Especial Covid-19 | 27-04-2020 17:46

Efeitos cardiovasculares do vírus Covid-19

Efeitos cardiovasculares do vírus Covid-19
Vítor Paulo Martins

Vítor Paulo Martins*

A idade está intimamente relacionada com o risco de morrer na presença do novo coronavírus SARS-COV2, sendo a mortalidade em geral de 3%, mas passando para mais de 10% nos doentes com mais de 70 anos e de 20% após os 80 anos.
A presença de patologia cardiovascular prévia, como hipertensão arterial, doença isquémica (angina de peito e enfarte do miocárdio no passado), insuficiência cardíaca e diabetes acarreta maior risco de mortalidade por Covid-19. Mas mais importante que isso será saber que se estes problemas estiverem controlados o risco é semelhante ao da população geral para o mesmo grupo etário.
Este vírus parece actuar na hemoglobina diminuindo o transporte de oxigénio dando origem a hipoxemia e consequente falta de ar. A pneumonia é a complicação mais temível da doença dado que provoca destruição dos alvéolos pulmonares e daí a necessidade de ventilação mecânica nos doentes mais críticos.
Pode haver lesão cardíaca com quadros de miocardite, de enfarte agudo do miocárdio e de choque cardiogénico com necessidade de implantação de aparelhos com realizam a oxigenação e a circulação do sangue (VA-ECMO) até que o organismo recupere.
As bases científicas para a terapêutica são escassas e incluem fármacos antivirais, fármacos usados no VIH, antibióticos e anti-maláricos que são apesar de tudo a uma esperança em situações desesperadas.
Os efeitos secundários destes medicamentos, que poderão estar na génese de arritmias malignas, obriga a monitorização electrocardiográfica contínua porque a presença de sinais premonitários de alteração do ritmo cardíaco leva-nos nalguns doentes, a inflectir na terapêutica.
A imunidade adquirida nos recuperados é também uma incógnita. Os testes de imunidade e o futuro irão esclarecer esta questão. Apenas a chegada da desejada vacina irá resolver de modo definitivo esta pandemia.
Apesar dos cuidados de Saúde actuais estarem todos direcionados para esta pandemia assiste-se a que muitos doentes com clínica sugestiva de enfarte agudo do miocárdio, AVCs e quadros de insuficiência cardíaca graves não recorrem ao Serviços de Urgência Hospitalares ou aos seus médicos assistentes dado o receio de poderem apanhar este vírus.
Neste contexto tem havido muitas mortes não relacionadas com Covid-19 no domicílio. Daqui a uns meses, a situação clínica dos sobreviventes destas situações, será grave e muitas vezes já irreversível. Por isso é fundamental termos a consciência que temos que continuar a recorrer aos médicos na presença de situações agudas em que o tratamento tem que ser precoce.
Ou seja, temos que ter medidas de contenção para evitar a propagação do vírus mas também de estar atentos que todas outras as situações médicas têm que ser equacionadas para que não se verifiquem sequelas de muito mau prognóstico no futuro próximo.
*Médico Cardiologista e Arritmologista
Director Clínico da Clínica do Coração Santarém.

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