Justiça desculpou o vizinho dono da fossa onde o Santiago caiu e ficou paraplégico
Santiago Rodrigues começa a ter pequenas evoluções do seu estado de paralisia cerebral muito grave, por ter ficado sem oxigénio dentro de uma fossa séptica numa localidade do concelho de Tomar. Sete anos e muitos tratamentos depois já abre as mãos.
Passaram sete anos e a evolução do estado de Santiago Rodrigues é feita de pequenas vitórias. Após muitos tratamentos de fisioterapia consegue agora abrir as mãos e ter já alguma força no pescoço, mas ainda não a suficiente para manter a cabeça direita muito tempo. Fez 12 anos no dia 23 de Dezembro. Mas a melhor prenda que teve foi há cinco anos quando nasceu o seu irmão Salvador. É ele quem mais estimula Santiago com brincadeiras, com beijos, com amor. A família não desiste de lutar por mais qualidade de vida para o menino que, em Maio de 2012, caiu numa fossa séptica do vizinho, irmão do avô, em Vale Carneiro, Tomar, e ficou com lesões graves e completamente dependente para tudo.
Sete anos depois chega também ao fim uma batalha jurídica contra o dono do terreno onde estava a fossa. O tribunal de primeira instância desculpou o vizinho, seguiram-se dois recursos, para a Relação e para o Supremo. Todas as decisões foram no mesmo sentido, com o Supremo a considerar que a fossa estava tapada com uma chapa e, embora não se tivesse apurado a resistência desta, não se pode atribuir responsabilidades ao dono da fossa. Considerando mesmo que terá sido o menor, na altura com cinco anos, a desviar a chapa que cobria o buraco, salientando que o menino contribuiu para a tragédia, subtraindo-se à vigilância da avó paterna.
Teresa Rodrigues, a avó, deixou o trabalho no Hospital de Tomar, onde fazia limpezas, para se dedicar a tratar do Santiago. É ela que vai com ele temporadas para uma clínica na Maia, onde faz fisioterapia. Os custos são muitos, não só os dos tratamentos, como sobretudo do alojamento. E só é possível com donativos de instituições e de pessoas da comunidade de Tomar. A família faz rifas e espalha caixas de recolha de moedas nos estabelecimentos. Já recolheram três camiões de tampinhas de plástico, que são trocadas por dinheiro. De resto os 60 euros que o menino recebe de complemento de abono de família, num total de 90 euros, e os 80 euros que a avó recebe do Estado como cuidadora, não são mais que uma pequena esmola.
A avó não se conforma com a justiça. “Como é possível uma criança de cinco anos conseguir desviar uma tampa de uma fossa e ser culpada”, interroga-se. Teresa Rodrigues, desabafa: “Não é justo uma criança, que com cinco anos não tem maldade, ficar assim”. Agora a vida desta avó, da mãe da criança, que trabalha num aviário, e do pai, que é madeireiro, é viver um dia de cada vez. É lutar para que pelo menos o Santiago tenha a melhor qualidade de vida possível. Santiago está confinado a uma cama ou a uma cadeira de rodas. Não anda, não mexe os braços, não fala.
O fatídico dia 14 e o desenho que ficou por acabar
Naquele dia 14 de Maio deu-se pela falta do Santiago e de imediato a família começou a procurá-lo. Só passado algum tempo se verificou existir uma fossa e o pai do menino atirou-se para o interior e resgatou o filho inanimado. O menino foi para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde esteve um mês e treze dias. No dia do acidente tinha estado no jardim-escola como habitualmente. Deixou um desenho de uma flor a meio, dizendo que o completava no dia seguinte com mais calma. No seu quarto em casa da avó há uma árvore desenhada na parede com folhas de várias cores e palavras como amor, força, coragem.
A avó Teresa tinha ido buscá-lo às 15h30 ao jardim-escola. Esteve a ver desenhos animados na televisão, comeu um iogurte e depois foi brincar para o pátio da casa. A avó observava-o pela janela, como sempre. A meio da tarde quis comer pão com manteiga e depois foi calçar umas botas de borracha para não sujar as sapatilhas porque havia lama no pátio. Quando estava a preparar o jantar, Teresa teve um mau pressentimento quando não o viu a brincar lá fora. Não se sabe quantos minutos o Santiago esteve dentro da fossa, sem que o cérebro recebesse oxigénio. Voltou a dar sinais de vida, após uma hora a receber assistência por parte da equipa do INEM. Santiago ficou com uma paralisia cerebral muito grave, mas a família acredita que um dia ainda vai acabar a flor que ficou a meio.