Emigrantes tiram férias para não faltar à Feira de Maio
A saudade faz com que percorram milhares de quilómetros para viver cinco dias de festa rija em Azambuja. Luís Valada, Diana Pinhão e Luís Silvano explicam o que os faz regressar todos os anos.
Chega Maio e a saudade aperta no peito dos emigrantes de Azambuja espalhados pelo mundo. Cresce a vontade de voltar à terra que deixaram para trás, quando sabem que o ambiente é de festa, de tradições e reencontros. Aqueles que podem, não perdem a oportunidade de meter férias para viver os cinco dias da Feira de Maio em Azambuja. É o caso de Luís Valada. Emigrante há 34 anos em Genebra, na Suíça, percorreu 1.900 quilómetros para vir ao encontro da terra amada. “A culpa é da saudade que esta festa nos deixa. Quando se nasce no meio destas tradições é difícil não as poder viver de perto”, diz a O MIRANTE.
É domingo de manhã, o penúltimo dia de festa em Azambuja. Sentado numa esplanada de copo na mão, tem a voz rouca de cansaço. Mal foi à cama nestes dias, tal é a vontade de reencontrar familiares e amigos. “Percorro as mesmas ruas várias vezes, atrás de caras conhecidas. Esta é a única altura do ano em que me consigo reunir com todos os meus amigos, muitos deles também emigrados”, diz.
A saudade de Azambuja também mora em Inglaterra. Diana Pinhão e Luís Silvano vieram de carro com o pequeno Mateus, propositadamente para a Feira de Maio. “Passo o ano a pensar nesta festa, no convívio, nos toiros, nas tertúlias. É uma paixão que não se explica”, diz Diana. Esta família faz parte da meia centena de elementos da tertúlia do Barril e andam os cinco dias de feira vestidos a rigor. A melhor noite, na opinião do jovem casal, é a de sexta-feira. “Ficamos a ver as largadas de touros até à 01h00, depois comemos a sardinha assada e corremos os bailaricos todos. A festa só acaba às 06h00 na pastelaria Arcada, a tomar o pequeno-almoço”, conta Diana.
Luís Valada não consegue escolher um dia preferido. “Gosto de todos”, afirma. Já não vive a feira com a intensidade de antigamente, nem se arrisca dentro das tronqueiras, porque “o corpo aos 55 anos já não tem a mesma agilidade”. Nos tempos de juventude, quando saltava para a manga, uma colhida deixou-lhe uma cicatriz cravada na perna esquerda. Sempre que olha para ela lembra-se de Azambuja, de “fugir da escola e ir para a lezíria tentar tourear os animais”, e daquela vez em que escorregou e o touro lhe passou por cima. “Consegui safar-me com a ajuda dos bombeiros que me tiraram para fora das tronqueiras, mas apanhei um susto valente”, recorda.
Apaixonada pelas tradições taurinas “até no ano em que estava grávida de cinco meses”, Diana adora a feira. Já Luís diz que não é tanto a afición que o cativa, mas o convívio entre amigos. “Temos tantas saudades da nossa gastronomia que quando estou aqui mato as saudades da boa comida, à mesa com os amigos”, diz.
Para a despedida, Luís Valada marcou um almoço com os amigos, em casa da sua mãe. Para Diana e Luís a despedida de Azambuja faz-se em ambiente tertuliano, “com uma lágrima no canto do olho” e a promessa de voltar no ano seguinte.
Uma francesa nas largadas de touros
Este ano, Luís Valada fez as malas e trouxe uma amiga. Isabel Boet é francesa e trabalha com ele em Genebra. Junto às tronqueiras olha desconfiada para o touro, mas diz que gosta da festa e da simpatia dos portugueses. Todos anos o responsável de segurança e manutenção numa multinacional de transporte de mercadorias tenta convencer colegas de trabalho a virem conhecer as tradições ribatejanas. “Não é fácil, porque imaginam logo que é como em Espanha. Mas os que já consegui trazer ficam a adorar Azambuja”, assegura.