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Foi dar aulas para Timor e acaba de ver o seu trabalho reconhecido
foto DR Jorge Carmo sente que em Timor há uma enorme admiração pelo seu trabalho de professor

Foi dar aulas para Timor e acaba de ver o seu trabalho reconhecido

José António Carmo, Abrantes, foi dar aulas para o outro lado do mundo e está feliz. Jorge António Carmo dava aulas de Física no ensino secundário desde 1992 quando decidiu concorrer a um projecto para ensinar crianças em Timor-Leste. Este ano foi distinguido com o Prémio de Ensino Secundário atribuído pela Sociedade Europeia de Física. Uma distinção inesperada mas que o deixou orgulhoso e com a sensação de que vale a pena dar sempre o melhor de si. Natural da aldeia de Água das Casas, Abrantes, o professor, de 53 anos, vai continuar em Timor enquanto sentir que a sua missão não está concluída.

Jorge António Carmo dava aulas de Física ao ensino secundário desde 1992 quando decidiu concorrer a um projecto para ensinar crianças em Timor-Leste. O professor, natural da aldeia de Água das Casas, concelho de Abrantes, nunca teve o desejo de emigrar mas sempre sentiu vontade de fazer outras coisas, noutros lugares do mundo. “Estava saturado do ensino e sentia que podia ajudar outras pessoas que precisassem”, afirma a O MIRANTE numa entrevista feita através de email. Em Março de 2018 aterrou no outro lado do mundo, em Same, Timor-Leste, para integrar o projecto CAFE (Centros de Aprendizagem e Formação Escolar).
O CAFE é um projecto na área da educação que envolve o Estado português e o Estado de Timor-Leste. Jorge Carmo lecciona várias disciplinas, sempre que tal é necessário. Também fazem formação para professores timorenses e desenvolvem actividades e projectos de apoio à comunidade. Os docentes portugueses aprendem a língua tétum, outra das línguas oficiais de Timor-Leste.
“Tenho um projecto de rádio que dinamizo em conjunto com outros professores. Fazemos um programa de uma hora por semana, onde os alunos também vão, e escolhemos um tema para debater inserido nas aprendizagens que estamos a desenvolver”, referiu, acrescentando que tem outro projecto em que leva a ciência, o conhecimento e o português a todas as escolas do município, incluindo as aldeias mais remotas.
Jorge António Carmo foi distinguido este ano com o Prémio de Ensino Secundário atribuído pela Sociedade Europeia da Física. Uma distinção atribuída a cada dois anos a um professor do ensino secundário que contribua para a profissão e, em especial, que tenha tido aplicação em vários países. O professor não esconde a surpresa quando foi informado. “Num primeiro momento fiquei incrédulo e surpreso. Depois senti um orgulho enorme e a sensação de que vale sempre a pena dar o nosso melhor. É um reconhecimento pela dedicação à causa da educação. É através da escola e da educação que os seres humanos e as sociedades poderão evoluir”, afirmou.

Pais e alunos de Timor admiram trabalho dos professores
Jorge António Carmo é um homem de acção que nunca teve medo do trabalho. Depois de concluir o 9º ano, no Sardoal, foi viver para Lisboa. Tinha 16 anos. Para ganhar dinheiro trabalhou nas obras, carregando baldes de massa e fazendo massa de cimento, recorda. Além disso, também trabalhou em cafés, restaurantes fez inquéritos para empresas de sondagens. O sonho, no entanto, era aprender e ensinar. Lutou por esse sonho e licenciou-se em Física, ramo de ensino, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã. Na Universidade do Porto fez uma pós-graduação em Ensino de Astronomia.
Os seus dias em Same começam cedo. Acorda por volta das 05h30 da manhã e duas horas depois desloca-se para a escola, que fica a cerca de seis quilómetros. Vai na carrinha do projecto CAFE ou de mota. Passa o dia a dar aulas, algo que lhe dá muito prazer. As diferenças entre Portugal e Timor-Leste são grandes. Sobretudo ao nível do ensino. “Aqui todos os alunos querem aprender, o que não acontece em Portugal. Cá, tanto os alunos, como pais e encarregados de educação valorizam muito os professores, têm uma enorme admiração pelo nosso trabalho, o que é muito recompensador para nós”, explica.
A adaptação ao país tem sido fácil. O professor elogia as pessoas que define como genuínas, afáveis, generosas e amigas. “Timor-Leste é dos países com maior biodiversidade do mundo e as paisagens são lindas. A vila onde vivo, Same, tem praias a 30 quilómetros de distância que são de uma beleza extraordinária, com águas mornas, e onde se pode comer um peixe saboroso. Ao fim-de-semana, sempre que posso, pego na mota e vou até lá sentir o cheiro do mar ou ler um livro”, conta.
Divorciado e com três filhos em Portugal, diz que do nosso país sente saudades da família e dos amigos. Tenta visitar Portugal duas vezes por ano: em Agosto e no Natal. Nessas alturas gosta de visitar a sua aldeia, situada junto à albufeira de Castelo de Bode, que considera “lindíssima”. Aproveita para comprar livros e assistir a espectáculos culturais com os amigos. Jorge António Carmo diz que enquanto sentir que a sua missão está longe de estar concluída em Timor-Leste não pensa regressar a Portugal.

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