porque o seu papel na sociedade continua a estar associado a ser a mãe e a dona de casa. Só a mulher que tem um bom suporte familiar que aceite a sua ausência e sucesso profissional se consegue aguentar em cargos de liderança.
As pessoas não têm hábitos de cidadania e não conseguem discutir os assuntos nos locais próprios. Num ano as assembleias de freguesia têm a participação de um ou dois cidadãos porque as pessoas preferem queixar-se nas redes sociais. Pessoalmente acho que as redes sociais apenas servem para lançar boatos e discutir fofocas.
Gosto de me manter informada. Não prescindo de, ao longo do dia, tirar uns minutos para saber o que se passa no país e no mundo. É um hábito que mantenho desde muito jovem, embora agora tenha menos tempo para folhear jornais.
Pratiquei natação no Sporting e aos oito anos inscrevi-me no karaté. Um dia acertei numa colega e deixei-a a sangrar do nariz. Fiquei tão assustada que percebi que aquele não era o desporto ideal para mim. Passei para a aeróbica e dança de competição no Benfica, mas uma cambalhota mal dada deixou sequelas e impediu-me de continuar.
Gosto de passear pela nossa zona ribeirinha, em Benavente. Olhar o rio traz-me tranquilidade, mas tenho muitas saudades do mar. Tenho a sorte de ter uma casa junto à praia e sempre que posso gosto de lá ir e ficar em silêncio a olhar a imensidão do mar enquanto recarrego baterias.
Não gosto de criar ilusões às pessoas e sou transparente. Os meus olhos espelham aquilo que eu sinto. Se estiver a falar de um assunto que me deixa pouco à vontade, ou se me magoar o que estou a ouvir, vê-se no meu olhar.
Sou presidente da mesa da assembleia geral do Centro de Recuperação Infantil de Benavente (CRIB) há quatro anos. É uma instituição pela qual nutro um carinho muito especial e gostava de poder dar-lhe mais de mim, mas o tempo não mo permite.
Sou aficionada desde criança. Nessa altura as quintas-feiras à noite eram passadas em família a ver corridas de toiros na televisão e quando podíamos íamos ao Campo Pequeno. Quando chegava o momento da pega virava a cara para o lado com receio de que pudesse acontecer alguma coisa aos forcados. Hoje já tenho coragem para ver.
Tive o privilégio de crescer numa família que me educou com muito amor e me ensinou que uma casa não se constrói pelo telhado. Sempre lutei para concretizar os meus objectivos de vida, para ser boa no trabalho, no seio familiar e nas minhas relações interpessoais.
Adoro livros e tenho imensos na mesa de cabeceira à espera de serem lidos. Se um livro me retratasse, no imediato seria, “O Amor Não Cresce nas Árvores”, de Pedro Chagas Freitas, porque sempre soube semear amor para depois o colher. Sei que mereço o amor que recebo dos outros, porque eu própria o semeei, reguei e cuidei.
Os trabalhadores da função pública muitas das vezes são conotados com um carimbo de pessoas que não fazem nada. Pela minha experiência aqui na junta de freguesia, discordo totalmente. Valorizo muito os funcionários desta casa e a eles se deve muito do trabalho desenvolvido.
Se tivesse de sair do cargo agora, não sei quem sentaria nesta cadeira. Quando sair do cargo, espero que quem vier saiba valorizar o trabalho que foi deixado e que lhe dê continuidade de forma séria e honesta.