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“Hoje não existem oportunidades para os jovens curiosos, persistentes ou superdotados”

Vai longe o tempo em que não tinha tempo para escrever, mas escrevia sempre que se justificava, e, não invariavelmente, as cartas eram publicadas. Ontem passei os olhos pela edição de 16 de Maio e decidi escrever.
O MIRANTE é o tipo de jornal grande e dispersivo, geográfica e tematicamente falando, mesmo assim retive um alerta pertinente para a época que se aproxima, os prazeres do sol que escondem os UV( raios ultravioleta), esses que não dão escaldão mas que tanto mal fazem. Logo a seguir, algo que me é tão querido - a juventude e a fixação ao meio de origem - porque o vivi na pele. Aos 20 anos saí de Santarém com quase uma certeza, não voltar à “Aldeia dos Macacos”.
Depois uma farsa “Inovação já chegou a tribunais…”, futebol, de que devia gostar, mas não gosto, Bombeiros, Policias, pobreza na Póvoa de Santa Iria, Centro Histórico, decibéis a mais em Benavente e O MIRANTE dos leitores.
Li também a reportagem sobre famílias com muitos filhos... não sei como é, mas a minha mulher teve 5 irmãos, bem, 3 e duas, dito assim para ninguém se incomodar, essa do género para mim chegou tarde, no meu tempo ou era ela ou era ele, ainda não havia esta inflação de híbridos. Mais à frente O MIRANTE economia, importante para o empresariado da região, mas sobretudo para quem fora dela pensa em investir. Já agora uma sugestão para a “Nersant”, um pequeno espaço de economia para não economistas, feito a pensar em quem não sabe, mas tem vergonha de perguntar.
A paixão de voar, uma modalidade outrora de elites, mas que começa a ser acessível, e que pode ser um grande estímulo para jovens indecisos, e não estou a pensar em pilotos, mas nas diversas tecnologias usadas nos modelos, desde aerodinâmica a software, há todo um leque de “coisas” interessantes para despertar a curiosidade dos mais novos.
Depois de me cruzar com a jovem que passou fome, e ler o tema da “Última página”, voltei às pipocas no cinema, ou seja, à entrevista feita ao projeccionista Joaquim Salgueiro. Veio-me à memória o nome de Augusto Simões Lopes e um caso, ou acaso, sucedido comigo em Canas de Senhorim.
Simões Lopes foi um pioneiro do cinema, inventou, construiu, modificou e registou patentes, esteve na transformação da pista sonora de densidade variável para área variável, uma importante descoberta que não só melhorou, como aumentou extraordinariamente as possibilidades da banda sonora, e que se manteve até aos últimos dias da película.
Em Canas de Senhorim encontrei um jovem electricista, curioso, estudioso e com vontade de progredir. Ofereci-lhe um lugar em Lisboa ou Porto mas ele estava demasiado agarrado à terra. Anos mais tarde, ao telefone com um técnico em Coimbra, tive um palpite e perguntei ao meu interlocutor se era ele o tal jovem. Era ele e estava à frente de uma fábrica de equipamentos de som. A entrevista com Joaquim Salgueiro mostra um homem que cresceu com um dom, curiosidade, a que juntou persistência.
Depois de “caçado” também fui caça cabeças mas hoje não existem oportunidades para curiosos, persistentes ou superdotados. Hoje, ou voltamos aos modelos R/C que mencionei na “Paixão de voar”, e os jovens se dedicam a uma carreira tendo bases sólidas, ou perdem o comboio das oportunidades.
Quanta juventude trata o SOM por tu sem saber usar uma tabela de logaritmos, ou mesmo a máquina de calcular, ou quantos amam o automobilismo desconhecendo o significado de binário, confundindo-o com o outro, o da numeração. Noutro país alguém teria notado o Joaquim ou o Rui, é essa a diferença que nos distancia, não da Europa rica e industrializada, mas dos países que observam a sua juventude. Por isso daqui ouso perguntar ao Joaquim Salgueiro, achas que a tua chefia está consciente do teu valor?
Tal como o investigador, eu sei a resposta.
Rui Figueiredo Romão Jacinto
(Profissionalmente era só Rui Figueiredo)

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