uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

A virginal Golegã e uma Fátima sem sex appeal

Carismático Manuel Serra d’Aire

O município da Golegã prossegue a sua saga contra a pandemia e para resguardar os seus cidadãos do famigerado coronavírus que trancou meio mundo em casa e nos impediu de praticar actos outrora tão triviais como comer um cozido à portuguesa numa tasca ou chamar nomes ao árbitro, porque nem sequer há bola...
Já há algumas semanas que a Golegã não tinha infectados e a autarquia queria manter as fronteiras invioláveis ao bicharoco microscópico. Por isso, quando na passada semana foi detectado um operacional dos Bombeiros Voluntários da Golegã com Covid-19 o município fez questão de anunciar no Facebook que o doente é residente no vizinho concelho de Santarém. Logo não conta para a virginal estatística goleganense. Nada de brincar com coisas sérias. Era só o que faltava: um escalabitano vir borrar a pintura dos imaculados números covidianos da Capital do Cavalo!
Tal como há umas décadas havia uma série de municípios portugueses (entre eles alguns ribatejanos) que ostentavam, ufanos, à entrada do seu território, uma placa a anunciar que o forasteiro estava a chegar a uma “Zona Livre de Armas Nucleares”, também o concelho da Golegã devia difundir ao mundo em grandes parangonas que é um oásis livre de Covid-19. Mesmo que, um par de dias depois do caso do bombeiro, tenha surgido um caso de infecção entre nativos goleganenses. O karma é tramado...
O 13 de Maio em Fátima foi uma tristeza este ano. Meia dúzia de gatos-pingados a acenar lenços brancos à Nossa Senhora, um bispo a pregar para as moscas e para as câmaras de TV e um tempo cinzento e molhado a remeter para melancólicas invernias compuseram o retrato da peregrinação de 2020, o ano zero pós-Covid.
Sem aquela amálgama de gente e todo aquele bulício onde se emaranham crentes e cépticos, ricos e pobres, elegantes e saloios, carteiristas e autoridades, nortenhos e sulistas, vendedores e consumistas, Fátima parece um homem nu apenas com as peúgas calçadas. Fica deprimente, murcha, constrangida. Que Nossa Senhora faça alguma coisa para a cena não se repetir, pede com humildade este herege retorcido que se assina. Porque Fátima faz parte do nosso ADN, como o Fado, o Futebol e a Festa do Avante!
No meu último escrito dei conta da minha surpresa ao saber que algumas corporações de bombeiros andavam a ser chamadas para cantar os parabéns a você em festas de aniversário. Só que, afinal, a coisa não se ficava por aí. Também a PSP e a GNR andaram ao despique nesse campeonato particular, para ver quem mais reluzia nas redes sociais e na comunicação social. Perante tão espantosos feitos, estou a pensar em recorrer às autoridades para abrilhantarem a minha festa de aniversário, daqui a umas semanitas. Sabes se eles também trazem o bolo e o champanhe, tipo serviço completo, ou isso tem que ficar por minha conta? É que a vida não está fácil e confesso que me dava jeito…
Um abraço teleguiado do
Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...