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Renova interdita acesso à nascente do Almonda e CDU fala em decisão aberrante
Turbinas da fábrica da Renova na nascente do Almonda constituem um perigo para quem procura tomar banho no rio

Renova interdita acesso à nascente do Almonda e CDU fala em decisão aberrante

Câmara de Torres Novas, GNR e alguns populares consideram que a atitude da Renova foi sensata, pois o local apresenta alguns riscos. Concelhia da CDU critica empresa.

A maior afluência de pessoas ao espaço da nascente do rio Almonda, localizada em terreno privado, pertencente à empresa Renova, na localidade de Casais Martanes, no concelho de Torres Novas, fez com que a administração da empresa chamasse, em meados de Julho, a Guarda Nacional Republicana (GNR) durante um fim-de-semana para retirar as pessoas que ali se encontravam.
Entretanto a empresa interditou o acesso ao espaço fechando os portões a cadeado e colocando painéis informativos com sinais de perigo e proibição de entrada. Esta atitude não é de agora, dado que a empresa por várias vezes já interditou o espaço, mas as pessoas acabam por destruir o cadeado e entrar. Desta vez a concelhia da CDU de Torres Novas tomou uma posição política criticando a atitude da administração da Renova. Os comunistas defendem que apesar de a “generalidade dos terrenos serem propriedade privada”, a nascente do rio Almonda “é do domínio público”, que deve poder ser desfrutado por quem o deseja.
A empresa justifica a interdição ao espaço com a preocupação com a segurança das pessoas. O responsável pelo gabinete de relações públicas da Renova, Luís Saramago, disse a O MIRANTE que durante o mês de Julho houve uma afluência maior do que o normal e que o espaço é “muito perigoso” para as pessoas irem a banhos como estava a acontecer. “Há zonas com muitos fundões, temos as turbinas a sugar água para abastecer a empresa e há locais onde se escorrega com muita facilidade”, aponta.
A CDU, apesar de admitir a perigosidade do espaço, apelida a interdição como uma atitude “aberrante” por parte da empresa. A Câmara de Torres Novas não ficou isenta de críticas com os comunistas a acusarem o executivo, liderado por Pedro Ferreira (PS), de não assumirem as suas responsabilidades. Para a CDU, a câmara “tem que assumir a liderança de um projecto de requalificação do espaço”.
O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, disse a O MIRANTE que a interdição do espaço é uma atitude sensata. “É certo que a nascente é de todos, mas está em terrenos privados. Se algum acidente ali acontece a empresa pode ser chamada a responder por isso. É legítimo que o tenham fechado”, apontou o autarca.
Opinião que o advogado e ex-vereador da CDU na Câmara de Torres Novas, Carlos Tomé, corrobora. Apesar de assinar por baixo a posição política do seu partido, a verdade é que, como advogado, admite que “muito possivelmente” se acontecesse um acidente a Renova seria responsabilizada juridicamente. Carlos Tomé defende que o espaço deve ser intervencionado “com urgência” para não se degradar ainda mais e ser aberto a visitação.

População de Pedrógão ainda se lembra de acidente mortal
O MIRANTE visitou o espaço cujos acessos se encontram iguais desde há anos. Só quem conhece o local sabe onde fica, caso contrário só usando o GPS, dado que continua a não existir nenhuma indicação no caminho. O acesso é feito por uma pequena estrada de terra batida nas traseiras da fábrica 1 da Renova. Chegando ao local deparamo-nos com casas antigas abandonadas e um ruído ensurdecedor proveniente da maquinaria da fábrica de papel a trabalhar.
O lixo existente no chão, como pacotes de batatas fritas, garrafas e garrafões de água, são exemplo do descuido de quem por ali passou e também da falta de limpeza. Os portões que permitem o acesso às águas da nascente estão fechados a cadeado e existem painéis, colocados recentemente pela empresa, que informam da perigosidade do local nomeadamente o risco de afogamento.
Durante o tempo da nossa visita ao espaço não surgiu nenhum visitante. O MIRANTE observou a existência de vegetação nos muros que pode ser escorregadia. A água cristalina deixa transparecer a grande profundidade dos tanques. A turbina que suga a água que abastece esta fábrica da Renova é bem visível.
O espaço era em tempos usado pelas mulheres para lavar roupa e era o local predilecto das crianças da aldeia de Casais Martanes para darem uns mergulhos. Ainda assim os mais velhos sublinham a perigosidade do espaço e não esquecem a morte por afogamento de um homem, há cerca de 40 anos. “Ele estava à pesca, escorregou e não sabia nadar. A turbina começou a sugá-lo e tiraram o homem já sem vida”, recordou à nossa reportagem Rafael Felicíssimo, residente em Pedrógão e ex-funcionário da Renova, onde trabalhou durante 22 anos.
Poucos foram os que quiseram dar a cara para falar à reportagem de O MIRANTE dado que a Renova emprega grande parte da população. No entanto, praticamente todos defendem a posição tomada pela empresa. “A maioria de quem procura a nascente são jovens que vão para ali dar mergulhos. Este ano há muito mais gente por causa da pandemia. Procuram estes lugares mas o espaço é muito pequeno e qualquer dia acontece ali outra tragédia”, diz Vítor Santos, proprietário do Café Gonçalo, o único existente perto da Nascente do Almonda.

Câmara teve projectos para a nascente do Almonda

Numa reunião de câmara descentralizada na Zibreira em 2016 a câmara apresentou projectos de requalificação da nascente. Renova diz desconhecer.

A última vez que a câmara falou sobre a existência de um projecto para tornar o local mais aprazível foi em 2016. Na altura, o presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, referia que não havia obras agendadas mas levou para uma reunião de câmara descentralizada, na freguesia de Zibreira, dois projectos de requalificação da nascente do Almonda que nunca avançaram e que a Renova diz desconhecer. Um assunto que trataremos na próxima edição.

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