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Partiu Sebastião Arenque figura maior da cultura ribatejana
Sebastião Arenque com a esposa Ilda com quem partilhava o quarto no lar do Centro Social e Paroquial de Azambuja

Partiu Sebastião Arenque figura maior da cultura ribatejana

Câmara de Azambuja decretou dois dias de luto municipal. O poeta que escrevia em folhas de papel pardo na lezíria, morreu no sábado, 1 de Junho, aos 96 anos.

O menino poeta e etnógrafo nascido no coração de Azambuja e guardador de gado no campo despediu-se da vida aos 96 anos, na semana em que a sua vila estava em festa. Sebastião Arenque residia há três anos no lar do Centro Social Paroquial de Azambuja e o seu estado de saúde agravara-se nos últimos anos. O tempo foi-lhe levando a memória. No mesmo quarto dormia Ilda, a mulher que foi companheira de vida do poeta durante 68 anos. Tiveram três filhos. Dois vingaram. António, Lourenço e Sebastião. São os nomes gravados nas campainhas da moradia de Casais do Regedor, em Casais de Baixo, Azambuja.
Em 2008 dizia Sebastião em entrevista a O MIRANTE: “Escrevi 14 livros sem saber escrever”, revelando que fora das encadernações ficaram umas quantas folhas. Dizia que esperava que os filhos as queimassem um dia, quando partisse.
Foram recolhidas por si as primeiras peças que vieram a dar origem ao museu municipal de Azambuja, que tem o seu nome. Integrou o Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos e foi fundador do Grupo Etnográfico “Os Casaleiros”. Em 2003 a Câmara de Azambuja agraciou-o com a mais alta distinção atribuída por essa autarquia, a Medalha de Honra do Município. Aos 89 anos recebeu o prémio “Família e Comunidade” atribuído pela Associação Portuguesa de Psicogerontologia, que o considerou um exemplo nacional de envelhecimento activo. 
O cenário campestre inspirou-lhe os poemas. O mais célebre, o “Fandango Ribatejano”, foi declamado três dias antes da sua partida pela voz do filho Lourenço, na cerimónia de inauguração da Feira de Maio. O escritor azambujense publicou 18 livros, entre obras de prosa e poesia. O lucro da venda foi sempre entregue a instituições de Azambuja. 

O dia do adeus
No dia em que foi a enterrar, cumpriu-se em sua memória, um minuto de silêncio durante a cerimónia de homenagem ao campino, figura que Sebastião eternizou em versos cantados.
Luís de Sousa, presidente do município diz que a morte do mestre é uma “perda para Azambuja e para o Ribatejo”. “Em reconhecimento do seu mérito humano e cultural, e da dedicação à comunidade deste ilustre cidadão azambujense”, a autarquia declarou dois dias de luto municipal com bandeira a meia haste.
Considera-o a presidente de junta, Inês Louro, “um homem extraordinário, exímio contador de histórias, o rosto de Azambuja”. O homem que “quis o destino” que fosse a enterrar “no dia de apanágio das tradições” da Feira de Maio.

Homenageado três dias antes da morte

Sebastião Mateus Arenque foi homenageado na quinta-feira, 30 de Maio, no Centro Social Paroquial de Azambuja. À entrada do edifício, encontra-se agora afixado o seu poema “Fandango Ribatejano”. A O MIRANTE, José Batalha, vice-presidente desta IPSS, disse na altura sentir-se orgulhosos por ter durante 12 anos como utente daquela instituição - primeiro em centro de dia e há três anos em lar - o “maior diamante de Azambuja”.

Foguetes de Lágrimas

O MIRANTE publicou em 2000 um livro de Sebastião Mateus Arenque que fala “De vidas duras e temperadas, directa ou indirectamente, pela faina lezirenta; vidas de miséria e fome, de quem possui apenas a força dos seus braços vendida semanalmente num mercado de trabalho selectivo e exigente”. O livro tem prefácio de Aurélio Lopes e uma nota de Maria Vergínia Estorninho. É dedicado à memória de Elisa Mateus Arenque, Manuel José Arenque e José Vaz Dias.

O primo que revia a ortografia

António Pedro Corça, primo de Sebastião Mateus Arenque, defende-lhe a vaidade e a criatividade. Achava graça aos erros ortográficos que o mestre lhe pedia para corrigir. “Andava eu na escola, ainda mal escrevinhava e já tinha de lhe corrigir os versos e as prosas. Batia-me à porta e dizia: primo tem de me corrigir isto que acho que tem erros.

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