Há dois anos, quando tive um acidente, lembro-me de olhar para o tecto do Hospital de S. José, enquanto estava a ser transportada numa maca, e pensar que talvez fosse um sinal para dar mais à comunidade (afinal sei umas coisas sobre a aprendizagem da leitura e mudei tão pouco as escolas portuguesas - presunção da minha parte, eu sei!).
O meu neurologista desenganou-me e disse-me que tinha sido apenas um azar do caraças. Depois, com a cura, continuei com a minha vidinha de sempre a fazer o que mais gostava: escrever. Quando devia ter dado mais.
Vem isto a propósito, e talvez seja uma ficção, que o que sair deste período pode ser uma selva ainda maior ou um mundo um pouco mais solidário. Nos últimos anos umas centenas de empresas globais dominaram o mundo, têm as suas garras em quase todos os países. Existem continentes de misérias, homens com possibilidades de vida fantásticas a par de milhões de homens desempregados, sem casa, sem assistência médica, sem educação. A classe média dos países mais ricos consome muito além das suas necessidades. E àqueles que ficam para trás, é-lhes repetido que é da sua responsabilidade serem tão pobres: serão demasiado burros ou demasiado preguiçosos. O que também é válido para os países.
Pensemos, enquanto estamos em casa, no que podemos fazer para mudar um pouco este estado de coisas. Não acredito em mudar o mundo, mas acredito em mudar as pessoas que estão ao nosso lado. Pensem nisso.
Ana Cristina Silva, Vila Franca de Xira