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Quando ser alérgico ao trabalho é uma expressão para levar à letra
Amílcar Rodrigues é alérgico à lagarta do pinheiro e já teve várias crises

Quando ser alérgico ao trabalho é uma expressão para levar à letra

O efeito tóxico do contacto com a lagarta do pinheiro pode levar ao inchaço, irritação e, por vezes, dificuldades respiratórias. A gravidade da reacção alérgica depende da intensidade da exposição, mas sobretudo da sensibilidade de cada um. O MIRANTE foi conhecer o caso caricato de Amílcar Rodrigues, o explorador florestal verdadeiramente alérgico ao trabalho.

Ser alérgico ao trabalho é uma expressão muito usada para designar aqueles que gostam pouco de trabalhar ou que são mais dados à preguiça, mas no caso de Amílcar Rodrigues ser alérgico ao trabalho é uma expressão para levar à letra. Amílcar, de 40 anos, é explorador florestal na Parreira, Chamusca, onde reside, e sofre de alergia à lagarta do pinheiro. Basta entrar num pinhal para perceber que o seu corpo reage.
“Nem preciso de ver qual o pinheiro que tem ninhos de lagarta. Vem-me logo um gosto esquisito à boca, como se tivesse comido um dióspiro ainda verde. Tenho que sair dali o mais rápido possível”, diz. Outra reacção que já conhece bem são as vesículas que surgem de imediato onde a pele é mais sensível, como em redor dos olhos e da boca e à volta dos mamilos.
Amílcar deu continuidade ao negócio de família, em 2007, e desde então foram vários os episódios de alergia à lagarta do pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff), também conhecida como processionária, um insecto desfolhador dos pinheiros e cedros. O seu nome deriva do facto de se deslocar em fila, formando longas procissões de lagartas quando passam das árvores para o solo, para se enterrarem e crisalidar (passar de lagarta a borboleta).
A crise mais forte aconteceu há dez anos. Andava a tirar madeira com um tractor na localidade de Vale Flores, a cerca de cinco quilómetros da Parreira, quando começou a sentir-se mal. Como não tinha consigo ninguém com carta de condução, a quem pudesse passar o trabalho, aguentou o máximo que pôde até perceber que se ali continuasse talvez não sobrevivesse. As vias respiratórias estavam a inchar e a dificultar-lhe a entrada de ar nos pulmões. A meio do percurso pensou mesmo que não conseguiria chegar ao centro de saúde. Mas chegou a tempo do médico lhe receitar uma injecção que foi tomar de imediato na farmácia.
A anafilaxia é uma das reacções alérgicas comuns associada à lagarta do pinheiro, provoca inflamação da garganta ou da língua e pode ser letal. As manchas e a urticária demoraram mais tempo a passar, mas eram menos preocupantes para Amílcar.
Dois anos depois o explorador florestal experimentou uma nova crise, menos aflitiva porque conseguia respirar, mas que lhe deformou o rosto de tal forma que nem a sogra o reconheceu quando lhe pediu ajuda. “Estava a seleccionar as árvores a abater num pinhal de pinheiro manso. Era uma árvore defeituosa e tinha que ser cortada. Quando me aproximei vi logo que tinha ninhos de lagarta”, conta.
Quando acontecem as crises Amílcar já sabe que tem que se afastar. É o primeiro passo. De acordo com o Centro de Informação Antivenenos, do Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal (INEM), o tratamento depende da intensidade dos sintomas e normalmente inclui lavar a pele ou os olhos com água corrente, remover os pelos urticantes que possam ter ficado na pele, mudar de roupa e lavá-la a altas temperaturas, aplicar no local da reacção alérgica uma pomada à base de corticóides e tomar um anti-histamínico.
São passos que também já conhece, mas que se têm tornado cada vez mais escassos porque o nemátodo, doença do pinheiro que tem afectado os pinhais de norte a sul do país, tem feito reduzir drasticamente o número de árvores. A área de actuação de Amílcar e da sua equipa está agora mais centrada no corte de eucalipto e sobreiro seco. “De vez em quando há um pinheiro que surge no meio do eucaliptal, mas agora desvio-me e sempre que posso passo o trabalho aos funcionários”, diz o empresário.
Embora grande parte das alergias possam ser hereditárias, e passar de pais para filhos, Amílcar parece ser caso único na família, pois não herdou a condição dos pais, nem a transmitiu aos dois filhos, de 11 e 5 anos.

Alergia é uma das doenças crónicas mais frequentes

O Dia Mundial da Alergia assinala-se a 8 de Julho, data escolhida pela Organização Mundial da Saúde para alertar sobre a importância do tratamento das alergias, doença crónica que, em certos casos, pode até provocar a morte. Rinite, conjuntivite, asma, eczema, urticária e anafilaxia são as alergias mais comuns entre os portugueses.
Actualmente um em cada três portugueses tem pelo menos uma destas doenças alérgicas, constando a alergia do top cinco das doenças crónicas mais frequentes em qualquer idade. As alergias resultam da interacção entre os genes de cada um e o ambiente, havendo por isso maior probabilidade de os filhos de pais alérgicos virem a sofrer da mesma patologia. Nos casos em que ambos os progenitores são alérgicos o risco aumenta até 80%. Mas além da genética há ainda a considerar os factores ambientais como a poluição, a exposição ao fumo de tabaco, o passar mais tempo dentro de casa, o uso excessivo de medicamentos antibióticos e as alterações na dieta.

Quando ser alérgico ao trabalho é uma expressão para levar à letra

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