uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“Vivemos com a sensação horrível de que podemos ser infectados a qualquer momento”
Inês Marmelo trabalha na área de neonatologia, onde lida com bebés prematuros

“Vivemos com a sensação horrível de que podemos ser infectados a qualquer momento”

Inês Marmelo é enfermeira em Londres há dez anos e confessa o seu orgulho no povo português que assumiu o isolamento social mesmo antes do Governo tomar medidas.

Assim que chega a casa do trabalho o marido dá-lhe o gel desinfectante à porta, despe-se à entrada, onde deixa a roupa e a mala, e vai directamente tomar banho. Só depois de estar bem desinfectada é que vai ter com os três filhos. Inês Marmelo, 39 anos, é natural de Almeirim e é enfermeira há cerca de dez anos no Chelsea and Westminster Hospital, no centro de Londres, capital do Reino Unido.
Inês trabalha na área da neonatologia, onde lida com bebés prematuros. A enfermeira está preocupada com o coronavírus e lamenta que em Inglaterra não tenham sido tomadas medidas de combate à Covid-19 mais cedo.
“Os meus filhos deixaram de ir à escola quando as escolas em Portugal encerraram. Normalmente, cá são muito rigorosos com as faltas mas desta vez não disseram nada. Acho que não quiseram dizer a verdade às pessoas mais cedo para não causar o pânico, mas a estratégia de todos apanharmos o vírus para ficarmos imunizados é uma verdadeira estupidez. Alguém me perguntou se quero ficar infectada?”, afirma. E não esconde a preocupação face ao que aí vem: “Agora vamos ter tempos muito complicados e espero que não tenhamos tantos casos como em Itália”, lamenta.
A enfermeira diz estar muito orgulhosa do povo português porque mostrou ser muito ponderado e preocupado. “Ficaram em casa mesmo antes do Governo lhes pedir. Tiveram noção da gravidade do problema e isso é muito importante para as coisas correrem melhor”, considera, acrescentando estar preocupada com a sua família, nomeadamente os pais e o avô, que vivem em Almeirim.
Apesar do primeiro-ministro britânico ter decretado o Estado de Emergência a 23 de Março, Inês Marmelo conta que ainda vê muita gente no metro, sem as distâncias de segurança. Também nas ruas vê muita gente a correr e a passear. “Ainda ontem vi um pai a brincar com o filho às cavalitas em frente ao hospital onde trabalho. Há pessoas que não têm a mínima ideia da gravidade deste vírus que se alastra muito rapidamente e não mata só idosos, também mata jovens saudáveis”, alerta.

“Somos seres humanos e temos medo”
Inês fica emocionada sempre que vê imagens da população a bater palmas aos profissionais de saúde mas admite ter medo e diz que quem disser o contrário está a mentir. “Somos seres humanos e temos medo de trabalhar porque existe sempre aquela sensação horrível de que podemos ser infectados a qualquer momento e podemos transmitir o vírus à nossa família. Vivemos um período muito complicado e os próximos tempos vão ser dramáticos”, diz.
No hospital onde trabalha ainda existe capacidade de resposta. O problema vai ser quando o número de infectados aumentar e não houver pessoal nem equipamento suficientes para cuidar de todos os doentes. Alguns enfermeiros do seu serviço já foram escalados para trabalhar nos Cuidados Intensivos para Adultos, onde estão os pacientes com Covid-19. Inês sabe que também pode ser chamada.
“Recebemos uma directiva a dizer que, mesmo que a nossa família esteja infectada ou de quarentena, temos que ir trabalhar. Eu só pergunto: se o meu marido, que está em casa a cuidar dos meus filhos, ficar infectado quem é que vai ficar com os filhos”.
Inês receia que aumente a violência caso a população deixe de ter dinheiro para comprar comida porque, garante, esta é uma situação que vai demorar a ser resolvida. E receia também que os portugueses se fartem de estar em casa e que isso aumente o número de infectados e de mortos. “Com o sol e o calor a chegar vai ser difícil ficar em casa e isso pode trazer problemas. Fiquem em casa até ser seguro, por muito que custe. É para o bem de todos”, aconselha.
A enfermeira garante que se tivesse conseguido vender a casa que comprou em Londres já tinha regressado a Almeirim. Assim que o conseguir faz as malas e volta com a família definitivamente para o seu país.

“Vivemos com a sensação horrível de que podemos ser infectados a qualquer momento”

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido