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Lutar contra um cancro ensina-nos que a vida tem de ser leve
Álvaro Costa sonhava, em criança, em ser forcado

Lutar contra um cancro ensina-nos que a vida tem de ser leve

Álvaro Costa, 56 anos, é presidente da Associação de Pessoal da OGMA (APOGMA). É filho de pais alentejanos, nascido em Alverca do Ribatejo. Faz manutenção de aeronaves na OGMA, onde trabalha há 39 anos. Há dois viveu o seu maior desafio: lutar e vencer um cancro na próstata.

Encaro os problemas de caras e gosto de acreditar que todos têm solução. Costumam dizer que sou frio como um cubo de gelo, porque não me lamento do mal que me acontece. Há dois anos fui diagnosticado com cancro na próstata. Na mesma altura divorciei-me e o meu pai faleceu. Foi a fase mais dura da minha vida. Lutar contra um cancro ensina-nos que a vida tem de ser leve. Hoje vivo-a com calma, sem pressas.
Quando se tem um cancro e nos pedem oito mil euros para o tirarmos, percebemos que vivemos num mundo cão. Quem não tem dinheiro para pagar uma operação no privado fica para trás. Resta-lhe enfrentar as listas de espera do Sistema Nacional de Saúde.
Alverca conquistou o progresso, mas perdeu parte da sua identidade. Costumo dizer que nasci numa aldeia, cresci numa vila e moro numa cidade. Em criança sonhava ser forcado. Lembro-me de pensar que tinham de ser homens de muita coragem para meter o corpo à frente de um toiro. Acabei por nunca tentar por medo, mas continuo a gostar de ver uma boa pega.
Arrependo-me de não ter arriscado mais na vida. Segui demasiado à letra o conselho do meu pai que me dizia que mais valia ganhar pouco e ser certinho do que arriscar outros voos. Hoje olho para o meu percurso e percebo que fui pouco ambicioso.
Sou funcionário da OGMA- Indústria Aeronáutica de Portugal há 39 anos. A minha ligação à empresa é umbilical. Quase toda a minha família veio do Alentejo para ali trabalhar. Acabei por seguir-lhes as pisadas. Fui mecânico de estruturas, estive na secção de assessórios de motor e agora faço manutenção de aeronaves militares.
Não entendo aquelas pessoas que estão deitadas a ouvir o despertador tocar vezes sem conta. O meu só toca uma vez, todos os dias às 05h20 da manhã. Nunca saio de casa atrasado nem sem tomar café. À mesa sou daqueles que escolhe sempre o prato mais português da ementa. Perco-me num cozido à portuguesa e numa carne de porco à alentejana. O meu paladar é tão fiel à cozinha portuguesa que se recusa a experimentar outras.
Sou presidente da APOGMA há seis anos e há 13 que pertenço à direcção. A experiência diz-me que há cada vez menos interesse pelo associativismo porque dá trabalho. São poucos os que estão dispostos a fazê-lo e muitos os que gostam de criticar. É como na política com os que não votam nas eleições e depois andam a protestar.
As associações têm de se saber reinventar para que possam servir a comunidade. Foi o que a APOGMA fez. Inicialmente era restrita aos funcionários e há dois anos alteramos os estatutos e abrimo-los à população. Apostámos mais no desporto, como BTT, atletismo e pesca desportiva e nos eventos com música ao vivo.
Fui jogador de hóquei patins no Alverca e no Benfica. Com 12 anos ia de comboio para Lisboa depois das aulas e só chegava a casa à 01h00 da manhã. A primeira vez que joguei foi na rua com um stick de madeira e uma bola de matraquilhos.
Sou um pai que respeita as escolhas do filho. Quando me disse que ia emigrar foi difícil lidar com a ideia de vivermos longe, mas apoiei-o. Há viagens que quero fazer antes dos 60. Visitar o meu filho em Londres e conhecer a cidade é uma delas. Ir ao México e experimentar viver a sua cultura é outro sonho que quero concretizar.
Dosear a quantidade de perfume que meto é um grande problema. Como não tenho olfacto, às vezes meto tanta quantidade que as pessoas não podem chegar perto de mim.

Lutar contra um cancro ensina-nos que a vida tem de ser leve

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