uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Cineclubes da região mostram filmes que não passam nas salas comerciais
foto DR Nuno Guedelha, de microfone na mão, numa das sessões que decorreu durante o Verão no jardim entre a biblioteca e as piscinas de Torres Novas

Cineclubes da região mostram filmes que não passam nas salas comerciais

Espectadores não são muitos mas os amantes do cinema nunca baixam os braços . Mais do que salas de cinema, os cineclubes são espaços de convívio e de reflexão. Frequentados por sócios mas abertos ao público em geral, apresentam uma programação regular, com filmes que não passam nas salas comerciais mas que podem ser estreias ao nível do chamado cinema alternativo. Por vezes promovem sessões ao ar livre e nalguns casos, como Torres Novas, levam o cinema à prisão.

Na região, Santarém foi cidade pioneira na divulgação do cinema, tendo apresentado uma primeira sessão de animatógrafo no Teatro Rosa Damasceno em Junho de 1896, poucos dias depois de o mesmo ter acontecido em Lisboa. No mesmo ano em que se fundou o Círculo Cultural Scalabitano, 1954, foi criado o Cineclube de Santarém que manteve exibições constantes até meados dos anos 80, do século XX, altura em que suspendeu actividade.
Em 2009 o cineclube foi reactivado por uma comissão dinamizadora que quis trazer de volta uma das instituições culturais de referência da cidade e, passados 10 anos mantêm-se as sessões regulares, todas as quartas-feiras, às 21h30, no Teatro Sá da Bandeira. Rita Correia, presidente da direcção do Cineclube de Santarém, refere que este é o segundo cineclube mais antigo do país, em actividade, apenas ultrapassado pelo Cineclube do Porto.
A história do Cineclube de Torres Novas pode não ser tão antiga, mas a sua actividade não teve interrupções. Fundado em 1960 está prestes a celebrar 60 anos de vida. Depois de várias décadas a exibir filmes no Cine-Teatro Virgínia, o Cineclube viu-se obrigado, em 2011, a deslocar as exibições (por regra quinzenalmente às sextas-feiras, às 21h30) para o Auditório da Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes.
Segundo Nuno Guedelha, presidente da direcção do Cineclube de Torres Novas, a decisão partiu do então director artístico do Virgínia e foi influenciada pelo cancelamento do apoio do ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual - aos cineclubes.
O dirigente explica que o financiamento para as projecções provém, actualmente, de candidaturas a apoios da autarquia para a área do associativismo o que, não sendo suficiente, “ajuda no pagamento das despesas”. Acrescenta que o cineclube também realiza outras iniciativas financiadas através da venda de serviços ou por donativos.
Em Santarém, Rita Correia refere a O MIRANTE que o financiamento do cineclube tem sido garantido nos últimos dois anos pela Câmara de Santarém, através do PAAAC - Programa de Apoio ao Associativismo e Agentes Culturais.
No balanço possível até à data, uma vez que os números finais só serão divulgados no final do ano, Rita Correia revela que durante o primeiro semestre do ano o Cineclube de Santarém teve cerca de dois mil espectadores, número que, de acordo com a responsável, tem subido ano após ano.
Em Torres Novas, o balanço de audiência nas sessões realizadas durante o ano, que incluem as sessões no auditório da biblioteca, sessões ao ar livre durante o Verão, sessões no Estabelecimento Prisional de Torres Novas e diversas sessões pontuais realizadas noutros locais é de cerca de 80 pessoas em média (o número total de sessões ronda as quatro dezenas).

Programar é uma tarefa complexa
Para Rita Correia, programar é um trabalho complexo e desafiante. A presidente da direcção do Cineclube de Santarém não nega que um programador tem os seus gostos pessoais, mas confessa que não são eles que influenciam directamente o trabalho de programação.
O desafio consiste em apresentar propostas de programação que sejam surpreendentes e fora daquilo a que o público poderá estar habituado, “caso contrário não faz sentido a nossa existência”, refere. A programação do clube escalabitano é feita tendo por base as estreias de cinema alternativo e autoral disponíveis no país, filmes recentes cuja exibição não tem lugar na maioria das salas comerciais.
No Cineclube de Torres Novas, Nuno Guedelha realça que “apesar do carácter voluntário e profundamente amador, normal de uma associação cultural, formada por pessoas com interesses semelhantes”, há uma equipa de dirigentes que regularmente se junta e decide a programação seguindo uma série de princípios que passam pela qualidade do filme, o seu país de origem, a sua temática e a reflexão que promove.
Este último aspecto é relevante uma vez que, durante o ano de 2019, todas as sessões realizadas no Auditório da Biblioteca Municipal de Torres Novas tiveram no final uma conversa entre um convidado e o público presente sobre a temática do filme exibido.
Ainda a trabalhar na programação do próximo ano, Rita Correia destaca um dos filmes a exibir este mês, dia 20 de Novembro, “Varda por Agnès” - o derradeiro filme da cineasta Agnès Varda, que marcou a história do cinema e da Nouvelle Vague. Varda morreu este ano com 91 anos, poucas semanas depois de ter apresentado o filme no Festival de Berlim. “É um filme emocionante sobre uma mulher extraordinária e, é claro, é um filme sobre cinema. Será certamente emocionante para quem o for ver”, revela Rita Correia.
Nuno Guedelha promete um 2020 marcante para o Cineclube de Torres Novas que deve passar das 19 sessões regulares em auditório realizadas em 2019 para as 30. “No mundo louco em que vivemos e onde cada vez temos menos tempo para pensar, o cinema continua a ser, tal como o era há mais de 100 anos, uma arte onde podemos imaginar o que quisermos e experimentar realidades com as quais apenas conseguimos sonhar”, reforça Nuno Guedelha lembrando a frase de Charles Chaplin: “não é a realidade que importa num filme, mas o que a imaginação permite fazer com ele”.

Quando o cinema sai à rua
Tanto em Santarém como em Torres Novas tem havido uma aposta no cinema ao ar livre. Em Santarém a programação surge integrada no In.Santarém e contempla filmes clássicos para toda a família. Em Torres Novas privilegiam-se as sessões para crianças. No município torrejano houve sete sessões repartidas pelos meses de Julho e Agosto e o objectivo para 2020 é realizar 15 sessões entre Junho e Setembro. Segundo Nuno Guedelha, o cinema ao ar livre resultou de um forte investimento financeiro em equipamento, mas o mais difícil foi atingido “criar hábitos nas pessoas e desafiá-las a saírem de casa numa noite de Verão para assistirem a um filme em família”.

foto DR Rita Correia, presidente da direcção do Cineclube de Santarém

Exibições ainda em Novembro

No Cineclube de Santarém é possível assistir ainda este mês de Novembro aos filmes “Varda por Agnés”, de Agnés Varda, dia 20, e “Petra”, de Jaime Rosales, dia 27. O Cineclube de Torres Novas exibe a 15 de Novembro a película “No escuro do cinema descalço os sapatos”, de Cláudia Varejão, e a 29 de Novembro “Verão 1993”, de Carla Simón. Os bilhetes em Santarém custam cinco euros (metade para sócios). Em Torres Novas custam três euros (dois para sócios).

Cineclubes da região mostram filmes que não passam nas salas comerciais

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido