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Nudismo nas praias fluviais está fora de questão
Fátima Galhardo, Hélder Esménio, Inês Barroso, João Gomes, Luís Albuquerque e Hugo Cristóvão

Nudismo nas praias fluviais está fora de questão

No início do século passado o naturismo era praticado maioritariamente nas praias fluviais do interior. Hoje a prática mudou-se para as praias atlânticas e às autarquias locais nunca chegou pedido para criação ou reserva de um espaço próprio para a prática de nudismo.

São várias as praias nacionais onde se pode praticar nudismo, mas ao contrário do que acontecia nos anos 20 do século passado, nenhuma delas é fluvial. Intrigada, a redacção de O MIRANTE contactou autarcas de vários municípios da região, com praias fluviais ou espaços aprazíveis junto aos rios, para perceber porquê. Nenhuma das autarquias com quem conversámos recebeu pedidos de particulares ou de associações naturistas para a criação ou reserva de um espaço próprio para a prática de nudismo no seu território.
A questão apanhou de surpresa Fátima Galhardo, vice-presidente da Câmara de Coruche. Segundo a autarca, Coruche tem duas áreas de interesse local com planos de água, os açudes, mas não têm condições para uso balnear. A única praia viável fica em frente à vila e é um espaço muito exposto que “não seria muito aconselhado”.
A exposição é também o motivo apresentado por Luís Albuquerque, presidente da Câmara de Ourém, para não haver nenhum espaço naturista na praia do Agroal. O autarca refere que, independentemente do município ser ou não favorável ao naturismo, não há condições para que essa situação seja contemplada num local “conhecido e usufruído por todos”.
Na Praia Doce, em Salvaterra de Magos, conhecida em tempos como a praia dos tesos, não existe espaço próprio para naturistas. Hélder Esménio, presidente do município, refere que o espaço é pequeno e que não faria qualquer sentido segregar dois tipos de banhistas numa praia familiar.
Opinião partilhada por João Gomes, vice-presidente da Câmara de Abrantes. Segundo o autarca, os naturistas normalmente procuram zonas mais resguardadas e o que se assiste nas praias fluviais do concelho é uma procura cada vez maior. “Este ano até temos constrangimentos acrescidos devido à Covid e à limitação de pessoas por praia. Parecia-me difícil estarmos a dividir um espaço para criar uma zona reservada para essa prática”, refere, acrescentando, no entanto, que haverá outros sítios na albufeira do Castelo de Bode que reuniriam essas condições.
Hugo Cristóvão, vice-presidente da Câmara de Tomar, município que partilha a albufeira de Castelo do Bode com Abrantes, também fala da possibilidade de equacionar um espaço naturista nessa região. “No Nabão é mais difícil”, considera o autarca confessando que “como bom nabantino” nos seus tempos de juventude tomava muitas vezes banho nu nas águas frias do Nabão.
Para Inês Barroso, vice-presidente da Câmara de Santarém, mais importante seria criar uma zona balnear que não existe no município. “Há assuntos mais urgentes aos quais temos que dar resposta. Não digo que não o façamos, se houver realmente o interesse da população, ou se fosse um factor diferenciador para aumentar o turismo na nossa região”, remata a autarca que nunca praticou nudismo, mas que, tal como os restantes, não fica chocada com a sua prática desde que seja feita de forma natural sem ostentação ou exibicionismo.

Filosofia de vida ou atentado ao pudor

Poder usufruir de espaços públicos como praias ou piscinas como se veio ao mundo ou ‘de rabo ao léu’ é uma filosofia de vida que responde pelo nome de naturismo. O naturismo nasceu na Alemanha, no final do século XIX, em defesa da harmonia com a natureza, de uma alimentação natural e da nudez. Em Portugal, a Federação Portuguesa de Naturismo promove a prática da nudez social desde 1977, mas o primeiro registo histórico da prática do naturismo em terras lusas aconteceu bem antes, em 1920, associado à Sociedade Naturista Portuguesa. De acordo com registos históricos, nessa altura praticava-se a nudez em algumas praias fluviais do interior (sem estruturas de apoio) e nas praias da Costa da Caparica. Com o Estado Novo a nudez pública foi proibida e associada ao crime de “atentado ao pudor”, só voltando a ser permitida após o 25 de Abril de 1974.

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