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Professores e alunos dos Politécnicos de Tomar e Santarém trabalham mais em isolamento
foto DR Catarina Ferreira

Professores e alunos dos Politécnicos de Tomar e Santarém trabalham mais em isolamento

A pandemia do coronavírus alterou os métodos de ensino-aprendizagem entre professores e alunos isolados em casa. O MIRANTE conversou com dois docentes e dois estudantes que contaram como tem sido a adaptação a esta nova realidade.

foto DR Ruben Marques

Os horários dos estudantes do ensino superior tornaram-se ainda mais irregulares desde que os Politécnicos fecharam no dia 16 de Março. “Não tenho horas para acordar. Depende da quantidade de trabalho que tenho para fazer”, refere Catarina Ferreira, 20 anos, aluna do curso de Educação Social, do Instituto Politécnico de Santarém. Para a jovem, natural do Cartaxo, o ensino à distância não é tão dinâmico e motivador como o presencial, mas tem as suas vantagens: “Estou mais organizada para dar resposta aos trabalhos que chegam diariamente ao email”, afirma.
Catarina Ferreira, que gostava de trabalhar como educadora num estabelecimento prisional, explica que a manter-se esta situação é necessário alterar algumas práticas de ensino. “As aulas por videoconferência têm de ser mais bem pensadas. Ninguém aguenta estar duas ou três horas à frente de um computador a ouvir teoria”, afirma.
Perpétua Silva Santos, professora no Politécnico de Santarém, sublinha que tanto docentes como alunos foram “atropelados” por esta nova realidade. Não existe a exigência de ter de chegar sem atrasos à sala de aula, mas existe a obrigação de dar resposta às dezenas de dúvidas que os cerca de 50 alunos que ensina lhe colocam diariamente via plataformas digitais.
“Temos trabalhado arduamente para manter a normalidade e qualidade do ensino. Não estamos de papo para o ar em casa”, sublinha a professora que está há cerca de oito anos a leccionar em Santarém. Em relação às sessões por videochamada tenta que sejam o mais proveitosas possível: “Servem fundamentalmente para sistematizar o trabalho feito, clarificar as dúvidas dos estudantes e transmitir-lhes segurança e esperança de que “vai ficar tudo bem”.

Tomar com método de ensino diferente
Luís Ferreira, 42 anos, é director do curso de Engenharia Mecânica, no Instituto Politécnico de Tomar. Esta nova realidade colocou-o a pensar em novos métodos de ensino que promovam a autoaprendizagem. O desafio de criar conteúdos interessantes para os cerca de 40 alunos a quem dá aulas é estimulante. “Não faço videoconferências a debitar teoria. Seria chato para mim e para os alunos”, afirma.
Em vez disso criou um canal no Youtube onde descarrega vídeos com cerca de dez minutos e onde junta toda a matéria de forma resumida. “É uma forma de os responsabilizar e economizar tempo, como se estivesse numa sala de aula invertida”, explica, garantindo que tem ficado surpreendido com os resultados.
Ruben Marques, 21 anos, é um dos alunos de Luís Ferreira e diz que não podia estar mais satisfeito com este novo método de ensino. “É muito mais vantajoso porque podemos parar ou andar para trás caso não tenhamos assimilado a matéria”. O curso de Engenharia Mecânica exige muita disciplina, isso obriga-o a ter horários fixos para não cair na armadilha das distracções habituais.
O estudante toca guitarra, órgão e gosta de fazer edição de vídeo, mas teve de assumir a responsabilidade de continuar a aprender para um dia criar os seus próprios projectos. “Continuo a respeitar o horário das aulas. Trabalho todos os dias das 15h00 às 19h00”, diz a O MIRANTE. O isolamento social está a ensinar-lhe que a vida em sociedade deve ser mais valorizada. “Sinto falta dos meus amigos. Não há tecnologia que substitua uma boa troca de olhares ou um sentido abraço”, conclui.

foto DR Luis Ferreira

Trabalhar enquanto se cuida da família

Perpétua Santos considera que era muito mais fácil gerir o tempo de trabalho quando se deslocava para o campus do Politécnico de Santarém. Com uma mãe de 85 anos a necessitar de cuidados a toda a hora, tem neste momento duas profissões: a de professora e de cuidadora. “Tenho de estar sempre em vigília. Não posso pegar no computador e fechar-me numa sala”. De resto, mantém-se tudo igual, excepto na forma de se vestir e calçar, conta em jeito de brincadeira. Luís Ferreira mantém-se fiel aos seus horários. Acorda diariamente às 08h00 e vai sentar-se com o filho, de 11 anos, a trabalhar. “Estou sempre de olho vivo para ver se ele está a cumprir com as responsabilidades”, refere. Esta pandemia tem-no posto à prova. “Com o passar do tempo os níveis de ansiedade vão aumentando e os de paciência vão diminuindo. Tem sido desafiante”, remata.

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