Admiro o esforço dos profissionais de sectores fundamentais para a população, que, nestes dias difíceis, não se queixam dos riscos que correm; não se tentam furtar às suas responsabilidades e não se andam a vangloriar do que fazem. Sei que são centenas de milhares e tenho familiares e amigos entre eles.
Não me comovo com quem anuncia ao mundo que está há quinze dias sem ver a família, por exemplo, ou quem se aproveita para fazer apelos para a entrega de água ou comida, apesar de não ter verdadeira necessidade de tal, como já tive oportunidade de ver.
Pessoas que, pelos mais diversos motivos, passaram anos e anos afastadas das famílias, sem poderem ver filhos ou pais, nem sequer pela Internet, por não haver Internet; sem poderem falar com eles por telefone porque o uso de telefone era restrito; sem poderem viajar para junto deles, nem sequer para um funeral de um pai, não deixarão de olhar para este tempo em que até voluntários podem candidatar-se a prémios, como também já li, com espanto.
Quem esteve na guerra em África ou emigrou ilegalmente para França e Alemanha, nos anos sessenta e setenta (ou quem teve um familiar nessa situação), sabe bem daquilo que falo.
Fernando de Carvalho