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“É difícil a quem é de fora perceber a nossa paixão pela tauromaquia”
Cristina Mateus é um dos rostos do Ateneu Artístico Vilafranquense

“É difícil a quem é de fora perceber a nossa paixão pela tauromaquia”

Cristina Mateus, 46 anos, é directora de eventos do Ateneu Artístico Vilafranquense

Cristina Mateus nasceu em Vila Franca de Xira e ama a sua terra que considera muito bairrista e com tradições singulares únicas no país. Fica triste se não houver a festa do Colete Encarnado este ano mas avisa que se assim for os vilafranquenses celebrarão a dobrar em 2021. Formada em comunicação, faz parte da direcção que ajudou a recuperar o Ateneu Artístico Vilafranquense.

Nasci em Vila Franca de Xira e considero-a uma terra lindíssima com tradições muito enraizadas. É isso que nos torna numa terra muito castiça e singular. Há outras localidades do país que não têm qualquer tradição peculiar nem nada que as distinga das restantes como nós temos. A maioria das pessoas que nasce e cresce nesta cidade tem gostos muito específicos por toda a envolvência que temos do campo e das nossas festas. Tudo isso faz-nos estar e ser de uma maneira diferente. Somos também muito bairristas e isso tem a ver com os gostos comuns que as pessoas têm e vão alimentando ao longo da vida.
Às vezes quem é de fora nem percebe be porque temos esta vivência e paixão, por exemplo, com a tauromaquia. A tauromaquia nasceu com a maioria dos vilafranquenses. Todos se habituaram a conviver no campo e a ver os campinos e os toiros desde pequenos. Mesmo quem não gosta das corridas gosta das largadas ou da festa principal do concelho, o Colete Encarnado, das suas tertúlias, da união de amigos e do ambiente da festa.
Fico muito triste se não puder haver Colete Encarnado este ano. Infelizmente este ano estamos a viver um momento terrível e se pensarmos bem o Colete até é o menor dos nossos problemas. Não me parece que possa haver festa. Com isso perde a cidade e os vilafranquenses mas ganhamos todos em saúde. E isso é o mais importante. Para o ano fazemos a festa a dobrar. E temos de pensar que ainda poderemos ter a Feira de Outubro. A nível de turismo será muito mau para a cidade mas valores mais altos se levantam neste momento. Acho que os vilafranquenses ainda não interiorizaram que dificilmente haverá Colete Encarnado este ano.
A minha formação foi sempre em comunicação e cheguei a fazer rádio durante muitos anos. Quando cheguei ao Ateneu foi para tentar dar uma ajuda. Só que com a dimensão e potencial do Ateneu tem de se trabalhar de uma forma profissionalizada no seu auditório. O nosso objectivo era rentabilizar o auditório e conseguimos. No último ano já foi rentável e sustentou muitas das actividades regulares da associação. Mas para isso é preciso trabalhar muito e a tempo inteiro.
As pessoas estão felizes por o Ateneu estar a passar por um bom momento e estão a frequentá-lo. É uma colectividade respeitadíssima na cidade, muito pela dinâmica que ali se instalou nos últimos anos. As pessoas aproximaram-se do Ateneu, ficam contentes com o nosso trabalho e sentem orgulho por a colectividade conseguir respirar outra vez. Mas toda esta situação da pandemia está a ser terrível.
A presença das pessoas nos nossos eventos faz com que o nosso trabalho valha a pena. Sentir a sala sempre cheia é o nosso oxigénio para fazer mais e continuarmos a fazer as coisas acontecerem na cidade. Com as contingências actuais todos os alugueres e espectáculos estão cancelados até ao Verão. Isso terá um impacto de milhares de euros.
Não considero que em todas as áreas o profissionalismo das associações seja o futuro. No nosso caso estamos a falar de uma colectividade que tem o principal e maior auditório do concelho por isso a sua exploração deve ser gerida com profissionalismo. É preciso uma presença a tempo inteiro. Estamos a 20 minutos de Lisboa e por isso o Ateneu precisa de ser apelativo.
Tira-me do sério o contacto com pessoas tóxicas e falsas que minam tudo à nossa volta. Temos sempre sonhos para concretizar e os meus sonhos de hoje são diferentes dos sonhos de amanhã. Hoje o meu sonho era poder ir para o meu local de trabalho descansada, como normalmente, sem pôr em causa a minha saúde e a dos outros. Temos de continuar a sonhar mesmo nos piores momentos.
Continua a ser inconcebível pagar portagem para podermos ir a Lisboa pela auto-estrada. Muitas vezes até se evita a auto-estrada porque tem sempre muito trânsito e alguns acidentes. Mas não se compreende pagar portagens neste concelho. Ninguém percebe o motivo. Essa situação sufoca e prejudica todas estas localidades com imensos carros nas estradas nacionais. Já não se justifica.
Vejo futuro no associativismo. As pessoas tornaram-se um pouco egoístas mas temos visto vários jovens no Ateneu que gostam do ambiente da associação e eles próprios nos dizem que querem fazer mais actividades connosco. Os miúdos precisam de ser estimulados para fazer as coisas. E se houvesse maior aproximação das associações aos jovens isso era possível. Esta geração mais nova tem coisas muito boas. Temos de criar o hábito de trazer estes miúdos para dentro das associações. Acredito que seremos capazes de os converter para a causa.

“É difícil a quem é de fora perceber a nossa paixão pela tauromaquia”

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