População de Coruche antecipa-se ao Governo para pegar de caras o Covid-19
As escolas ficaram sem alunos, as ruas desertas e alguns comerciantes encerraram os estabelecimentos. Com casos no concelho, a população começou o isolamento social dias antes das directrizes do Governo.
A população de Coruche não esperou pelas medidas decretadas pelo Governo para combater a propagação do novo coronavírus e pegou o problema de saúde pública pelos cornos. As pessoas começaram a tomar atitudes preventivas assim que souberam da existência de casos de Covid-19 na vila. Na tarde de quinta-feira, 12 de Março, poucas pessoas andavam nas ruas e alguns estabelecimentos comerciais começavam já a sentir os primeiros sinais de quebra no negócio.
Os poucos populares que circulavam nas ruas seguiam em ritmo acelerado e, em alguns casos, com a preocupação estampada no rosto. Quase ninguém quis parar para falar à reportagem de O MIRANTE, ou porque iam com pressa para se recolherem em casa, ou porque conheciam algum dos três infectados da vila e não quiseram falar do assunto.
As papelarias e tabacarias viram decrescer para metade as vendas de jornais, revistas e raspadinhas. A loja do senhor Romão, na Rua 5 de Outubro, uma das mais movimentadas de Coruche, está a vender menos de metade das raspadinhas de um dia normal. Em média, entre a tarde de quarta-feira e o dia de quinta-feira, venderam-se pouco mais de 200, quando o normal é cerca de 500 por dia. “As pessoas entram compram cigarros ou o jornal e saem, não ficam aqui a raspar como é normal fazerem”, dizem as funcionárias do estabelecimento. Por volta das 17h30 era normal numa quinta-feira ver filas até à rua de pessoas para registar o Euromilhões, cenário que não se verificava.
Na Papelaria Cinderela, uns largos metros à frente, a proprietária, Cidália Felizardo, sentiu também a diminuição na venda de jornais e revistas. Os seus clientes regulares são na maioria idosos e agora não põem os pés na rua. “Penso que vamos ter que acabar por fechar a loja, porque os números de infectados vão subir de certeza”, analisa a comerciante. “Se tivessem encerrado logo a fábrica (Dacsa Atlantic) era o que tinham feito de melhor, porque todos os casos tiveram origem lá, agora vamos aguardar para ver no que resulta”, comenta de braços apoiados sobre o balcão e os olhos na porta da loja, onde ninguém aparece.
Os restaurantes e cafés estão às moscas. As esplanadas que, em dias de sol, como era o caso, enchem-se de gente ao fim da tarde, estavam com muito pouca afluência. Um dos estabelecimentos que confecciona refeições rápidas serviu na quinta-feira 70 dos habituais 100 pratos. Os talhos do centro da vila parece que são dos poucos a ganharem com a situação. Os clientes são menos mas levam maior quantidade. “Senti que as pessoas estão a preparar-se para ficarem em casa. Entram menos clientes mas levam mais quantidade”, explica Alfredo Tomás, proprietário de vários talhos em Coruche, que abastece grande parte dos restaurantes da vila, que agora compram metade do que é costume.
O gás é um bem essencial que os coruchenses não esqueceram. Pedro Dias é vendedor de gás, na Rua de Santarém, e tem notado o aumento nas vendas de botijas. O comerciante não esconde o receio perante o coronavírus, dizendo que trabalhar por conta própria tem muitos riscos e, numa altura destas, não se atreve a fechar as portas. Nessa rua já se encontravam três estabelecimentos comerciais encerrados.
Teste positivo da aluna da Escola Secundária lançou o pânico
O teste positivo, para o Covid-19, da jovem de 13 anos, aluna da Escola Secundária, fez soar as campainhas de alarme em Coruche. A aluna manteve contacto com colegas, professores e assistentes operacionais, na escola. E, segundo revelaram à nossa reportagem, durante o fim-de-semana antes, esteve a fazer trabalhos escolares com colegas de turma e foi ainda a uma festa de aniversário.
Na quarta-feira, 11 de Março, muitos pais e encarregados de educação, assim que souberam do teste positivo da jovem, deixaram os empregos e foram buscar os filhos à escola. No dia seguinte, só houve um dezena de alunos na Escola Secundária de Coruche, num universo de cerca de 600. E só foram à escola para fazerem testes de avaliação.
A Direcção Regional de Saúde decidiu que apenas os alunos da turma 8ºA, frequentada pela aluna infectada, os professores e duas assistentes operacionais, que tiveram contacto com a aluna, tinham necessidade de ser colocados em vigilância activa. A restante comunidade educativa não tinha indicações para abandonar a escola, o que levantou um grande alvoroço entre os encarregados de educação e direcção da escola, que pediam o encerramento imediato do espaço. Uma posição à qual se juntou o presidente da câmara, Francisco Oliveira, e os deputados do PS eleitos por Santarém. Mas as escolas, em Coruche e em todo o país, acabaram por fechar só na segunda-feira, 16 de Março. Tal como muitos outros serviços públicos.
Preços inflacionados nos desinfectantes e máscaras de protecção
Em todas as superfícies comerciais de Coruche tinha acabado o stock de desinfectantes para as mãos. Apenas uma farmácia tinha desifectante em pequenos frascos, vendidos ao preço de 9,53 euros, sendo que em situação normal não chega a cinco euros, garantiu uma cliente que acabava de sair da farmácia. O preço das máscaras para protecção foi também inflacionado. “Já cheguei a comprá-las por 0,20 cêntimos, agora tive que dar 1,95 euros”, refere a mesma cliente que não quis dizer o nome à nossa reportagem.