uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“Não podemos esconder o aterro e fingir que o problema não existe”
Silvino Lúcio diz que o Governo não pode compactuar com um crime ambiental

“Não podemos esconder o aterro e fingir que o problema não existe”

Silvino Lúcio quer ser presidente da Câmara de Azambuja e acredita que a polémica em volta do contestado aterro para deposição de resíduos não o vai atrapalhar. Actual vereador anunciou candidatura à presidência do município na tomada de posse como líder da concelhia do PS, onde deixou recados ao Governo do seu partido.

O presidente da concelhia do PS de Azambuja e actual vereador na câmara municipal, Silvino Lúcio, anunciou que será candidato à presidência da Câmara de Azambuja nas próximas eleições autárquicas em 2021. A novidade foi deixada na sexta-feira, 6 de Março, durante a tomada de posse dos novos dirigentes da concelhia socialista.
O militante socialista, de 61 anos, que já em 2017 tentou ser candidato à presidência do município e acabou por ser afastado pela estrutura regional do PS do topo da lista, reconhece que foi sob a liderança do actual presidente de câmara, Luís de Sousa (PS), que Azambuja se tornou um “concelho com solidez económica e financeira” movido por uma “estratégia de gestão rigorosa, responsável e criteriosa que levou à redução gradual da dívida do município”.
Aproveitando a presença do presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, não abdicou de mandar recados para o Governo de António Costa. Começou pela tauromaquia, dizendo não compreender o “castigo através do IVA nas actividades tauromáquicas” e pediu que não fosse o “Partido Socialista a tentar acabar com uma tradição que também é de Azambuja”.
Quanto ao aterro de resíduos industriais não perigosos que tem sido causa fracturante entre as forças políticas em Azambuja, Silvino Lúcio admitiu que esse equipamento “não cumpre com as regras mais básicas”, onde o amianto é misturado com resíduos orgânicos. Lembrou o “cheiro nauseabundo e as aves aos milhares”, sem esquecer que o projecto inicial de 4,6 hectares não foi respeitado, ocupando agora uma extensão de mais de 20 hectares.
Silvino Lúcio defendeu que “o Governo não pode de forma nenhuma compactuar com este atentado à vida” e que deve fazer esforços para que a licença ambiental que caduca em 2021 não seja renovada.
Silvino Lúcio antecipou um novo ciclo socialista no concelho de Azambuja pautado pela “união, trabalho e empenhamento”, lembrando que no passado “foi assim com João Benavente, Joaquim Ramos, Luís de Sousa e terá de ser assim com o próximo candidato”.
Na noite da tomada de posse que decorreu com o auditório repleto no Páteo do Valverde, em Azambuja, Silvino Lúcio deu ainda resposta às questões de O MIRANTE, onde promete uma liderança forte dentro de um PS coeso que não se assusta com o agitar das bandeiras do PSD.

“Não é verdade que este executivo tenha feito pouco pelo ambiente”

Já se assumiu como candidato em 2017, mas a FAUL acabou por chamar a si o processo e optar por Luís de Sousa. Acredita que é desta ou poderá surgir outro nome a atrapalhar?
Uma situação dessas não se pode voltar a repetir e devia ter sido evitada no passado. O partido está coeso e acredito que estão reunidas todas as condições para ser eu a avançar. Estou com força, mais vontade, mais maduro e mais conhecedor dos problemas que tenho de enfrentar.
A surgir outro candidato divide-se o PS ou pondera saltar fora e candidatar-se como independente?
Nunca o faria, apesar de no mandato anterior ter ponderado candidatar-me como independente. Pensei em fazê-lo pela pressão que senti por parte das pessoas para avançar. Hoje, com 30 anos de experiência no poder local, tenho outra maturidade e as condições essenciais para dar ao PS mais quatro anos de trabalho e desenvolvimento neste concelho.
O imbróglio com o aterro vem atrapalhar ao ponto de poder empurrar o PS para a primeira derrota em mais de 30 anos na Câmara de Azambuja?
Não, não acredito nisso. O partido já assumiu alguma responsabilidade, com reservas claro, porque há que ter em conta que as alterações legislativas também vieram permitir o agravamento da situação, permitindo que ali pudessem ser depositados outros tipos de resíduos, não desejáveis. É claro que as pessoas estão descontentes e não podemos esconder o aterro e fingir que o problema não existe. Vamos ter de o enfrentar e se não o fecharmos já vamos tentar tudo por tudo que a licença ambiental não seja renovada em 2021.
A câmara municipal tem poder para conseguir fechar ou travar a renovação da licença ambiental?
Penso que sim. Esperamos que o gabinete de advogados contratado pelo município nos aponte caminhos e nos dê os mísseis para travar esta guerra e dizer basta ao aterro.
Diz que não podem esconder o aterro, mas só dois anos depois de entrar em funcionamento é que este executivo está a tomar medidas concretas e a admitir que foi um erro.
E não o escondemos, mas só agora ficamos perplexos com o avolumar de situações dúbias, como a deposição de amianto e resíduos orgânicos. A empresa quer esconder o que não lhe interessa e só agora percebemos que aquela estrutura não está a funcionar como devia.
O PSD de Azambuja tem ou não tirado aproveitamento político com o caso do aterro?
Quanto pior estiver o PS na resolução deste e outros problemas melhor fica o PSD, isso é inegável. Mas não acho que esteja a conseguir chegar onde pretende. A população de Azambuja tem tido uma palavra clara sobre isso e pedido que todos os partidos trabalhem em conjunto para resolver este problema, que, acredito, não irá contabilizar simpatias para o PSD.
O ambiente vai dominar a lista de propostas eleitorais do PS?
O aterro veio despertar-nos ainda mais para as matérias ambientais que, obviamente, vão estar reforçadas para 2021. Não é verdade que este executivo tenha feito pouco pelo ambiente, mas fará mais e melhor. Queremos, entre outras medidas, apostar na descarbonização, limpar a ribeira do Valverde, cujo problema já está identificado, abrir o parque ambiental em Aveiras de Baixo e cuidar do Paul em Manique.

“Não podemos esconder o aterro e fingir que o problema não existe”

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido