Plataforma Logística de Azambuja é lugar de contágio da Covid-19
O balanço de casos de Covid-19 chega aos 255 na plataforma logística de Azambuja, onde há 230 empresas que empregam 8.500 pessoas. O foco mais recente é na Sonae MC, onde o vírus já infectou mais de uma centena de trabalhadores.
A pandemia de Covid-19 continua a espalhar-se na plataforma logística de Azambuja que é neste momento o centro das atenções na região de Lisboa e Vale do Tejo. O mais recente foco aconteceu na Sonae MC, empresa de distribuição do Grupo Sonae, onde o vírus infectou 121 trabalhadores. Antes, já faziam parte da lista a Avipronto, com 129 e a Selvesen e Torrestir com dois casos cada.
Às portas desta gigante da distribuição, o cenário mostra a nova realidade de um final de dia de trabalho. Máscaras e viseiras nos rostos, funcionários espaçados e em fila à espera de entrar para os autocarros requisitados pela Sonae. O objectivo é claro: evitar aglomerações nos transportes públicos e, em simultâneo, prevenir o contágio.
Na berma da Estrada-Nacional 3 observa-se o habitual movimento de entrada nos carros estacionados, por haver quem continue a deslocar-se por meios próprios. É aí que está Erisvaldo Santos a preparar-se para abrir a porta do carro para seguir viagem até à Vala do Carregado, no concelho vizinho de Vila Franca de Xira, onde mora. É brasileiro, está há dois anos em Portugal e trabalha no entreposto da Sonae, em Azambuja.
Esta semana fizeram-lhe o teste ao novo coronavírus, mas ainda não sabe o resultado. Continua a trabalhar e os cuidados que tem, refere, dão-lhe esperanças de testar negativo. “Pela segurança e cuidados que tenho sinto-me bem e sem medo, mas este vírus não vai acabar agora, um dia pode ser que me apanhe”, diz.
A Sonae MC manteve-se a laborar 24 horas por dia, reforçando, após o primeiro caso positivo, as medidas de combate ao vírus. Até terça-feira, 26 de Maio, todos os trabalhadores da Sonae MC foram testados, dentro de um dos edifícios à entrada do entreposto.
Desde o início da pandemia a empresa diz ter em marcha um plano de contingência que foi reforçado na unidade de Azambuja após o aparecimento dos primeiros casos de Covid-19. Erisvaldo Santos fala da nova rotina antes e durante o trabalho, desde a medição da temperatura à entrada, distribuição de gel desinfectante e máscaras e viseiras trocadas várias vezes ao dia. Nas pausas, momentos em que pode haver menos controlo do distanciamento social, o funcionário diz que os turnos desfasados e as tendas montadas para os fumadores têm ajudado a manter as pessoas afastadas.
Todas estas medidas ainda são novidade para Maria Vasconcelos no seu primeiro dia de trabalho e algumas, confessa, ainda não as conhece nem viu em prática. Picou o ponto às 08h30 de segunda-feira, 25 de Maio, depois de lhe medirem a temperatura e lhe ser entregue um panfleto informativo sobre a Covid-19. Estranhou, no entanto, que não lhe tenham entregue máscaras ou desinfectante. “Posso estar infectada e ninguém sabe. Acho que está muita gente no local de trabalho e todos muito em cima uns dos outros. Estou assustada, porque mesmo que não queiramos temos de estar em contacto”, conta, acrescentando que o refeitório foi a divisão onde se sentiu mais segura porque “aí há espaço”.
Maria tem 50 anos, mora em Alenquer e nunca imaginou começar um novo trabalho numa empresa atacada pelo vírus da actualidade. “Vim porque preciso de trabalhar. Sou viúva e tenho contas para pagar”, explica, receosa por si e pelo filho que também ali trabalha.
Sonae afasta hipótese de contágio nas suas instalações
A Sonae MC emprega cerca de 800 pessoas, muitas delas de origem e asiática e utilizadoras dos transportes públicos, facto que leva a empresa a afastar a hipótese de o surto ter tido origem naquela unidade. Em comunicado e reforçando as declarações do delegado de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Mário Durval, a empresa sublinha que “existem trabalhadores que se contagiaram no seu local de origem” e que “pela essência do trabalho, não há qualquer risco de contágio entre os trabalhadores, nem nas áreas sociais da empresa, dado o plano de contingência já implementado há meses”.
Nesta plataforma logística, onde estão sediadas cerca de 230 empresas, trabalham 8.500 pessoas. A maioria reside fora do concelho de Azambuja estando, por isso, descartada a possibilidade de um cerco sanitário, tal como referiu a ministra da Saúde, Marta Temido, em conferência de imprensa. Também por esse motivo “os inquéritos epidemiológicos são verdadeiras investigações quase policiais para determinar o percurso de um determinado indivíduo”, explicou a directora-geral da saúde, Graça Freitas, frisando que o trabalho para rastrear contactos comunitários está a ser feito junto das empresas, autoridades locais, autoridades de saúde e, muitas vezes nas zonas de residência.
Ministério Público investiga Avipronto
Na Avipronto, onde 129 dos 300 trabalhadores testaram positivo ao coronavírus põe-se em causa a rápida acção da empresa para informar as autoridades de saúde no início do surto. Motivo que levou o Ministério Público a investigar a empresa por alegada omissão de casos. A empresa de produção, abate e comercialização de aves recorde-se, chegou a estar encerrada e já retomou actividade com 30 colaboradores cujo teste deu negativo.