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De guardador de gado a encarregado da Junta de Vila Franca de Xira
André Barradas trabalha na Junta de Vila Franca de Xira e vive no Porto Alto

De guardador de gado a encarregado da Junta de Vila Franca de Xira

André Barradas começou a trabalhar ainda em criança e tem um percurso de vida singular. Diz que nunca lhe faltou trabalho e que a culpa talvez seja do facto de não conseguir estar parado. É uma pessoa perfecionista e séria que acredita que o maior valor no mundo do trabalho deve ser a honestidade.

Honestidade e seriedade para com os colegas devem ser os valores fundamentais em qualquer trabalho, defende André Barradas, 66 anos, que trabalha na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Vive no Porto Alto, no concelho de Benavente, mas a maior parte da sua vida é passada em Vila Franca, onde é encarregado geral da junta, tratando do correio, compras e vendas e orçamentos, uma vida de escritório bem diferente de quando começou a trabalhar, aos 12 anos, a guardar gado.
É natural do concelho de Estremoz e filho único. Na infância os pais precisavam de dinheiro e André lançou-se no trabalho do campo, guardando vacas numa propriedade junto à herdade de João Moura. “Ainda andei numa poldra a guardar vacas e íamos para as feiras com o gado, durante dois anos. Sou um apaixonado pelo campo e pelos animais. Dormíamos no campo, comíamos lá e só de duas em duas semanas mudávamos a roupa. Era uma vida de cão. Não foi fácil”, recorda a O MIRANTE. Nesse tempo, lembra-se de ajudar João Moura a ferrar garraios quando este ainda tinha sete anos.
“Naquele tempo os miúdos que saíam da escola tinham de ir ajudar no campo e no gado. Gostava dos animais e isso permitiu-me aprender muita coisa sobre o campo”, refere.
O seu primeiro contacto com o Ribatejo aconteceu quando veio com os pais para a lezíria para a safra do tomate. “De Verão era o tomate e de Inverno voltávamos ao Alentejo para a apanha da azeitona”, explica.

Trabalhar de dia, diversão à noite
Foi nesta vida pendular que conheceu a mulher, Ana Maria, com quem vive. Conheceram-se no campo e namoravam às escondidas. Casaram-se quando ele tinha 18 anos e ela 16. “Os pais dela não disseram nada. Trabalhávamos juntos e depois fugíamos juntos”, recorda com um sorriso. O trabalho era de sol a sol e os bailes no campo duravam toda a noite.
Algumas décadas depois começou a explosão de crescimento e construção no concelho de Vila Franca de Xira. André Barradas viu aí uma oportunidade para melhorar a sua vida e avançou. Entrou como pedreiro numa empresa de construção de Alhandra que estava a recrutar trabalhadores e esteve lá durante mais de uma década. Construiu, entre outros, os actuais prédios do bairro do Bom Retiro. “Chegámos a ser mais de 60 pessoas mas a firma conforme cresceu rápido também se desmoronou rápido”, lamenta.
Decidiu avançar por sua conta e não se arrepende. “Trabalho foi coisa que felizmente nunca me faltou na vida. Aprendo as coisas rápido e nunca as esqueço. Sei fazer quase tudo”, conta.
A chegada da mão de obra imigrante deixou-o praticamente sem trabalho na construção. Foi então que surgiu uma oportunidade na Junta de Vila Franca de Xira e André agarrou-a. Já lá vão 19 anos de serviço. “Fui eu a fazer as obras dentro do novo espaço da junta porque isto era tudo amplo, estive dois anos durante dias e noites de volta disto. Mas valeu a pena. Sinto-me realizado e gosto muito do que faço. Não me imagino a fazer outra coisa”, garante. André é, acima de tudo, um homem que se confessa incapaz de estar parado. “Até em casa tenho de arranjar sempre alguma coisa para me manter entretido”, remata.

De guardador de gado a encarregado da Junta de Vila Franca de Xira

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