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Grupos de teatro vivem momento dramático sem espectáculos e sem dinheiro
Na região o Cegada, de Alverca do Ribatejo, foi o único grupo a juntarse à Vigília Cultura e Artes que decorreu em mais 16 cidades do país

Grupos de teatro vivem momento dramático sem espectáculos e sem dinheiro

O Cegada, de Alverca, foi um dos grupos de teatro participantes na Vigília Cultura e Artes que pretendeu evidenciar o descontentamento dos agentes culturais face à escassez de apoios do Estado. O Grémio Dramático Povoense apoia a luta dos artistas enquanto o director do Fatias de Cá, de Tomar, diz que não alinha em manifestações.

A pandemia deixou-os sem espectáculos, sem rendimentos ou apoios levando-os a sair à rua em defesa das artes e da cultura. Em Alverca do Ribatejo actores, encenadores e produtores técnicos da companhia de teatro Cegada manifestaram-se, a 21 de Maio, em frente ao Teatro Estúdio Ildefonso Valério para criticar a forma de acesso à linha de emergência lançada pelo Ministério da Cultura numa vigília que decorreu em mais 16 cidades do país.
Rui Dionísio, director artístico do Cegada, disse que o objectivo foi dar voz e sensibilizar as pessoas para um sector fragilizado que o Governo deixou ao abandono. “Concorremos a este apoio de emergência e mais uma vez ficámos de fora. Sem qualquer explicação fomos considerados não elegíveis”, referiu, criticando que nem a lista de entidades apoiadas, nem os critérios de selecção vão ser do conhecimento público.
A linha de apoio criada pelo Governo teve uma dotação inicial de um milhão de euros reforçada entretanto com 700 mil euros para apoiar 311 projectos entre 1.025 pedidos recebidos.
A manifestação em Alverca foi silenciosa. Durante todo o dia elementos do Cegada, divididos por turnos, receberam o apoio de quem ia passando. Por cada apoiante encheram um balão e acrescentaram um signatário ao abaixo-assinado, dirigido ao primeiro-ministro António Costa, onde pedem que seja reconsiderado o corte total do financiamento estatal a esta companhia de teatro.
Em Dezembro, recorde-se, o Cegada foi um dos 75 grupos que não recebeu qualquer apoio no Programa de Apoio Sustentado 2020-2021, da Direcção-Geral das Artes (DGArtes). Um cenário que juntamente com um teatro fechado deixa o futuro do Cegada na corda bamba. “Com zero euros do Governo não é possível garantir as despesas até ao final do ano. Iremos entrar em dívida e somos obrigados a fechar”, revelou Rui Dionísio.

Teatro com tantas regras não é rentável
O Grémio Dramático Povoense, da Póvoa de Santa Iria, optou por não participar na vigília, mas nem por isso deixou de mostrar o seu descontentamento perante a decisão do Estado em criar um concurso em vez de um fundo de emergência. “Deixa-nos uma sensação agridoce porque ‘O Casulo’ - Núcleo de Artes Performativas do Grémio Dramático Povoense - foi apoiado em 13 mil euros. Mas não deixamos de achar que é injusto este apoio depender de decisões de um júri, sem que se saibam os critérios de escolha”, apontou Jorge Feliciano, actor e director artístico do grupo.
Além disso, criticou, a verba só pode “ser usada em projectos concretos e não para colmatar as dificuldades que as companhias têm, incluindo para fazer face às despesas correntes”. Jorge Feliciano reconhece que “há situações muito dramáticas na área da cultura” que se agravaram com a pandemia e que não vão terminar a 1 de Junho com a reabertura das salas de espectáculos. No caso deste grupo, que tem uma sala com 84 lugares, mas que pelas novas regras só vai poder ter 12, “é inviável retomar a actividade”, apontando Setembro como possível data para a reabertura.
Também Rui Dionísio vincou que nenhum grupo de teatro consegue sobreviver da sua bilheteira quando a sala de espectáculos tem poucos lugares (77) e não é apetecível do ponto de vista comercial. “Nenhum teatro pode viver sem subsídios”, defendeu, explicando que no caso do Cegada as receitas de bilheteira representam apenas 19 por cento do orçamento anual. O apoio da Câmara de Vila Franca de Xira representa 21 por cento e o do Estado - que este ano não foi atribuído - 60 por cento.

“Somos voluntários do trabalho cultural”
A companhia de teatro Fatias de Cá, de Tomar, não aderiu à vigília. Com 41 anos de existência, o grupo nunca foi subsidiado pelo Estado e desta vez também não alinhou no concurso de emergência. O director artístico, Carlos Carvalheiro, explica porquê: “Estamos impossibilitados de concorrer porque vivemos entre um meio profissional e amador onde pagamos para fazer teatro. Somos voluntários do trabalho cultural e é assim que vamos sobrevivendo”.
Sobre o mote da vigília, o responsável reconhece que a pandemia deixou os artistas numa situação de aperto financeiro, mas considera que se trata de uma “crise que virou uma espécie de histeria colectiva”. “Não vou entrar nesse esquema de andar a gritar pelos artistas”, afirmou, lembrando que a pandemia está a afectar negativamente toda a economia.

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