Deve um espaço público nobre pertencente ao município ser oferecido durante pelo menos 30 anos a um clube desportivo? Esta é a questão que está a motivar um aceso debate em Santarém, sobretudo nas redes sociais, entre apoiantes e contestatários da cedência das cafetarias devolutas do Jardim da Liberdade ao SL Benfica, para ali instalar uma Casa do Benfica de nova geração.
Na última semana, 32 pessoas da cidade lançaram um manifesto em que apelam ao presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), que repense a sua posição e que procure um destino mais abrangente para aqueles espaços, devolutos há alguns anos.
O documento, entregue ao autarca no dia 21 de Maio, não contesta o projecto em si mas a sua localização, por se tratar de um espaço nobre da cidade que, na óptica dos subscritores, não deve ser usado para “fins clubísticos que possam dividir e condicionar a sua frequência a parte da população do concelho”.
Do grupo de 32 subscritores do documento fazem parte, entre outros, o vereador e ex-presidente da câmara Rui Barreiro, os ex-vereadores Pedro Canavarro, Carlos Rodrigues, Celso Braz, Dúnia Palma, Jaime Carvalho e José Marcelino, a ex-presidente do Politécnico de Santarém, Maria de Lurdes Asseiro, o empresário José Manuel Roque e os historiadores Maria Emília Vaz Pacheco e Jorge Custódio.

Petição responde a manifesto
O contra-ataque não se fez esperar e dois dias depois da entrega do manifesto foi criada uma petição pública online dirigida ao presidente da Câmara Municipal de Santarém. “Vimos manifestar o nosso apoio à deliberação camarária unânime que viabilizou a instalação da Casa do Benfica no Jardim da Liberdade. Acreditamos que a instalação da Casa do Benfica naquele espaço, com todas as valências que são do conhecimento público, será uma mais valia para Santarém que não pode ser desperdiçada. O Jardim da Liberdade continuará a ser um espaço de todos os scalabitanos”, lê-se.
A petição termina com as justificações para a sua criação: “Porque queremos uma cidade viva; Porque Santarém não pode desperdiçar mais uma oportunidade de se afirmar; Porque o Jardim da Liberdade continuará sendo o espaço de encontro de todos os scalabitanos, agora com maior dinâmica e valências que a todos servirão; Porque acreditamos que somos mais do que 32 e também pensamos e debatemos Santarém”.

Espaço cedido por unanimidade na câmara
Em Dezembro de 2018, o executivo da Câmara de Santarém aprovou por unanimidade a desafectação do domínio público para o domínio privado do município das cafetarias do Jardim da Liberdade, um passo administrativo essencial para a cedência desse espaço e instalação no mesmo de uma Casa do Benfica de nova geração. Um projecto com múltiplas valências, entre elas um restaurante. Os termos do negócio serão definidos em protocolo a celebrar entre as partes.
Os três estabelecimentos do Jardim da Liberdade – um restaurante e duas cafetarias/bar - já se encontram encerrados há muito tempo e têm motivado recorrentes perguntas ao executivo camarário por parte da oposição. Em Julho de 2016, a Câmara de Santarém decidiu lançar uma hasta pública para concessão por cinco anos do restaurante e de uma das cafetarias. A hasta pública foi publicitada nos locais públicos do costume mas não houve interessados.