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Quando imprensa e jornalismo estão em crise a democracia fica debilitada
foto DR Sofia Branco na intervenção de encerramento da conferência Financiamento dos Media

Quando imprensa e jornalismo estão em crise a democracia fica debilitada

Os jornais estão em dificuldade e os regionais e locais são as primeiras vítimas da falta de financiamento dos media. Má gestão, poucos incentivos do Estado e canibalização de conteúdos por plataformas como o Facebook ou a Google podem ser a causa. A falta de credibilidade no jornalismo também não ajuda.

Os jornais estão a definhar e os regionais e locais são os que mais sofrem. Na região fecharam portas pelo menos uma dezena de títulos na última década, como o Jornal da Chamusca, O Ribatejo, Voz de Alpiarça, Vida Ribatejana e Primeira Linha, só para mencionar alguns. Os que sobrevivem fazem-no a muito custo.
Na conferência Financiamento dos Media, promovida pelo Sindicato dos Jornalistas e realizada a 2 e 3 de Dezembro em Cascais, Sofia Branco, presidente da direcção do Sindicato dos Jornalistas desde 2014, elencou algumas medidas indirectas que podem ser tomadas pelo Estado para apoio ao financiamento da comunicação social. Incentivos fiscais, ajuda nos custos de produção e distribuição e aumento da quota de porte-pago são algumas delas.
Em conversa com O MIRANTE, a propósito do Dia Nacional da Imprensa, a 9 de Dezembro, Sofia Branco refere que neste conjunto de medidas não há distinção entre meios nacionais e regionais, “embora tenhamos a noção que deve haver um reforço maior nos apoios à imprensa regional e local, nomeadamente na questão do porte-pago, onde a situação é ainda mais dramática”.
Para a sindicalista é claro que boa parte da responsabilidade do estado a que a imprensa chegou está na gestão dos grupos privados de comunicação social, que em certos casos, considera danosa. Sofia Branco defende um escrutínio com regras e critérios apertados, pois está em causa a administração de um bem público. “Mesmo nos grupos privados o bem de que dispõem e que comercializam é público, é informação. E isso faz toda a diferença”, atira.
Sofia Branco defende que se o jornalismo deve ser considerado um bem público, quer seja oferecido por públicos ou por privados, o mesmo deve acontecer com os grupos de comunicação. “Os princípios de boa governança e de boa gestão, de transparência e critérios rigorosos devem ser aplicados às empresas privadas e isso não tem acontecido, o que é grave”, diz, adiantando que o sindicato vai formalizar uma proposta nesse sentido junto do Governo e da Assembleia da República.
Outro dos grandes problemas que o sector enfrenta é a apropriação de conteúdos feita por gigantes como o Facebook ou a Google. É uma questão que Sofia Branco diz que não pode sair da agenda. “A responsabilidade social dessas empresas é enorme e não dão o retorno devido à sociedade. Canibalizam conteúdos e, pior ainda, permitem que esses conteúdos sejam alvo de difamação, manipulação e desinformação”, considera.
Para a sindicalista houve sempre o argumento de que Portugal não pode fazer nada sozinho, mas apesar de o mais eficaz ser uma resposta integrada com a União Europeia, há respostas individuais que se podem dar, tal como fez França que acabou de taxar essas plataformas. “As plataformas devem ser responsabilizadas pelo roubo de conteúdos que não lhes pertencem e que tiveram um custo associado, quer humano, quer financeiro”, declara.

Jornalistas em crise e com má imagem junto da opinião pública

Tal como os meios de comunicação também os jornalistas estão em crise. De acordo com o retrato traçado pelo estudo do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa para o último Congresso dos Jornalistas, um terço dos jornalistas exerce a profissão sem vínculo laboral. Um número que aumenta para quase metade dos jornalistas se forem contabilizados os profissionais com contrato a termo.
Considerando os números da Comissão Nacional da Carteira Profissional de Jornalista, existem cerca de 6.500 jornalistas em Portugal e 80 a 85% deles estão em Lisboa. Sofia Branco fala de um sector demasiado concentrado que, depois de Lisboa, conta com 10% dos jornalistas no Porto, restando apenas 5% para o resto do país.
Para a presidente do sindicato é dramático que as receitas do Estado, por exemplo, no que toca à publicidade institucional, estejam todas excessivamente concentradas nos jornais nacionais, quando deviam ser divididas para sustentar projectos regionais já existentes e favorecer o aparecimento de novos.
Os jornalistas não têm muito boa imagem nas sondagens de opinião. A classe tem um problema de imagem relacionado com a credibilidade que, para Sofia Branco, é uma reacção exagerada da sociedade, que confunde a parte com o todo. “Há uma série de confusões, desde logo sobre o que é jornalismo e o que não é, e que tem que ver também com o facto do próprio jornalismo não se explicar às pessoas, não gastar algum tempo a esclarecer como funciona”, refere.
Sofia Branco acrescenta que é importante perceber que o jornalismo é feito por pessoas e que, obviamente, cometem-se erros. Se são erros intencionais isso já é outra questão. “Isso acontece a uma parte ínfima dos jornalistas em Portugal e custa-me que por causa de alguns jornalistas ou de alguns órgãos de comunicação, que o fazem de uma forma mais regular, todos levem por tabela”, desabafa, acrescentando que não se pode ignorar o bom jornalismo que é o garante da democracia.

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