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“Alverca é cada vez menos uma cidade e mais um conjunto de bairros sem vida própria”
João Fernandes entende que o afastamento dos jovens resulta de uma crise de credibilidade das instituições

“Alverca é cada vez menos uma cidade e mais um conjunto de bairros sem vida própria”

João Fernandes é um jovem de Alverca que se envolveu na política aos 18 anos motivado pelo desejo de contribuir para a comunidade. É investigador de ciências sociais, líder da bancada do Bloco de Esquerda na Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho e eleito da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. Diz que Alverca está a tornar-se numa cidade inimiga do peão e lamenta que o executivo comunista da junta de freguesia não aplique as propostas que o Bloco apresenta.

A cidade de Alverca tem mudado ao longo das várias décadas e é hoje um conjunto de bairros sem vida própria porque os políticos não foram conseguindo tomar as melhores decisões para reverter esse cenário. A ideia é defendida por João Fernandes, eleito do Bloco de Esquerda (BE) na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira e líder da bancada do BE na Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho.
“Tira-me o sono Alverca ser cada vez menos uma cidade e mais um conjunto de ilhas e bairros sem vida própria, em que o carro é um imperativo para as pessoas se poderem deslocar. Isto angustia-me. Não nasci nesta Alverca. Brincava no jardim e ia às lojas da cidade, ia a pé para a escola sem medo e agora Alverca está a tornar-se numa cidade inimiga do peão”, defende a O MIRANTE. A vida na cidade tem-se agravado e isso deve ser rapidamente revertido.
“Éramos uma cidade com vida e algum comércio e esse espírito de viver a rua, ir à mercearia e padaria mais próxima, tem-se perdido. A câmara tem licenciado todas as grandes superfícies que querem vir para Alverca. E depois os mercados estão às moscas, em especial o do Choupal. Não temos uma praça central ou uma rua sem trânsito onde as pessoas se sintam bem a conviver na rua”, critica.
João Fernandes diz que o anterior presidente da junta, Afonso Costa (PS), era um homem fechado em si mesmo e sem disponibilidade para receber contributos da comunidade. O sucessor no cargo, Carlos Gonçalves (CDU), tem feito melhor mas ainda longe do que poderia realmente ser melhorado na cidade. O BE tem apresentado em assembleia de freguesia dezenas de propostas que, apesar de serem votadas por unanimidade, nunca vêem a luz do dia. “Praticamente nenhuma das nossas propostas, e são muitas, foi colocada em prática pelos dois executivos”, lamenta.

Novos rostos no horizonte
João Fernandes começou a envolver-se na política a partir dos 18 anos inspirado por uma professora da escola secundária. Confessa sentir uma dívida de gratidão ao PCP pelo papel que este teve na luta pela liberdade mas acabou por escolher o Bloco de Esquerda para militar. Faz parte de um conjunto de jovens rostos que chegaram à política local nos últimos anos e que têm feito frente com unhas e dentes aos argumentos já gastos dos políticos mais velhos, como o caso de Joana Bonita (CDU), Luís Monteiro Carvalho (PS) ou David Ferreira (PSD).
“Quando a principal bancada da oposição na assembleia municipal tem como líder uma jovem rapariga vejo que há algo a acontecer e isso é muito bom. Estamos num território que tem mudado muito e cada geração tem visto um território diferente. Não é a mesma coisa uma geração que cresceu com Alverca a ser uma grande vila industrial conseguir ver as coisas da mesma forma que a minha, que sempre trabalhei fora de Alverca. É preciso olhar este concelho com diferentes sensibilidades”, defende.
João admite que a participação dos jovens na política e no movimento associativo ainda é muito baixa e que é inconcebível que não haja mais jovens nos cargos de decisão. É urgente mudar esse paradigma. “Quando nos recusamos a ir a jogo nunca podemos ganhar. Custa-me que muitos jovens sintam que a política não os representa e que não há ninguém do lado deles. Isso é falso. Mas nasce de uma crise de credibilidade das instituições”, nota.

Um investigador que se foca nas soluções

João Fernandes, 29 anos, nasceu em Vila Franca de Xira mas vive em Alverca. A única excepção foi durante um programa Erasmus quando esteve nove meses a viver em Espanha. “Viajar é uma experiência que faz falta a qualquer jovem para se conhecer melhor e tomar melhores decisões”, defende.
Trabalha como investigador de projectos multidisciplinares de ciências sociais na Universidade Nova de Lisboa, onde se formou em Ciência Política e Relações Internacionais. Fez um mestrado em Política urbana. O seu interesse pela política nasceu na escola secundária. Não se considera uma pessoa negativa e prefere focar-se na solução em vez de no problema. Quando há uma injustiça quer vê-la resolvida. “Sou um inconformado positivo”, admite com um sorriso. É benfiquista mas não liga muito a futebol. A sua viagem de sonho é ao Egipto. Tira-o do sério quando lhe dizem que ainda é jovem demais para ter opiniões próprias e que elas vão mudar com o tempo.

“O MIRANTE é importante”

João Fernandes é um leitor atento de O MIRANTE embora confesse que só lhe interessam as notícias que dizem respeito ao concelho de Vila Franca de Xira. “É um jornal que tem um papel extremamente importante porque cobre uma região grande e é importante que esse papel não morra e não perca força, porque as regiões e as comunidades locais precisam destes veículos de informação”, elogia. O autarca lembra que não é a mesma coisa ver os problemas de Vila Franca de Xira reflectidos num noticiário nacional só quando alguma coisa corre mal, quando existe uma imprensa local que todos os dias está em cima das histórias que marcam a vida da comunidade. “As pessoas conhecem a importância do jornal e chamam-no quando algo acontece”, reconhece.

“Alverca é cada vez menos uma cidade e mais um conjunto de bairros sem vida própria”

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