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Família do coronel Taxa Araújo fala em incompetência e admite recorrer à justiça
João Manuel Taxa Araújo

Família do coronel Taxa Araújo fala em incompetência e admite recorrer à justiça

O coronel Taxa Araújo morreu na via pública e o seu corpo esteve mais de 10 horas à espera de uma viatura que o levasse para a morgue. A filha diz que houve muita incompetência e pondera pedir responsabilidades.

A família do coronel João Manuel Taxa da Silva Araújo admite agir judicialmente contra o Estado, disse a sua filha, Filipa Taxa de Araújo, em conversa com O MIRANTE. O ex-comandante da antiga Escola Prática de Cavalaria, de 78 anos, faleceu à porta de casa, na Rua Virgílio Arruda, na zona do Sacapeito, em Santarém. A família esteve mais de 10 horas à espera que o corpo fosse retirado da via pública, aos olhos dos vizinhos e por onde passaram algumas pessoas. Muito deste tempo deveu-se à autorização da Delegada de Saúde, Helena de Sousa, numa altura em que estava a acompanhar casos de Covid-19.
O caso ocorreu no dia 21 de Março e, segundo Filipa Taxa de Araújo, “nenhuma autoridade competente deu qualquer explicação, até porque deixar um cadáver na via pública durante mais de 10 horas não vai fazer ninguém assumir tamanha incompetência”. Na ficha do médico da VMER – Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Hospital de Santarém, que prestou os últimos socorros ao pai, “não dizia em lado nenhum que ele era suspeito de Covid-19”. Aliás, não foi feito nenhum teste. “Não fizeram teste ao meu pai, nem a mim ou à minha mãe, que ainda tivemos contacto com ele”, revelou.

As complicações burocráticas
Segundo a filha do coronel, o procurador do Ministério Público, Luís Amador, decretou, pelas 14h00, que o corpo podia ser entregue à família, o que queria dizer que não havia suspeitas de crime. Mas faltava a autorização para remoção do corpo. “Todos os que estiveram no terreno não tinham capacidade de decisão nem sabiam como proceder, desde bombeiros, agências funerárias até à Polícia de Segurança Pública (PSP). A partir daí foi como se o corpo tivesse ficado a cargo da família embora não lhe pudéssemos tocar”, conta. O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, desdobrou-se em contactos mas nada conseguiu fazer.
A delegada de saúde não chegou a deslocar-se ao local para oficializar o óbito, mas enviou para o comando da PSP a declaração de óbito, “por causas desconhecidas”, por volta das 17h00. Só depois deste acto é que o procurador deu ordem para o corpo ser transportado numa viatura específica e preparada para transporte de cadáveres, que está nos Bombeiros de Benavente. O corpo foi levado para a morgue do Hospital de Santarém já passava das 20h30. Dois dias depois o Ministério Público (MP) disse que não haveria autópsia “porque apenas se estão a realizar autópsias a vítimas de crimes”, referiu Filipa. “Nem sabemos do que morreu, nem um funeral pudemos fazer ao meu pai”, lamenta.

O transporte que foi de Benavente
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Benavente, José Nepomuceno, disse a O MIRANTE que recebeu, às 18h00, um telefonema do Procurador a solicitar o transporte de um corpo que estava na via pública. “Referiu que se tratava de um caso suspeito de infecção de Covid-19”. O comandante solicitou o envio de documentação oficial “como ditam os procedimentos” e uma hora depois chegou o e-mail do Procurador. José Nepomuceno diz que em pouco mais de 30 minutos preparou devidamente a equipa, que ainda teve de fazer o caminho até Santarém. O MIRANTE contactou a Delegada de Saúde de Santarém, Helena de Sousa, mas sem êxito.
João Manuel Taxa da Silva Araújo foi cremado na quarta-feira, 25 de Março, no crematório de Póvoa de Santa Iria. As cinzas do meu pai “ficarão a aguardar o momento em que possamos prestar-lhe uma homenagem condigna”, disse a filha a O MIRANTE.

Quem era João Manuel Taxa Araújo?

João Manuel Taxa Araújo nasceu a 30 de Novembro de 1941, em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha. Foi um dos comandantes da Antiga Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Posteriormente, comandou a extinta Brigada de Trânsito (BT) da Guarda Nacional Republicana. Era sócio do Núcleo de Santarém da Liga dos Combatentes. Esteve na guerra colonial na Guiné Bissau e em Angola. Possuía vários louvores e condecorações militares, realçando-se, a Cruz de Guerra de 3ª Classe.

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