Nova sinalética dos Caminhos de Fátima e de Santiago começa com polémica
Presidente dos Amigos dos Caminhos de Fátima fala em falta de respeito. Associação dos Amigos dos Caminhos de Fátima, que até agora tratava da marcação dos percursos para orientar os peregrinos, não gostou de ver o seu trabalho ser substituído em nome da promoção turística. E foi dizê-lo à secretária de Estado do Turismo, que esteve em Valada, Cartaxo, a participar numa acção simbólica de colocação da nova sinalética.
A Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima contesta a nova sinalização que está a ser colocada para marcar o percurso dos Caminhos de Fátima e dos Caminhos de Santiago na Lezíria do Tejo e fez questão de o dizer abertamente à secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, na sexta-feira, 10 de Maio, em Valada, no concelho do Cartaxo. A governante participava numa sessão simbólica de colocação da nova sinalética em que participaram também o presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Magalhães Ribeiro e o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR), António Ceia da Silva.
A associação de apoio aos peregrinos diz que a nova sinalética dos Caminhos de Santiago e de Fátima pode confundir os peregrinos. Em causa está a mudança do logótipo do Caminho de Fátima, com mais de duas décadas de existência, a falta de informação sobre as alterações de percurso e a escassa resistência dos postes de sinalização.
Segundo o presidente da Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima, Rodrigo Cerqueira, a colocação da nova sinalética é uma falta de respeito para com as marcações antigas e por todo o trabalho realizado pela sua associação. “O Caminho de Fátima já existe há 21 anos, tal como o respectivo logótipo e muitos peregrinos já fizeram este caminho”, afirmou.
A O MIRANTE Rodrigo Cerqueira lamentou ainda o facto de os postes de sinalização serem frágeis e abanarem com o vento e a falta de uniformização das marcações, que são diferentes em vários locais do percurso entre Lisboa e Fátima. Um bom exemplo, adiantou, é o caminho entre Lisboa e Alpriate (Vialonga), no concelho de Vila Franca de Xira, que tem a marcação antiga. Mas em Vila Franca de Xira já só há a nova sinalética.
“O que a secretária de Estado devia fazer era, em vez de alterar sinalizações, investir em obras que retirem os peregrinos das estradas nacionais principais”, declarou Rodrigo Cerqueira, apontando para a necessidade de ser construída uma ponte pedonal entre a Vala do Carregado (Vila Franca de Xira) e Vila Nova da Rainha (Azambuja) para evitar que os peregrinos caminhem pela Estrada Nacional 3.
Em resposta à associação, a governante afirmou desconhecer casos de retirada da sinalização antiga, esclarecendo que o objectivo dos Caminhos de Santiago e de Fátima é tirar as pessoas da estrada e promover um caminho seguro. “Há sempre uns que entendem que o caminho devia ir mais para a direita, outros mais para a esquerda e, por isso, tivemos de tomar opções para garantir que estavam bem sinalizados e em condições de segurança”, justificou Ana Mendes Godinho, pedindo à associação que reportasse os problemas detectados por escrito para que se possa fazer um trabalho em conjunto.
Alteração da sinalética com bênção da diocese
Em Janeiro deste ano foi assinado em Santarém um protocolo entre a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) e a Diocese de Santarém, marcando o início do projecto de reestruturação sinalética dos Caminhos de Santiago e de Fátima. Na altura, o presidente da ERTAR, António Ceia da Silva, admitia ser um momento histórico, pois representava o culminar de um projecto que ia trazer mais turistas à região. D. José Traquina, bispo da Diocese de Santarém, admitiu que a Igreja não teve capacidade para assumir o projecto e, por isso, foi fundamental a ajuda da ERTAR nesse processo.
Trata-se de um projecto da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo em articulação com a Diocese de Santarém e os municípios da Lezíria do Tejo atravessados por estes dois caminhos (Coruche, Benavente, Salvaterra de Magos, Almeirim, Azambuja, Cartaxo, Santarém e Golegã). Inicialmente, o projecto da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo previa apenas a colocação de sinalética dos Caminhos de Santiago, mas a pedido da secretária de Estado do Turismo foram incluídas placas marcadoras dos Caminhos de Fátima.
Amigos dos Caminhos de Fátima extinguem actividade
A Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima decidiu extinguir actividade após a cerimónia de marcação da nova sinalética dos Caminhos de Santiago e de Fátima. A falta de diálogo e a destruição daquilo que foi o seu trabalho de mais de duas décadas na manutenção das marcações antigas caiu mal à associação, decidindo pelo fechar de portas. Em comunicado, a associação diz que transformar os Caminhos de Fátima num produto turístico é algo que não é a sua missão. Refere ainda que, a partir de agora, caso os peregrinos queiram planear caminhos, arranjar albergues, obter credenciais, mapas e dicas peregrinas, devem contactar o Turismo de Portugal.