“Os clientes são exigentes e para manter um negócio é preciso saber cativá-los”
Isidro Alves José fundou a loja O Semeador, em Torres Novas, há 30 anos. Antes disso foi cobrador na empresa de transportes Os Claras, um trabalho onde aprendeu a lidar com pessoas, a ser rigoroso com o dinheiro e cuidadoso no trato. O negócio de venda de rações e sementes já correu melhor, mas o seu optimismo não o deixa desmoralizar.
Isidro Alves José, proprietário e gerente da loja O Semeador, em Torres Novas, nasceu em Vila de Rei, distrito de Castelo Branco, filho de agricultores. Mas foi em Torres Novas que começou a trabalhar e constituiu família. Casado, com dois filhos e cinco netos, lembra o ano em que ocupou o cargo de cobrador na empresa de camionagem “Os Claras”, na então vila torrejana, em 1968. Ali esteve até 1976, ano em que a empresa foi nacionalizada e passou a integrar a Rodoviária Nacional. Desde então passou a tratar da papelada. Saiu em 1993 quando a empresa começou a reduzir no pessoal. O Semeador tinha nascido três anos antes e a dispensa do trabalho veio mesmo a calhar. “Juntou-se o útil ao agradável”, diz bem-disposto. Recebeu uma indemnização e fez investimentos que hoje lhe permitem ter uma vida estável.
É proprietário de um café e de um restaurante na cidade, fruto do investimento e das poupanças que foi fazendo ao longo da vida. É com o rendimento desses estabelecimentos que consegue pagar a renda mensal do espaço e todas as despesas fixas, como água, luz e telefone. “O Semeador não dá para o ganho”, refere, adiantando que, ainda assim, é na loja que se sente bem. Não é de ir para o café e passar lá uma tarde inteira a jogar às cartas. Gosta de estar distraído na loja e de ter dois dedos de conversa com quem ali entra.
“Hoje os clientes são exigentes e para manter um negócio é preciso saber cativá-los”, adianta Isidro recordando que aprendeu muito nos tempos em que foi cobrador. “Aprendi o rigor a fazer os trocos e aprendi a ser cuidadoso quando tinha que carregar os volumes na camioneta. Se me diziam para ter cuidado que a mercadoria era frágil, eu tinha, mas havia colegas que ainda faziam pior”, lembra.
Noutros tempos vendia-se tudo muito bem e o forte da casa O Semeador era a ração para aves. Havia muitos columbófilos na região, com centenas de pombos que tinham que alimentar. Hoje, com a crise, reduziram o número de aves. Além disso, refere, há também cada vez mais concorrência com outros espaços comerciais.
As sementes também se vendiam bem e havia meses em que a facturação andava na ordem dos 600 a 700 euros, só em sementes. Agora é preciso meio ano para facturar um valor que chegue perto de uma centena de euros. “As pessoas preferem comprar as plantas para plantar em vez de semear”, lamenta Isidro lembrando que antes tinha uma clientela “que dava gosto”. Vendia dezenas de carteiras de sementes, sobretudo à terça-feira, dia do mercado municipal.
Nos tempos áureos chegou a ser proprietário de mais duas lojas, uma em Alcanena e outra em Mira de Aire. Agora, para não perder os clientes que ali fidelizou, sempre que pode faz entregas ao domicílio em Alcanena, Mira de Aire e Vila Moreira. Embora o negócio não corra como noutros tempos, Isidro não perde o ânimo e está de bem com a vida.
Optimista por natureza, fará 75 anos em Abril e conta-nos que teve uma tropa de luxo, em Tancos, no regimento de pára-quedistas, onde integrava o serviço geral. “Tive uma vida muito boa”, realça, acrescentando que, por sorte, na altura em que os soldados foram enviados para o Ultramar precisavam de escriturários no regimento onde estava. Foi o lugar que ocupou, vindo a tornar-se, mais tarde, o responsável pela bomba de combustível do regimento.
Na vida civil também não tem razão de queixa. Durante 26 anos fez viagens frequentes a Lisboa para abastecer a loja e garante que nunca teve um acidente nem apanhou uma multa.