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Histórias de Natal contadas pelos bombeiros de Santarém
Há 12 anos nos Bombeiros Municipais de Santarém Pedro Suzana, 43 anos, já esteve várias vezes de serviço nos dias de Natal e Ano Novo

Histórias de Natal contadas pelos bombeiros de Santarém

A tragédia da criança que morreu, os coelhos à chuva e outras histórias de bombeiros no Natal e Ano Novo. O MIRANTE esteve à conversa com bombeiros dos Municipais de Santarém nesta época festiva de Natal e Ano Novo para recordar histórias de quem passa estas alturas a trabalhar. Entre situações trágicas e outras cómicas há casos que nunca saem da memória dos operacionais.

Pedro Pires é bombeiros há 24 anos mas não se esquece de quando teve que socorrer uma criança vítima de atropelamento que acabou por falecer

O momento era de descanso. Uns estavam sentados no sofá a ver uma série na televisão. Outros bebiam café. Chega uma chamada à central de telecomunicações a relatar que tinha acabado de ocorrer um atropelamento em Alcanhões, concelho de Santarém, que envolvia uma criança com sete anos. Entram na ambulância e ligam a sirene. À medida que se deslocam para o local o sentimento de ansiedade mistura-se com o nervosismo. Quando chegaram a situação era bastante crítica. Sabia-se que pouco ou nada se podia fazer, mas nunca se perdeu a esperança. Transportaram a criança para o Hospital de Santarém. A triste notícia logo chegou aos bombeiros municipais de Santarém. A criança não tinha resistido aos ferimentos e tinha falecido.
Este é um dos casos ocorridos há uns anos na época festiva que não sai da cabeça do bombeiro Pedro Pires, há 24 anos a socorrer pessoas nos Bombeiros Municipais de Santarém. O caso aconteceu na localidade onde reside e isso mexeu ainda mais com os seus sentimentos. O profissional já colecciona vários serviços no Natal ou Ano Novo, ausente da família. “Quando se é solteiro e não se tem filhos é mais fácil, mas quando se tem crianças já não é bem assim. São momentos especiais como o sorriso delas a abrir os presentes que vamos perdendo e custa bastante”, confessa a O MIRANTE o bombeiro de 42 anos.
Nestas épocas festivas quem mais contacta os bombeiros são pessoas idosas, que vivem sozinhas, que precisam de falar com alguém para enganar a solidão. “Nessas alturas, muitas vezes vamos a casa dessas pessoas fazer-lhes um pouco de companhia e conversar”. Esta não é propriamente uma função de bombeiros, mas o espírito altruísta e solidário leva-os também a confortar quem precisa.

O parteiro de serviço
São sete e meia da manhã de sexta-feira, 27 de Dezembro, e as tarefas que faz diariamente ainda mal começaram. Segue-se a verificação do veículo auto-escada. Há uma saída para o rio Tejo para mais um dia de buscas para encontrar o rapaz da Golegã que desapareceu no dia 22 de Dezembro, por isso aproveita-se para se verificar como está o barco antes de ser transportado para o rio.
Feitas as verificações Pedro Pires faz uma pausa para o pequeno-almoço. Enquanto aconchega o estômago conta, em tom de brincadeira, que é dos bombeiros que mais partos já realizou ao serviço dos Municipais de Santarém. Ao todo foram já 14, mas o que mais o marcou foi o primeiro. Nesse dia, lembra, quando saiu do quartel nunca pensou que fosse ele o parteiro de serviço. “Recordo que estava mesmo muito nervoso. É que não é apenas uma, são duas vidas que estão em jogo”, adianta, dizendo que, apesar de as condições não serem as mesmas de um hospital, tudo correu bem.
A manhã já vai a meio. Enquanto uns, devidamente munidos de luvas, desinfectam uma das ambulâncias de serviço, outros, destacados para o efeito, vão para o Tejo continuar as buscas. Vão começar nas Caneiras, mas hoje decidiram aumentar o perímetro de buscas até ao concelho de Salvaterra de Magos. E enquanto no exterior a azáfama está instalada, dentro do edifício o silêncio vai imperando. Avança-se até à central de telecomunicações, mesmo ao lado da sala do comando. Neste dia é o bombeiro Pedro Suzana que está destacado para receber as chamadas de emergência.

Do hambúrguer aos coelhos que apanhavam chuva
Há doze anos na corporação de Santarém, depois de nove anos como bombeiro voluntário em Coruche, Pedro Suzana, de 43 anos, também já esteve várias vezes de serviço nas épocas festivas de Natal e Ano Novo. Alguns dos quais são dignos de registo como peripécias. Bombeiro profissional desde 1999 diz que todos os dias são marcantes, mas há situações que, pelo insólito, nunca são esquecidas. Ainda há alguns anos, recorda, quando estava na corporação de Coruche, houve uma vez uma senhora, num dia de temporal, que contactou os bombeiros para que fosse alguém a sua casa porque tinha os coelhos na coelheira e estavam a apanhar chuva. “Com tantas árvores derrubadas e inundações a senhora estava muito aflita por causa dos animais”, refere enquanto solta uma gargalhada.
Neste último Natal Pedro Suzana esteve a trabalhar durante doze horas seguidas e acabou por jantar e tomar o pequeno-almoço ao mesmo tempo às seis e meia da manhã. “Comemos um hambúrguer e foi o comandante que pagou”, ri-se.

Carlos Grazina

Natal com três dezenas de ocorrências

A época de Natal é conhecida pelos excessos e, por isso, os soldados da paz muitas vezes não têm mãos a medir para acudir a tantos casos. Este ano, entre os dias 24 e 25 de Dezembro, os Bombeiros Municipais de Santarém registaram quase três dezenas de ocorrências. De acordo com Carlos Grazina, adjunto de comando dos Bombeiros Municipais de Santarém, houve 25 emergências pré-hospitalares, um acidente de viação, um incêndio urbano, um resgate de um animal e uma situação de queda de fachada de um prédio.

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