Especial Covid-19 | 27-04-2020 17:46

As repercussões do confinamento e distanciamento social imposto pela epidemia na Saúde Mental

As repercussões do confinamento e distanciamento social imposto pela epidemia na Saúde Mental
João Protásio Fialho

João Protásio Fialho*

O recente confinamento social imposto pelo Governo através da declaração do estado de emergência, com vista à limitação dos contactos sociais e assim da cadeia de transmissão do vírus causador da Covid-19, tem naturalmente consequências em termos de saúde mental a nível nacional, das diversas comunidades locais e também a nível individual.
Em termos comunitários, dado tratar-se de uma situação inédita nas últimas décadas na Europa, e de contornos pelo menos parcialmente desconhecidos, foi tratada de um modo geral pela comunicação social de uma forma alarmista e por vezes pouco criteriosa, o que levou ao desenvolvimento de uma situação de medo colectivo e individual.
Se, numa primeira fase, os medos e receios mais intensos foram determinantes no cumprimento do isolamento social, numa segunda fase, ao longo dos últimos dias, houve uma adaptação natural da comunidade à situação, tendo desenvolvido natural e gradualmente estratégias de contacto humano e solidariedade que, para além do valor solidário de doação, serviram para estabelecer e restabelecer alguns laços interrompidos. Assim de alguma forma foram limitadas as consequências em termos psicológicos.
Contudo, em função da diferente vulnerabilidade individual, nomeadamente devida por patologias prévias, quer físicas, quer psicológicas, foram desenvolvidos sentimentos de ansiedade intensa, e por vezes de pânico, com o agravamento ou desenvolvimento de quadros ango-depressivos.
Contudo importa salientar que: em primeiro lugar os serviços médicos e hospitalares continuam naturalmente disponíveis para apoio efectivo e tratamento de situações agudas que surjam ou o agravamento de quadros crónicos prévios: em segundo lugar é preciso contextualizar a gravidade potencial e presente do quadro clínico decorrente de uma infecção por Covid-19, salientando que a presente situação é forçosamente temporária, e dentro de semanas estará, quer o impacto da doença na comunidade, quer as presentes medidas de isolamento social, gradualmente diminuídas; em terceiro lugar a doença é fundamentalmente benigna, sobretudo em comparação com as diversas doenças crónicas e outras doenças graves de que as pessoas sofrem – E QUE DEVERÃO CONTINUAR A SER SEGUIDAS E MEDICADAS, TAL COMO ANTES DA PRESENTE SITUAÇÃO. Isto é muito importante porque normalmente as doenças para as quais as pessoas podem deixar de pedir consultas, apoio e tratamento são muitas vezes mais graves e de maior mortalidade do que a infecção por Covid-19.
Assim é importante notar e frisar que o isolamento e as presentes medidas de confinamento não deverão nunca impedir o recurso normal aos serviços médicos, hospitalares e de saúde, tal como antes da presente situação. Estas medidas foram tomadas por uma razão de saúde comunitária em que a sua elevada contagiosidade poderia levar ao recurso aos serviços de saúde de muitas pessoas em pouco tempo. Nota-se que a sua gravidade em termos de saúde publica decorre da impreparação dos serviços hospitalares, (em Portugal e no mundo ), para o afluxo potencial de pessoas aos serviços de urgência em pouco espaço de tempo, e não da gravidade própria da doença em termos individuais de uma forma geral.
Claro que as pessoas pertencentes aos escalões etários mais elevados e aquelas com doenças crónicas susceptíveis de diminuir a sua capacidade natural de defesa face ao coronavírus, deverão assumir especiais cuidados de protecção e distanciamento social, mas não deverão nunca deixar de tratar as outras doenças de que sofriam ou que possam surgir entretanto. Naturalmente que nunca deverá estar em causa o seguimento, tratamento e apoio da saúde dos cidadão em termos gerais e abrangentes. Felizmente que a doença eventualmente provocada pelo coronavírus, (que em cerca de 90% dos casos evoluirá de uma forma benigna normalmente sem sintomas), está muito longe de ser a principal ameaça para a saúde e vida das pessoas.
*Psiquiatra - Doenças Nervosas.

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