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“Este bairrismo entre Samora Correia e Benavente tem de acabar”
Florbela Parracho dizse disponível para ser candidata à Câmara de Benavente em 2021

“Este bairrismo entre Samora Correia e Benavente tem de acabar”

Entrou na política aos 40 anos, num concelho que diz estar parado no tempo por uma gestão demasiado poupadinha. Florbela Parracho é vereadora do PS na Câmara de Benavente e nesta entrevista deixa cair o filtro do politicamente correcto para falar do ambiente azedo que se vive na concelhia socialista e dos excessos do seu camarada de vereação.

Florbela Parracho ajudou o PS a ter um dos melhores resultados de sempre no concelho de Benavente nas últimas eleições autárquicas, mas diz-se desapontada com o rumo que o partido tomou. É o seu primeiro mandato como vereadora, ao lado de um camarada de bancada com o qual não se identifica na forma de fazer política. Na conversa, que decorreu no Parque Ribeirinho de Samora Correia, por ser “o único local aprazível” na cidade onde sempre viveu, falou do pai que foi inspiração para a sua entrada na política, das guerrilhas internas de um PS partido em cacos, dos problemas do concelho e da gestão CDU que diz sofrer de um medo desmedido de endividamento que tem atrasado o desenvolvimento do concelho.

O que a levou a entrar na política aos 40 anos?

Quando cheguei à faixa dos 40 com um filho pequeno e olhei para este concelho, sem lhe ver nenhuma mudança, quis fazê-la acontecer. Sou socialista desde que nasci, filha de um socialista que sempre lutou por este concelho e embora lhe tenha dito muitas vezes que nunca me ia meter nisto aqui estou eu sem saber qual será o meu futuro, mas com vontade de fazer mais.

Foi acusada de ser imatura e politicamente inexperiente pelo seu próprio colega de bancada. Já puseram uma pedra sobre o assunto e voltaram a trabalhar juntos ou ainda é cada um por si?

Aprendemos a lidar um com o outro e tentamos trabalhar em conjunto. Temos formas diferentes de fazer política. Para mim a política é um exercício sério e quando falo tenho de ter certezas. O Pedro Pereira não, tudo o que ouve dizer repete e perde muito com isso.

Continua então a não se identificar com a forma de fazer política do seu colega de bancada?

O Pedro muitas vezes tem razão no que diz, mas pela forma como o diz perde-a e eu não me identifico quando faz as suas abordagens expansivas.

Faltam mais mulheres na política?

O número conta mas não é tudo. Faltam mais mulheres, mas sobretudo mais mulheres activas. Ainda há preconceito e medo de se imporem e mostrar o que valem.

E à gestão CDU, o que lhe falta?

Falta-lhe planeamento para o futuro. Aproveitam fundos para reabilitação, mas há muitos que estão a deixar escapar. Este executivo tem um grande receio de endividamento, faz uma gestão a medo e, em consequência disso, não aparece obra que faça a diferença e ajude a desenvolver o concelho.

Mas a câmara municipal tem aproveitado fundos, por exemplo, para fazer ciclovias em Samora Correia e Benavente e já antes na Barrosa.

Ciclovias que para pouco ou nada servem. Na Barrosa fizeram-se 500 metros de ciclovia que não fazem qualquer sentido e em Samora Correia menos sentido fazem, porque não estão a ligar a cidade a Benavente ou a uma zona industrial, por exemplo. São ciclovias de mobilidade e deviam ser de lazer, junto ao rio, ligando Samora a Benavente. Mas como este há outros projectos de reabilitação com os quais não concordo.

Por exemplo?

As piscinas que estão projectadas para Samora Correia e Benavente, a que prefiro chamar de tanques pelas suas dimensões. Para servir a população teria de ser feito um complexo maior.

E fazer apenas uma obra em vez de duas?

Claro. Não é por se fazer uma obra numa freguesia que tem de se fazer igual na outra. É uma filosofia sem sentido desta câmara. Este bairrismo entre Samora Correia e Benavente tem de acabar porque não nos leva a lado nenhum. Quando estudava em Benavente brincava com isto, agora percebo que é bastante real e que está muito presente na população.

“As pessoas têm de exigir mais dos seus autarcas”

O PS conseguiu o melhor resultado de sempre nas últimas autárquicas, mas ficou longe de bater a CDU que governa o município de Benavente há mais de quatro décadas. É frustrante ser-se candidato numa terra onde ganham sempre os mesmos?

Não. O que acho é que as pessoas se habituaram a votar sempre nos mesmos, até porque não deixa de ser estranho que o PS neste concelho ganhe as eleições europeias e legislativas e perca as autárquicas. O PS tem agitado algumas mentalidades e despertado a população, lembrando-a que pode exigir mais para o concelho.

Mas não chega...

Não. Falta mudar mentalidades. As pessoas têm de exigir mais dos seus autarcas, ficam satisfeitas com pouco.

E ao PS o que lhe falta?

União. Em todas as eleições apresentamos um novo candidato e isso não é de todo a melhor estratégia. Essa instabilidade tem prejudicado o partido.

Estaria disponível para ser a nova candidata em 2021?

Mostrei essa disponibilidade e se for essa a vontade do meu partido estarei cá para lutar pelo meu concelho. Mas não com um PS partido em cacos. Tenho de lhe pôr alguns pensos rápidos primeiro, que não estão a ser postos por quem o lidera actualmente.

Chegou a anunciar que tinha intenção de se candidatar a presidente da concelhia do Partido Socialista. O que a fez desistir?

Precisamente por haver muitas facções dentro do PS. Recuei a pensar que estava a tomar a atitude mais correcta e que o projecto apresentado iria unir o PS, mas afinal não. O que se tem visto são comunicados, confusões e guerras internas que não levam a lado nenhum.

A que se refere?

À confusão gerada com os Bombeiros Voluntários de Samora Correia. Se havia um problema com os vereadores do PS a concelhia devia ter-nos chamado para que tudo se resolvesse internamente.

Foi por isso que se demitiu do secretariado da concelhia?

Sim, demiti-me em sequência disso. Quiseram colar-me às intervenções do Pedro Pereira, esquecendo-se que temos muitas diferenças. Mas não me colem a todas as atitudes do Pedro, porque nem somos iguais nem pensamos da mesma forma.

Foi criticada publicamente na página de Facebook dos Bombeiros de Samora Correia por não ter demonstrado a sua solidariedade. Já telefonou ao comandante Miguel Cardia?

Não é por mencionar o meu nome em comunicados a agradecer por não lhe ter telefonado que o vou fazer. Não ando na política para parecer bonito nem vou para as redes sociais fazê-la. Sabia o que se passava com os bombeiros na altura do surto por isso não telefonei.

Os problemas de insegurança no concelho têm estado na ordem do dia nas ruas e na política. Está a caminhar-se no sentido certo?

A câmara tem de ser mais activa. Propus a criação da polícia municipal e foi rejeitada quando temos população para isso. Agora se representaria mais despesa e responsabilidade para o município, claro que sim, mas também lhe dava a segurança que precisa.

Temos visto cidadãos com máscaras do Chega nessas contestações populares por causa do clima de insegurança. Isso preocupa-a?

Preocupa-me e muito. É a liberdade conquistada em risco de se perder. Esses partidos de extrema-direita apelam ao populismo e aproveitam-se de pequenos focos problemáticos como este.

Trabalha e faz política na mesma câmara municipal

Florbela Parracho nasceu a 12 de Agosto de 1975. Cresceu a brincar nas ruas de Samora Correia com a irmã mais nova. Em casa encontrava sempre a mãe, o seu pilar, e na rua o pai, que se enredou cedo nas malhas da política e do associativismo. Na juventude sentiu essa ausência e, por isso, sempre disse que não lhe ia seguir as pisadas. Um filho, agora com cinco anos trocou-lhe as voltas. Foi o motor para entrar a fundo na política e estrear-se como número dois na corrida às autárquicas de 2017. Está em processo de divórcio e sobre esse tema não se alonga.
É arquitecta na divisão de obras particulares da Câmara de Benavente, onde se se sente profissionalmente preenchida. O segredo, diz, está em fazer o que se gosta e em se saber “separar as águas”, ou seja, não misturar trabalho com política. Antes, trabalhou como desenhadora por conta própria para conseguir pagar os estudos.
Dizem-lhe que tem cara de arrogante e admite-o. Confessa que funciona como uma espécie de máscara que só tira depois de saber que quem vem, vem por bem. Gosta da maneira simples de vestir, “pouco feminina”, e detesta ter de ir a outros concelhos fazer compras porque no seu “o comércio está morto”.

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