Podem arranjar os médicos de família todos que quiserem mas as pessoas que se sintam mal, mesmo que por causas que se venham a revelar não urgentes, vão continuar a ir para as urgências. Elas podem não saber o que têm mas sabem que é na urgência que podem ser melhor diagnosticadas (devido aos meios de diagnóstico que ali existem) e tratadas. No Centro de Saúde não. Até podem ser diagnosticadas mas depois não podem ser tratadas. Assim, porque perder tempo? E além disso há a questão do horário. A partir das oito da noite a maioria dos centros de saúde já estão fechados. Falar em falsas urgências é um disparate. Não há falsas urgências antes da pessoa ir à urgência e ser diagnosticada.
Um médico a trabalhar no centro de saúde tem um computador, uma balança, um aparelho para medir a tensão e um estetoscópio. Por vezes tem um equipamento para fazer electrocardiogramas mas mesmo que diagnostique algo que está capaz de tratar, tem que mandar o doente para a urgência, muitas vezes em viatura própria ou de familiares e amigos, porque não tem análises mínimas nem raio xis, nem medicamentos ou um simples saco de soro. É bom ir ao centro de saúde para uma consulta de rotina, uma constipação, etc... noutras situações não vale a pena... até porque no centro de saúde não há “serviço de urgências”.
E as pessoas mais aflitas ou preocupadas com o que sentem, em vez de procurarem uma urgência básica vão logo, pelos mesmos motivos, para uma urgência médico-cirúrgica. Elas também sabem que o médico que as vê na urgência básica, as vai mandar para uma urgência médico-cirúrgica se o caso for grave. Não é que ele não pudesse fazer mais mas não tem os meios de diagnóstico da urgência médico-cirúrgica.
Não raro, o doente que poderia ser logo melhor diagnosticado e tratado é mandado embora para que um eventual agravamento da sua situação venha a confirmar o diagnóstico, ou só no dia seguinte vai fazer exames porque os especialistas da urgência médico-cirúrgica estão sobrecarregados.
Armindo Duarte Silveira Nunes